Título: Medley cresce com genérico para obesos
Autor: Vieira, André
Fonte: Valor Econômico, 06/10/2006, Empresas, p. B3

Lançado em julho com exclusividade pela Medley, o genérico da sibutramina, indicado para o tratamento da obesidade, já representa cerca de 10% das vendas do laboratório. Em agosto, o genérico das marcas Plenty e Reductil vendeu US$ 4,5 milhões, segundo dados do IMS Health. A farmacêutica faturou US$ 45,1 milhões no mesmo mês. Com 98,8 mil unidades vendidas apenas em agosto, o genérico ultrapassou mais do que o dobro do que as duas marcas juntas vendiam por mês (cerca de 40 mil unidades).

A sibutramina funciona como um saciador de apetite, agindo sobre o sistema nervoso central. Segundo estudos, a droga, vendida sob receita e usada sob orientação médica, não causa dependência, ao contrário dos inibidores de apetite. Combate um problema crescente: a epidemia da obesidade, embora as vendas também são impulsionadas por questões estéticas.

O lançamento da versão genérica ocorreu antes do vencimento da patente, previsto para dezembro. Foi resultado de um acordo entre a americana Abbott, dona da patente do Reductil, com a Medley, que já comercializava o produto com a marca Plenty desde 1998, quando o remédio foi introduzido no mercado brasileiro.

"Fizemos uma extensão da nossa parceria", disse o presidente da Medley, Jairo Yamamoto. Segundo ele, o acordo anterior vence em 2007 e a empresa buscou prolongar a parceria antes da entrada de outros genéricos no mercado.

O acerto é inspirado em acordos realizados pela indústria farmacêutica dos Estados Unidos. Empresas de pesquisas têm o costume de fechar contratos para que fabricantes de genéricos comercializem as cópias com exclusividade. Os ganhos são divididos.

A diferença, no caso brasileiro, é que a entrada do produto ocorre antes do vencimento da patente. Enquanto nos EUA, a empresa lança o genérico depois da expiração da patente, obtendo das autoridades sanitárias, assim, seis meses de exclusividade no mercado.

A entrada do genérico já derrubou os preços. A sibutramina é encontrada nas farmácias com valores entre R$ 70 e R$ 90 conforme a apresentação, abaixo dos valores do remédio de referência, que custavam mais do que R$ 200. Com a entrada do genérico, o Reductil e Plenty baixou para R$ 140 e R$ 180. Os três produtos, iguais, são fabricados pela Abbott, no Rio.

As vendas de genéricos movimentam milhões, mas a rentabilidade costuma ser baixa. Para financiar sua carteira de clientes, a Medley tem despesas financeiras mais altas que outras farmacêuticas. Acordos desse tipo, contudo, ampliam o horizonte da empresa.

O resultado da sibutramina nos dois primeiros meses impulsionou o crescimento da Medley no ranking farmacêutico levando a empresa a ocupar, em agosto, a quarta posição no canal de vendas em farmácias. A empresa superou a suíça Novartis e a americana Pfizer. No fim de 2005, ela ocupava a sexta posição.

Sua posição em genéricos também avançou. A empresa cresceu 3,37 pontos percentuais, somando 35,4% em participação no mercado de genéricos, a maior desde que ocupou a liderança no segmento, ocorrida em 2002. A também nacional EMS-Sigma Pharma, vice-líder, tem 28,8% em genéricos. "Tínhamos a expectativa de crescer, mas ela surgiu antes por conta da sibutramina", disse Yamamoto.

A Medley, que comemora, no domingo, dez anos da adoção da marca, teve intenção de abrir o capital no fim de 2005. A farmacêutica, que sempre negou a intenção de transferir o controle da empresa, tinha contratado o Banco Pactual para fazer uma avaliação dos ativos, relata. "No entanto, as condições de mercado mudaram", disse Yamamoto. Os planos estão, por ora, adiados.

Para ampliar a escala de produção, a empresa está realizando investimentos de R$ 45 milhões para dobrar a capacidade da fábrica de Campinas, para 2,4 bilhões de unidades por ano, que ficará pronta em 2007. A previsão é que a Medley fature R$ 600 milhões em 2006. No ano passado, as vendas foram de R$ 460 milhões.