Título: Denise Frossard recua e declara voto em Alckmin
Autor: Vilella, Janaina e Góes, Francisco
Fonte: Valor Econômico, 06/10/2006, Política, p. A13
Uma dia de depois de romper com o candidato do PSDB à Presidência, Geraldo Alckmin, e de anunciar que votaria nulo, a candidata do PPS ao governo do Estado do Rio, Denise Frossard, recuou e mudou o discurso. Ela reuniu-se ontem à tarde, no Rio, com o presidente nacional do PPS, Roberto Freire, e com o presidente regional do PFL, Rodrigo Maia, e saiu do encontro declarando voto em Alckmin. Mais do que isso, a candidata do PPS disse que recomendará o voto no tucano.
Em nota divulgada no início da noite, Roberto Freire afirma que Denise "foi esclarecida do que realmente ocorreu, compreendeu que era um equívoco propor o voto nulo e voltou a recomendar o voto em Geraldo, como fez no primeiro turno".
Denise disse ter a confirmação de que o ex-governador Anthony Garotinho e sua mulher, a governadora Rosinha Matheus, mais o candidato do PMDB ao governo do Estado, Sérgio Cabral, plantaram um golpe no candidato tucano à Presidência. Segundo Denise, Alckmin ligou para ela durante a reunião e relatou conversa que manteve com Tasso Jereissati, presidente nacional do PSDB.
Nesta conversa, Tasso teria dito que Garotinho ligou para ele oferecendo seu apoio a Alckmin. Depois, Garotinho teria ligado para Alckmin dizendo que queria ir a São Paulo para cumprimentar o tucano pessoalmente. Alckmin teria evitado o encontro, alegando falta de agenda, mas acabou cedendo.
Garotinho, que reuniu-se ontem com prefeitos e deputados na sede regional do PMDB, no centro do Rio, contou uma versão diferente. Disse que foi Michel Temer, presidente nacional do PMDB, que ligou para ele (Garotinho) perguntando se o ex-governador estaria disposto a apoiar Alckmin. Garotinho disse que precisava que alguém lhe pedisse apoio. "Dez minutos depois, Alckmin me ligou e perguntou se eu podia ir a São Paulo me encontrar com ele", relatou Garotinho.
Ele afirmou que vai fazer campanha para Alckmin em todo o Estado, procurando engajar prefeitos, deputados e militantes do PMDB na eleição do tucano. A coordenação da campanha de Alckmin no Rio continuará sob responsabilidade do deputado federal Wellington Moreira Franco. Sobre o apoio a Alckmin, Garotinho afirmou: "A nossa prioridade é a campanha de Sérgio Cabral (ao governo do Estado) e dar a Alckmin o maior número de votos possível no Estado. Entramos na campanha depois dele (Alckmin) ter sido mal votado no primeiro turno, no Rio de Janeiro. A média de Alckmin no Sudeste foi alta por causa de São Paulo e Minas. Os números de Alckmin no Rio são parecidos com a média dele no Nordeste, onde foi mal. O reforço que vamos dar é para encurtar a diferença (no Rio) para que, na soma do país, ele possa vencer a eleição. Eu vou trabalhar para ganhar", afirmou Garotinho.
Roberto Freire disse que o palanque de Alckmin no Estado é também o de Denise. "Garotinho não vai subir no palanque de Alckmin", afirmou Freire. Ele avaliou que o apoio de Garotinho a Alckmin não foi bom para a candidatura do tucano. "Alckmin não vai recusar voto mas não terá compromisso com o casal que governa o Estado do Rio."
A candidata ficou indignada com a publicação das fotos em que Alckmin aparece ao lado do casal Garotinho, seus principais adversários políticos no Estado. "Ficou esclarecido que não há compromisso nenhum entre Alckmin e Garotinho, que foi só uma declaração de voto e que o palanque de Alckmin no Rio é o de Denise Frossard", diz Freire.
Segundo ele, Garotinho "continua a ser adversário de Denise e aliado de Sérgio Cabral Filho, que é o candidato do partido dele, o PMDB, a governador". A candidata do PPS, assegurou Freire, participará dos atos de campanha de Alckmin no Rio.
Denise afirmou que Alckmin foi ingênuo e vítima de uma armação do casal Garotinho ao aceitar o apoio à sua candidatura. A candidata do PPS disse que estava ferida quando afirmou que votaria nulo no segundo turno, no dia 29, e admitiu que mudou de opinião. "Não prego o voto nulo. O voto nulo tem um significado: você está desesperançado. Não me sinto assim. Vou dar meu triste e solitário voto, mas vou", afirmou a candidata.
Na avaliação dela, "houve uma armação odiosa. Rosinha, Garotinho e Cabral são da política da malandragem, da ginga, estão preocupados em como dar o golpe. Jogaram isso no colo do Geraldo (Alckmin) que é lá de Pindamonhangaba. Ele é ingênuo e não conhece o Rio".
Perguntada como um candidato à Presidência pode ser ingênuo, ela respondeu: "Não deveria. Deveria ser bem assessorado." Em entrevista a um programa de TV local, Denise disse que a estratégia de campanha de Garotinho e Cabral foi a de se dividir no Estado para "ficar bem", independente do resultado das urnas. Cabral apóia o presidente Lula e Garotinho, Alckmin. Esta divisão do PMDB, segundo Denise, beneficia o partido no Estado.
A mudança do discurso de Denise Frossard se seguiu à reunião que os líderes do PPS, PFL e PSDB mantiveram, na quarta-feira, em Brasília, para discutir uma saída para a crise no Rio. Os votos dos eleitores fluminenses, sobretudo na Baixada Fluminense, onde o tucano teve fraco desempenho no primeiro turno da eleição, são considerados estratégicos no crescimento de Alckmin no segundo turno. (Com agências noticiosas)