Título: A equilibrista de abacaxis
Autor: Rothenburg, Denise
Fonte: Correio Braziliense, 12/11/2010, Política, p. 2

Diante da enormidade de demandas dos aliados, Dilma Rousseff terá, a partir de amanhã, a tarefa de montar sua equipe com peças capazes de não azedar a base nem tornar amarga a governabilidade

Três ministérios dos Transportes, dois da Integração Nacional, dois de Comunicações, dois da Saúde, dois do Turismo e duas Caixas Econômicas. É o que seria necessário para atender a lista de pedidos a serem encaminhados à presidente eleita, Dilma Rousseff, a partir de amanhã, quando ela desembarca em Brasília. Nenhum dos dez partidos que compõem a base do futuro governo pediu baixo ou se mostra, desde já, disposto a se contentar com pouco. E com um agravante: Lula já aconselhou à presidente que não componha o governo com derrotados nas eleições, porque, ao acomodar um, vários outros vão se achar no direito de reivindicar cargos.

A disputa pelo poder é o principal pepino para Dilma resolver nesses 50 dias que faltam para a posse. Ontem, por exemplo, integrantes da equipe de transição que cuidam da parte política concluíram que é melhor fechar primeiro o ministério e deixar a disputa pelas presidências da Câmara e do Senado para uma etapa posterior, de forma a não misturar as estações e complicar ainda mais o intrincado jogo para a escolha de ministros (leia mais sobre a guerra pela Presidência do Legislativo na página 3).

O fato de Lula ter dito a Dilma que veja com cuidado a nomeação de quem perdeu a eleição ajuda a resolver alguns problemas, mas cria outros. Só no PT, são pelo menos quatro nomes à espera de uma compensação: Aloízio Mercadante (PT-SP), que foi ao sacrifício para montar um palanque forte para Dilma em São Paulo; Ideli Salvatti (PT-SC) e Ana Júlia Carepa (PT-PA), derrotadas nos governos estaduais, e, ainda, Fernando Pimentel, que perdeu o Senado. Dos quatro, Mercadante e Pimentel são nomes fortes para representar o partido no governo de Dilma, especialmente Pimentel, amigo da presidente eleita.

No PMDB, Hélio Costa também gostaria de retornar ao Congresso, mas as chances são remotas. Na Câmara, os deputados peemedebistas já fizeram chegar ao líder Henrique Eduardo Alves e ao vice-presidente eleito, Michel Temer, que os postos de primeiro escalão devem ser reservados a vitoriosos que trabalharam pela eleição de Dilma em seus respectivos estados. O PR, que há dois dias indicou Alfredo Nascimento para o Ministério dos Transportes, ontem já reavaliava o nome pelo fato de Alfredo ter sido derrotado na disputa estadual.

Prateleira Além desse problema, Dilma terá que avaliar a lista de pedidos, que mais parece uma relação de ¿supermercado ministerial¿, conforme revelou um dos componentes da equipe de transição. Se fosse atender o PR, o PP e o PMDB, Dilma teria que ter três ministérios dos Transportes, um para cada. No caso do Turismo, a pasta hoje ocupada pelo PT já foi reivindicada pelo PTB. ¿O PTB ocupou o ministério e saiu porque Walfrido (dos Mares Guia) foi convocado para cuidar da coordenação política. É natural que agora retorne¿, diz um dos nomes fortes da legenda. Da mesma forma que o PTB reivindica o retorno ao Turismo, o PSB quer voltar ao Ministério da Integração Nacional, pasta que ocupou com Ciro Gomes até que o PMDB tomou o espaço quando a ala oposicionista da Câmara aderiu ao governo Lula (leia quadro).

Além da disputa entre os partidos por espaço no Executivo, Dilma encontrará ainda parte de sua base fechada com um aumento maior para o salário mínimo. Na última quarta-feira, ao ser anunciado como futuro líder do PDT, o deputado Paulo Pereira da Silva, o Paulinho da Força Sindical, anunciou que vai lutar por R$ 580. ¿Já fechamos esse valor. Vamos ver se o governo aceita¿, disse ao Correio. Hoje, o valor previsto no Orçamento é de R$ 538,15, que o relator pretende arredondar para R$ 340.

O problema é que cada ponto percentual de aumento do mínimo representa R$ 1,5 bilhão de acréscimo na despesa do governo. Ou seja, o Executivo terá que tirar recursos de outras áreas para compor os R$ 580 defendidos por parte da base aliada e pelas centrais sindicais. A reunião para tratar do tema será na terça-feira, quando a presidente eleita começa a despachar no Centro Cultural do Banco do Brasil.

No fim de semana, ela passa a morar na Granja do Torto, para onde já foi a mudança. Assim, o problema de abrir a garagem e dar de cara com um batalhão de repórteres, cinegrafistas e fotógrafos será o único que ela encontrará resolvido quando desembarcar em Brasília, já que a Granja conta com um esquema de segurança que preserva a privacidade de seus moradores.

DEFESA DO REAJUSTE » Ainda no encontro do G-20 em Seul, na Coreia do Sul, Dilma Rousseff defendeu ontem o aumento do salário dos ministros. ¿Alguma coisa tem de ser feita porque, caso contrário, não vamos ter ninguém para ser ministro. (O salário deles) é defasado em relação ao mercado¿, afirmou a presidente eleita. Os ministros recebem cerca de R$ 12 mil mensais. Os titulares do Supremo Tribunal Federal (STF) recebem R$ 26,7 mil e querem elevar para R$ 30,6 mil. Dilma disse, contudo, que não vai se envolver na discussão sobre o salário dela nem os dos ministros do STF e dos congressistas. ¿Eles têm de ver, não sou eu que vou decidir.¿

POR ¿DESCASCAR¿

PT X PT O partido vive uma disputa velada sobre a nomeação de Antonio Palocci para a Casa Civil ou para cargo de destaque no Palácio do Planalto. Uma parte, a bancada de deputados, apoia. O grupo mais afinado com José Dirceu, não. Nos bastidores, os dois continuam no impasse sobre quem sobe primeiro. Palocci foi inocentado no caso da quebra de sigilo do caseiro. Dirceu aguarda o julgamento do mensalão. Há ainda quatro petistas interessados em presidir a Câmara.

PT X PMDB Os dois partidos querem trocar ministérios que ocupam. Enquanto o PT força a porta do Ministério das Comunicações, hoje do lote peemedebista, o PMDB trabalha para trocar a Defesa por uma outra pasta, como Transportes, que hoje está nas mãos do PR.

PMDB X PR Senador eleito pelo Amazonas, Eduardo Braga (PMDB) não pretende ver um de seus adversários políticos no estado, Alfredo Nascimento (PR), como ministro dos Transportes.

PR X PP O PP, que hoje tem Cidades, gostaria de ocupar o Ministério dos Transportes.

PP X PSB Se não conseguir Transportes, o PP gostaria de ocupar a secretaria de Portos, hoje a cargo dos socialistas.

PSB X PMDB Com quatro governadores no Nordeste, o PSB reivindica o Ministério da Integração Nacional.

Enquanto isso, na área econômica...

PMDB X PT Considerando-se como parte importante na eleição de Dilma, o PMDB deseja ingressar na área dos bancos públicos, hoje de acesso restrito ao PT.

PT X PDT O novo líder da bancada pedetista, Paulinho da Força, chega ao cargo para defender o salário mínimo de R$ 580 e a permanência no Ministério do Trabalho.

E no Congresso...

PT X PMDB Bastou uma semana com Lula e Dilma fora do Brasil para que crescessem as redes de intrigas em torno das presidências da Câmara e do Senado. O PT não aceita o PMDB comandando o Senado por quatro anos. O PMDB não aceita colocar o Senado no acordo de um biênio para cada. Entre os senadores, o regimento determina que o presidente tem que ser da maior bancada.