Título: Modelo de segurança do Enem americano interessa ao Inep
Autor: Exman , Fernando
Fonte: Valor Econômico, 23/08/2012, Brasil, p. A4

A visita da presidente Dilma Rousseff aos Estados Unidos já rende frutos na área da educação. Depois de uma primeira reunião em abril realizada em Washington, a cúpula do College Board desembarcou nesta semana em Brasília para trocar experiências com o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) e representantes de universidades e instituições de ensino secundário brasileiras. Como resultado, o College Board convidou ontem o Inep a integrar a entidade, iniciativa que também está sendo negociada entre a organização americana e instituições de ensino brasileiras.

Nos Estados Unidos, o College Board é responsável pela aplicação do Scholastic Assessment Test (SAT), prova semelhante ao Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). O custo da associação não representa um entrave. Tem um valor simbólico de apenas US$ 350 por ano. O governo brasileiro, porém, avaliará primeiro os potenciais ganhos técnicos da parceria.

"Existe a possibilidade de a gente participar do College Board", comentou o presidente do Inep, Luiz Cláudio Costa, em meio aos encontros com os americanos. "Eu vou avaliar isso, quais são as vantagens e o que isso pode contribuir. Isso só teria sentido se tiver ganhos técnicos. Eu levo para o ministro decidir depois que tiver os subsídios técnicos."

Durante as reuniões dos últimos dias, os representantes do Inep e do College Board trocaram experiências em diversas áreas. O Inep, por exemplo, interessou-se pelas práticas de segurança e pré-teste das questões incluídas nos exames pelo College Board. "Não estamos falando de itens pedagógicos, mas de logística, segurança e da experiência que eles desenvolveram ao longo dos anos", disse o presidente do Inep.

O College Board não divulga os gabaritos completos das provas do SAT e uma parte de cada prova aplicada não vale para a pontuação final do estudante. É usada para a realização de um pré-teste de questões. Com essa sistemática, os americanos aproveitam a própria prova para testar algumas das perguntas que serão aplicadas nos próximos anos.

No Brasil, esse modelo ainda não funcionaria bem porque o Enem tem poucos anos de existência. Seria fácil para os estudantes saberem o conteúdo do banco de questões do exame. Além disso, a prática poderia ser questionada na Justiça. "Para o futuro, essa é uma excelente resposta", comentou o ministro da Educação, Aloizio Mercadante.

Já o College Board quer aproveitar as experiências brasileiras em logística, distribuição e realização das provas. "O Brasil fez muito em pouco tempo", afirmou a diretora-executiva da entidade americana, Judith Hegedus. "A segurança é sempre uma questão", acrescentou, lembrando caso recente em que uma pessoa tentou-se passar por outra durante a aplicação do exame. "Você nunca sabe o que vai acontecer."

Na avaliação do presidente do Inep, o importante é a punição dos envolvidos nas tentativas de fraude. "É um problema que você tem que tratar com a lei e com consequências sérias."

A parceria entre as instituições também poderá aumentar o intercâmbio de estudantes entre os dois países, embora a diretora do College Board tenha ponderado que a diferença dos idiomas ainda representa uma barreira para que os americanos procurem universidades brasileiras. Segundo Costa, porém, alguns poucos estudantes estrangeiros já têm feito o Enem. "Acho que, com o tempo, isso vai crescer", estimou.

O Inep também busca parcerias com outras entidades internacionais que tenham a mesma função em seus países. Costa citou, por exemplo, a experiência chinesa na logística de realização de exames.