Título: Presidente formaliza aliança com Cabral no Rio
Autor: Lyra, Paulo de Tarso e Vilella, Janaina
Fonte: Valor Econômico, 06/10/2006, Política, p. A14

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que ontem declarou, em encontro no Palácio da Alvorada, apoio ao pemedebista Sérgio Cabral Filho (RJ) no segundo turno da eleição para o governo estadual e viajou à noite para o Rio para participar de um evento de campanha ao lado do aliado, afirmou que "aquilo que não foi possível acontecer no primeiro turno está se concretizando no segundo turno (a união com o PMDB fluminense)". E acrescentou que sempre foi um defensor do segundo turno para garantir a estabilidade democrática. "Eu lembro o que aconteceu com o (Salvador) Allende, no Chile, que teve 33% dos votos e depois teve dificuldades para governar", disse Lula, lembrando o presidente chileno deposto em 11 de setembro de 1973.

Apesar de ser um defensor do segundo turno, Lula demonstra impaciência nas reuniões internas com aliados para articulação dos apoios. Um governador eleito afirmou que o presidente não esconde a irritação por causa do dossiê Vedoin, que provavelmente o impediu de decidir a eleição no dia 1º de outubro - quando o escândalo surgiu, Lula tinha uma vantagem folgada sobre o tucano Geraldo Alckmin. "Caiu a ficha do segundo turno no presidente. Ele está impaciente para começar a campanha nas ruas. Está com disposição de candidato", assegurou o aliado.

Amanhã está prevista a divulgação da primeira pesquisa de segundo turno, realizada pelo Datafolha. Petistas afirmaram, no entanto, que pesquisas internas encomendadas pelo comando da campanha de Lula não apresentaram mudanças em relação ao resultado do primeiro turno, no qual Lula teve 48,6% dos votos válidos e Geraldo Alckmin recebeu 41,6% dos votos válidos. De qualquer maneira, a preocupação permanece, já que algumas pesquisas petistas de domingo passado ainda apontavam que Lula poderia ser eleito em primeiro turno.

Para o deputado federal eleito Ciro Gomes (PSB), engajado na campanha de segundo turno de Lula, o resultado das urnas no domingo foi um "susto dado pela população". Mas um susto merecido, em sua opinião. "Parte do susto que levamos nós merecemos. Companheiros estavam de salto alto, menosprezaram certas questões e até se deram ao luxo de deliberar à margem da lei". Ciro espera, contudo, que a dose do remédio já tenha sido totalmente aplicada. "Espero que o susto não se repita. Assimilamos, aprendemos, mas mais do que isso será prejudicar o Brasil", disse.

Depois de declarar o apoio ao senador Sergio Cabral Filho, que disputa o segundo turno do governo do Rio contra a deputada Denise Frossard (PPS), Lula defendeu a política de alianças. "Às vezes, nosso projeto não é vencedor e temos de nos aliar com outros projetos que estejam mais próximos de nós", afirmou o presidente. Lula, no entanto, não quis comentar o apoio dado pelo casal Garotinho ao candidato tucano Geraldo Alckmin. "Não julgo acordos feitos pelos meus adversários. Já tenho dificuldades para fechar os meus acordos, não posso dar palpite sobre os dos outros", desconversou o presidente.

Coube a Ciro Gomes, que há três dias tem sido designado para ser o porta-voz mais agressivo da campanha de Lula, qualificar a aliança entre Alckmin e Anthony Garotinho: "Eu achei ótimo. Como eles têm uma campanha mostrando que são anjos, aparecem abraçados com Garotinho?" Lula lembrou que, em seu governo, o Rio voltou a se desenvolver, com uma série de projetos como o pólo petroquímico, a recuperação da indústria naval e o pólo siderúrgico. O presidente acredita que o apoio a Sérgio Cabral poderá tornar-lhe a eleição mais tranqüila, por "ter escolhido o melhor candidato".

O senador Crivella (PRB-RJ), que também vai apoiar Cabral, aproveitou para criticar Frossard, que afirmou que votará nulo no segundo turno presidencial (ontem, ela voltou atrás e confirmou apoio a Alckmin).

À noite, Lula retribuiu o apoio de Cabral, participando de um ato no Rio, onde selou aliança com o pemedebista. O presidente afirmou que até mesmo seus adversários políticos reconhecem o valor das políticas sociais implementadas nos quatro anos de seu governo. "Perguntem ao Aécio (Neves, governador reeleito de Minas pelo PSDB) e ao Lembo (Cláudio Lembo, do PFL, governador de São Paulo), que estão em outros partidos, se algum presidente da República cuidou dos pobres como nós cuidamos. Fazemos isso porque não queremos olhar a cara do partido e sim a cara do povo", disse Lula.

"Até o prefeito Cesar Maia disse que os presidentes que passaram pelo Brasil não colocaram no Rio o que eu coloquei nos últimos quatro anos", afirmou o presidente. Sobre as eleições, Lula disse que deve-se compreender a situação do país: "O que está em jogo não é uma simples disputa entre Lula e o adversário e Cabral e adversária. O problema é que nós estamos na disputa de dois projetos diferentes para o país".

Lula disse que "todo o governante tem o direito de errar, mas depois aqueles que erraram vão fazer curso de graduação em Harvard, escrevem dois ou três livros. Mas eu não posso errar. Se eu não ganhar as eleições, vou voltar a morar a 200 metros do sindicato que me criou para a vida política. Por isso não posso errar e resolvi cuidar do nosso país".