Título: Depois da alta, agora fundos derrubam preço do petróleo
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Fonte: Valor Econômico, 06/10/2006, Empresas, p. B7

Uma discussão vem ocorrendo desde que os preços da energia começaram sua alta acentuada quatro anos atrás: estaria o dinheiro encaminhado para a área do petróleo pelos fundos mútuos, corretores, fundos hedge e outros participantes do mercado financeiro, elevando os preços que os consumidores pagam para aquecer suas residências e encher o tanque de gasolina de seus carros? Em outras palavras, estaria o dinheiro especulativo por trás da grande alta dos preços da energia?

Bem, agora que o dinheiro especulativo está saindo do setor de energia, parece claro que isso está proporcionando a mesma volatilidade aos preços enquanto estes caem. Sem grandes mudanças na oferta ou na demanda, os preços do petróleo vêm despencando, recuando abaixo dos US$ 59 o barril na terça-feira. Isso é 25% do pico de US$ 78 registrado em julho. Os preços do gás natural caíram ainda mais, para US$ 5,80 por milhão de Btus, em comparação a US$ 15 em dezembro, uma queda que provavelmente precipitou as perdas de US$ 6 bilhões sofridas pelo fundo hedge Amaranth Advisors.

Por trás da queda dos preços está uma grande contração do volume de dinheiro que está sendo investido nos ativos de energia. O fluxo de dinheiro novo para os 48 fundos mútuos de recursos naturais monitorados pela Morningstar caiu para US$ 12 milhões em agosto, em comparação a US$ 1,6 bilhão no mesmo mês de 2005. O fundo PIMCO Commodity Real Asset, que viu seus ativos encolherem para US$ 12 bilhões desde seu início, em 2002, captou US$ 100 milhões este ano. "Está havendo uma grande fuga de dinheiro", diz Peter Fusaro, fundador do Energy Hedge Fund Center, site especializado em informações sobre negócios com energia que acompanha os fundos hedge. "Muitos investidores realizaram lucros e estão tranqüilos." (Os números sobre a movimentação de dinheiro em setembro ainda não estão disponíveis.)

Os preços da energia vêm caindo tão rapidamente que levaram os países membros da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) a agir. Em setembro, Nigéria e Venezuela disseram que iriam reduzir voluntariamente a produção na esperança de segurar os preços.

Isso representa uma grande reviravolta do dinheiro canalizado para investimentos em energia nos últimos anos. A Hedge Fund Research, empresa de Chicago que monitora o comportamento dos fundos hedge, conta hoje 68 fundos dedicados apenas ao setor de energia, em comparação a 14 em 2000. Esse número não inclui os muitos fundos - como o Amaranth - que investem apenas parte de seus recursos em petróleo e gás natural. Não inclui os US$ 100 bilhões que entraram nos fundos que acompanham de forma passiva os índices de commodities. "De cada dólar encaminhado para o índice Goldman Sachs Commodity Index, 70 centavos vão para o setor de energia", observa Sol Waxman, que acompanha fundos hedge para a consultoria Barclay Group. "Isso tem um impacto sobre os preços? Imagino que sim."

Pesquisas em Wall Street dão suporte a essa idéia. Num relatório divulgado em 20 de setembro, o analista Doug Leggate, do Citigroup, observou que investidores, fundos e outros participantes do mercado financeiro recentemente respondiam por mais da metade dos contratos futuros de energia negociados na Bolsa Mercantil de Nova York, em comparação a 25% em 2000. Somente nos últimos três anos o número médio de contratos futuros de petróleo e opções abertos na bolsa disparou de 600 mil para 2 milhões. O estudo de Leggate constatou que a alta dos preços do petróleo está 94% correlacionada com o aumento dos volumes negociados. "Os fundos e o interesse declarado estão sendo um grande motivador. A dúvida é: isso é permanente ou é algo que vai se reverter?"

Brian Dell, analista do setor de energia da corretora Sanford C. Bernstein, afirma que o dinheiro direcionado para os contratos futuros de energia pode muito bem ter ajudado a estimular a queda recente dos preços. Dell previu em um relatório de julho que a influência dos fundos estava criando uma bolha nas commodities. Dell concluiu que ao investir tanto dinheiro no mercado futuro, os fundos estavam elevando os preços esperados para as commodities.

Isso, por sua vez, estava levando empresas de serviços públicos, refinarias e outros concorrentes do setor a estocarem petróleo bruto, gás natural e gasolina. Quando o último inverno no Hemisfério Norte acabou se mostrando mais ameno que o esperado e nenhum grande furacão interrompeu a oferta, o setor se viu com mais oferta que a necessária, o que desencadeou a atual queda dos preços.

A queda nos preços provavelmente vai esfriar o que tem sido um mercado quente para as fusões e aquisições de companhias de petróleo. Mais de US$ 350 bilhões em fusões e aquisições foram anunciados até agora no ano, segundo a Thomson Financial, um aumento maior que 50% em relação ao ano passado. Os negócios vão dos US$ 22 bilhões envolvidos na compra da Kinder Morgan, à fusão da Western Refining com a Giant Industries, e as ofertas feitas pela Andarko Petroleum pela Kerr-McGee e pela Western Gás Resources.

No fim, os produtos de petróleo e gás poderão reduzir os gastos com perfuração, afetando muitas companhias que fornecem equipamentos de perfuração e prestam serviços em campos de petróleo. "Nossos projetos são concebidos e executados em períodos de três anos", diz Brian Jennings, diretor da Devon Energy, uma grande produtora de petróleo e gás.

Quanto mais os preços do petróleo poderão cair? Apesar da queda recente, o consenso entre analistas de Wall Street é que o preço do petróleo ficará em média em US$ 65 o barril no quarto trimestre do ano, antes de cair para US$ 62 em 2007. Essas estimativas podem ser ajustadas para baixo se os preços continuarem caindo. "Se houver uma fuga grande de dinheiro, a coisa poderá ficar feia", diz Dell. "Poderemos ter o preço do petróleo bruto um pouco acima dos US$ 40." Uma boa notícia para os donos de automóveis, e uma má notícia para os investidores em energia.