Título: Economistas preveem pressão sobre o IPCA em agosto
Autor: Lorenzo , Francine
Fonte: Valor Econômico, 23/08/2012, Brasil, p. A4

Os avanços nos preços dos alimentos, vestuário, educação e transportes manterão o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) pressionado em agosto, de acordo com economistas consultados pelo Valor. A expectativa é que o indicador oficial de inflação suba entre 0,31% e 0,41% neste mês, apresentando pouca variação frente ao IPCA-15, que subiu 0,39% em agosto. O indicador, uma prévia do IPCA, foi divulgado ontem pelo IBGE

Em julho, o indicador havia apontado inflação de 0,33%. Já em agosto do ano passado, a alta era de 0,27%. Com o resultado deste mês, o indicador acumula alta de 3,32% no ano, abaixo do resultado apurado no mesmo período em 2011, de 4,48%.

A greve dos funcionários do orgão acabou influenciando o resultado do IPCA-15 neste mês. Em comunicado, o IBGE informou que dois itens -dos grupos despesas pessoais e habitação - tiveram metodologia diferenciada em seu cálculo devido à ausência de dados do Rio na Pesquisa Mensal de Emprego (PME) de junho.

A principal contribuição para o maior ritmo de alta dos preços veio de transportes, que, de queda de 0,59% em julho, passou a estabilidade neste mês. Antes mesmo do fim da redução no IPI, os automóveis novos apontaram tendência de alta, ao transformarem a queda de 2,47% nos preços em julho em avanço de 0,04% neste mês.

Isso indica, segundo Flavio Combat, da Concórdia Corretora, indica que os tempos de reduções de preços ficaram para trás. "Estávamos vivendo um período atípico. O corte no IPI ajudou a baixar os preços, mas as montadoras também deram descontos para desovar estoques, que estavam altos."

A Pesquisa Mensal de Comércio (PMC), do IBGE, mostra que em junho, primeiro mês de vigência do benefício fiscal, as vendas de automóveis aumentaram 16,4% em relação a maio, feitos os ajustes sazonais. A redução do IPI para autos está prevista para terminar dia 31.

A quantidade de produtos que registraram alta de preços em agosto foi a maior dos últimos sete meses, segundo cálculos da Tendências. O índice de difusão, que mostra o quanto a inflação está espalhada pela economia, subiu de 61,37% em julho para 65,75% em agosto - o maior percentual desde janeiro, quando o indicador marcava 69,01%.

O avanço, segundo Thiago Curado, da Tendências, está relacionado à inflação de alimentos, que conta com uma grande quantidade de componentes. Neste mês, o grupo alimentação e bebidas avançou 0,76%, ante alta de 0,88% registrada em julho. A desaceleração, porém, não evitou que os alimentos registrassem a maior alta entre as categorias pesquisadas pelo IBGE.

Outro grupo que contribuiu para a disseminação da inflação, segundo Curado, foi vestuário, devido ao término das liquidações. Para Curado, a troca de coleção vai fazer com que os preços das roupas continuem avançando nas próximas semanas. Mas serão os alimentos, segundo ele, que sustentarão o índice de difusão em patamar elevado até o fim do ano.

A alimentação fora de casa, que subiu 1,07% neste mês e se acelerou em relação à alta de 0,88% em julho, pressionou os serviços, que também contaram com avanço acentuado de educação (de 0,10% em julho para 0,54% em agosto), devido ao início do segundo semestre do ano letivo. Mas a forte redução no ritmo de reajuste dos aluguéis, destaca Bruno Surano, da Votorantim Corretora, permitiu que a inflação de serviços cedesse.