Título: Gol e TAM somam prejuízo de R$ 1,6 bi
Autor: Komatsu , Alberto
Fonte: Valor Econômico, 15/08/2012, Empresas, p. B5

O prejuízo combinado de R$ 1,6 bilhão das duas maiores companhias aéreas brasileiras, no segundo trimestre, é explicado por um conjunto de fatores, com grande peso da valorização do dólar em relação ao real. As perdas de R$ 928 milhões da TAM e de R$ 715 milhões da Gol também são consequência da alta do petróleo, do esforço delas para enxugar o excesso de capacidade e de uma política de preços que recebe críticas.

Especialistas também consideram que o problema de TAM e Gol é conjuntural, pois faz parte de um contexto global de desaceleração do setor aéreo.

A Gol, que ontem registrou a maior queda na bolsa, de 12,86%, revisou para baixo a maioria de suas projeções para 2012. A estimativa de margem operacional antes de juros e impostos (Ebit), de um cenário inicial entre 4% e 7%, muda para uma taxa negativa.

"Vemos um cenário para o segundo semestre pouco melhor do que o primeiro", disse o presidente-executivo da Gol, Paulo Kakinoff. Segundo ele, a companhia enfrentou, no segundo trimestre, "a combinação mais adversa" desde o início das operações da companhia, nem janeiro de 2001. "Nós tivemos no período a maior variação cambial, combinada com o recorde histórico na precificação do querosene de aviação e também com o aumento de tarifas aeroportuárias acima dos patamares da inflação. Isso colocou o setor todo sobre um nível de pressão de custos inédito", observou Kakinoff.

A Gol também revisou para baixo a sua estimativa de crescimento de demanda por viagens aéreas, em 2012, de uma faixa de oscilação entre 7% e 10% para uma variação de 6% a 9%. A oferta de assentos deverá ter redução entre 2% e 4,5%.

Para o especialista em aviação da Bain & Company, André Castellini, "as empresas brasileiras se caracterizam pelo excesso de capacidade, que não existe nos mercados chileno, argentino, peruano, colombiano ou equatoriano".

"A TAM e a Gol fizeram uma guerra de tarifas, em 2011, com o mercado de aviação crescendo. Jogaram tarifas para baixo para conquistar espaço. Contrataram muita gente para se diferenciar nos serviços", diz o chefe de análise da SLW Corretora, Pedro Galdi.

A Gol teve custos de rescisão contratual de 1,5 mil empregados entre R$ 20 milhões e R$ 25 milhões, no segundo trimestre, mas espera uma melhoria nos seus custos no segundo semestre por conta disso. Até o fim do ano, a companhia deverá acumular 2,5 mil desligamentos, entre demissões, corte de vagas e desligamentos voluntários. A Gol já reduziu 130 voos diários de sua malha aérea, durante o primeiro semestre, e não prevê novas reduções de voos ou de frota.

"A estrutura de capital da Gol está extremamente prejudicada, porque opera mais no mercado doméstico, o que afetou a relação entre dívida líquida e Ebitdar [lucro antes de juros, impostos, depreciação, amortização e arrendamento de aeronave]", diz o chefe de análise da SLW Corretora, Pedro Galdi. Lembra que a Gol encerrou o segundo trimestre com uma relação entre dívida líquida e Ebitdar de 10 vezes, ante 3,2 vezes do mesmo período de 2011.

"O modelo atual de negócios das empresas aéreas está falido", diz o professor de transporte aéreo da Escola Politécnica da USP, Respício Espirito Santo. Para ele, em todo o mundo as empresas aéreas têm de repensar a forma de ganhar dinheiro, com um novo sistema de precificação. "Os grandes concorrentes de TAM e Gol são as redes de varejo como Casas Bahia e Magazine Luiza, que disputam o que resta de poder de compra da classe C", diz Santo.

Mas há quem veja potencial para um quadro mais positivo. "Vemos uma melhoria nos resultados da Gol no terceiro e quarto trimestres, com as medidas administrativas e de redução de capacidade adotadas no primeiro semestre", afirma o analista de aviação do banco UBS, Victor Mizusaki.