Título: Consumo puxa investimento, diz Fazenda
Autor: Alves , Murilo Rodrigues
Fonte: Valor Econômico, 23/08/2012, Brasil, p. A4

As medidas de estímulo ao consumo adotadas pelo governo brasileiro não têm apenas a finalidade de aumentar as vendas, mas também de incentivar os investimentos, disse ontem o secretário-executivo-adjunto do Ministério da Fazenda, Dyogo de Oliveira. "É fundamental, para deslanchar o investimento e o crescimento de longo prazo, manter o nível de atividade elevado", disse, durante seminário sobre políticas públicas de estímulo ao consumo e seus reflexos na economia brasileira, realizado na Comissão de Fiscalização Financeira e Controle da Câmara dos Deputados.

Oliveira apresentou a economistas da região Centro-Oeste os últimos bons indicadores de atividade econômica - incluindo as vendas de varejo, a "prévia do PIB" de julho calculada pelo Banco Central, a criação de empregos formais acima do que era esperado pelos analistas e os índices positivos de confiança dos empresários - para "provar" que as medidas adotadas pelo governo surtiram efeito e o crescimento vai se acelerar durante este semestre.

"É preciso manter o nível de atividade elevado para que outras variáveis econômicas se comportem de maneira desejada", disse. "As empresas não tomam decisões de investimentos sem boas perspectivas para o futuro. Quando há desaceleração da demanda, as empresas revisam seus planos de investimentos", argumentou o secretário.

Oliveira destacou também a evolução de estoques na indústria, especialmente no setor de automóveis. Segundo ele, a redução dos preços, não só dos automóveis, de móveis e da linha branca, contribuiu para reduzir a inflação. Ele disse que o Ministério da Fazenda vê uma retomada do crédito, mas "nada para assustar ninguém".

O secretário fez questão de ressaltar que a situação brasileira se diferencia da encontrada em economias maduras em meio à crise financeira global. "Há uma deterioração contínua no cenário internacional. Esperava-se que houvesse, nessa altura, algum nível de recuperação. No entanto, as medidas tomadas só atenuaram a situação." Segundo ele, porém, não há perspectivas de ocorrência de eventos extremos, como a queda de um grande banco internacional.

O chefe do Departamento Econômico do Banco Central, Túlio Maciel, reiterou que estímulos ao consumo não estão relacionados a uma diminuição dos investimentos. Maciel e Oliveira apresentaram dados que mostram que a participação do consumo no Produto Interno Bruto (PIB) teve uma ligeira queda, de 61,9% para 59,6%, de 2003 para 2010. Os investimentos, por outro lado, aumentaram a participação no PIB de 16% para 19% entre 1995 e 2012.

"A despeito do crescimento acentuado do consumo nesse período, essa expansão veio junto com o aumento da renda", disse Maciel. "Não temos ainda a taxa de investimento que gostaríamos de ver, mas estamos no caminho", afirmou.

Para Oliveira, o país tem hoje uma "nova matriz macroeconômica", com desvalorização do real, juros e spreads menores e solidez fiscal. Ele destacou que o governo também tomou outras medidas, como a desoneração da folha de pagamentos e a desburocratização tributária.