Título: Para analistas, desemprego deve ficar estável em julho
Autor: Machado , Tainara
Fonte: Valor Econômico, 23/08/2012, Brasil, p. A4

A rigidez do mercado de trabalho brasileiro e os primeiros sinais de recuperação da atividade doméstica devem ter colaborado para sustentar, em julho, taxa de desemprego próxima da mínima histórica. De acordo com a média das projeções de dez instituições coletadas pelo Valor Data, o nível de desocupação deve ter sido de 5,8% no mês passado, dado que, se confirmado, marcará a menor taxa para julho desde o início da série, em 2002. O intervalo entre as estimativas varia entre 5,5% e 6%.

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) confirmou para hoje a divulgação da Pesquisa Mensal do Emprego (PME), mas não se pronunciou se a pesquisa será publicada em sua totalidade ou parcialmente, como ocorreu em junho, quando o estudo foi divulgado sem as informações da região metropolitana do Rio de Janeiro.

Para Caio Machado, economista da LCA Consultores, a incerteza não afeta a credibilidade do órgão, mas dificulta o acompanhamento do mercado de trabalho e do pulso da atividade, o que é ainda mais negativo por este ser percebido como um momento de virada do ciclo econômico.

Economistas avaliam que o cenário para o mercado de trabalho é de acomodação, mas com manutenção de baixos níveis de desemprego. Se confirmado o resultado esperado por analistas para julho, a desocupação deve se manter estável em relação a maio, período em que a taxa ficou em 5,8% da população economicamente ativa (PEA), mas ainda deve recuar em relação a julho do ano passado, quando o desemprego alcançou 6,0%.

Para Aurélio Bicalho, economista do Itaú Unibanco, "houve desaceleração da atividade econômica e também do ritmo de criação de vagas, mas este vinha de um crescimento muito forte. Por isso, é saudável essa moderação". Bicalho ressalta que dados do Ministério do Trabalho mostram que em julho foram abertas 142 mil vagas, crescimento condizente com a manutenção da taxa de desemprego. O banco estima que, na média, a desocupação fique em 5,8% em 2012.

Fernanda Consorte, economista do Santander, projeta ligeira alta do desemprego em agosto, para 6%, mas ressalta que não houve deterioração mais forte do mercado de trabalho no período recente de desaquecimento econômico do Brasil por causa, principalmente, da rigidez das leis trabalhistas brasileiras, que tornam custoso o processo de demissão e posterior recontratação. "Dada a expectativa de que a atividade deve melhorar, os empregadores preferem manter o quadro de funcionários", afirma.

Caio Machado, da LCA, também estima que a desocupação continuará em nível historicamente baixo, mas acredita que o pessoal ocupado mostrará menor crescimento nos próximos meses. "Agora, há espaço para aumentar a produção sem que o volume de contratações tenha que necessariamente acompanhar", o que deve resultar em ganho de produtividade, principalmente para o setor industrial.

Bicalho, do Itaú, considera importante que a renda tenha um crescimento mais próximo da produtividade, por isso não vê com preocupação a perspectiva de que o rendimento médio real cresça a taxas mais baixas, depois de forte alta de 4,9% entre janeiro e maio, em função do reajuste do salário mínimo.

Machado, da LCA, também espera variações mais modestas, mas lembra que a disputa por profissionais qualificados tende a manter alto o poder de barganha do trabalhador. (Colaborou Diogo Martins, do Rio)