Título: Até 2016, 400 empresas prevêem aplicar R$ 421 bi
Autor: Landim, Raquel
Fonte: Valor Econômico, 06/10/2006, Brasil, p. A6

Os setores de petróleo e derivados, mineração e siderurgia, transporte e logística, e energia elétrica devem concentrar 80% dos investimentos dos próximo anos. De janeiro a setembro desse ano, cerca de 400 empresas anunciaram que planejam investir R$ 420,9 bilhões no Brasil até 2016, revela levantamento do departamento econômico do Bradesco baseado em notícias publicadas pela imprensa.

Os investimentos em petróleo somam R$ 232 bilhões e representam mais de 55% do total. Separado do líder por uma distância considerável, aparece o setor de mineração e siderurgia, com R$ 44,5 bilhões. Somados, os setores de transporte e logística, energia elétrica, telefonia e infra-estrutura, chegam a quase R$ 79 milhões de investimentos.

Setores exportadores ou prejudicados pela concorrência dos importados estão pessimistas. Na agroindústria, os anúncios de investimentos não chegam a R$ 1,4 bilhão. Em calçados e vestuários e móveis, também estão em magros R$ 1 bilhão.

A análise do número de empresas que anunciaram investimentos por setores econômicos revela um outro perfil. No comércio, 44 companhias anunciaram que pretendem investir nos próximos anos, seguidas por 37 empresas de transporte e logística. Destaque também para o setor de eletroeletrônicos e informática, com 27 empresas.

Para o diretor do departamento de pesquisa macroeconômica do Bradesco, Octavio de Barros, os analistas estão "subestimando" o nível de investimentos da economia brasileira. Ele afirma que os setores de serviços, infra-estrutura e bens de consumo duráveis estão investindo bastante, pois tiveram seu desempenho alavancado pelo crescimento do crédito e da massa salarial.

"Há um nível razoável de investimento privado na economia. É claro que poderia ser melhor se tivéssemos carga tributária e custos de capital menor", afirma o economista. Para Barros, o Brasil está atravessando uma fase de transição - de uma economia fechada para aberta, o que torna mais difícil avaliar o desempenho do país.

O professor de economia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Mariano Laplane, pondera que as notícias divulgadas pela imprensa sobre investimentos são um bom indicador do comportamento da economia, mas lembra que muitas vezes as empresas utilizam esse canal como estratégia de marketing e não chegam a concluir os investimentos que prometem.

Laplane diz que o aumento do crédito e do salário incentiva apenas setores como alimentos, bens de consumo não-duráveis e alguns duráveis, porque que o nível da renda familiar brasileira ainda é muito baixo. Segundo o professor, esse tipo de investimento é suficiente para a economia brasileira crescer entre 3% e 3,5%. "Só que nós precisamos crescer 6% por ano."

Para o país obter essa performance, Laplane avalia que é vital um forte investimento em infra-estrutura, seja público ou privado, para quebrar o ciclo vicioso que existe hoje no Brasil. "Precisamos de um efeito multiplicador", diz. Ele acredita que o Brasil está hoje preso em uma armadilha: a economia não deslancha por falta de investimentos, mas as empresas não se sentem seguras em investir em um país que não consegue obter um crescimento sustentável por um período superior a dois anos.