Título: Apostas para o Copom mostram Selic em 7,5%
Autor: Angela Bittencourt
Fonte: Valor Econômico, 23/08/2012, Finanças, p. C16

Os primeiros sinais de que a atividade econômica está respondendo aos estímulos concedidos pelo governo e a recente alta da inflação não alteraram o cenário de política monetária traçado pelos economistas. O desempenho surpreendente das vendas no varejo, os dados de emprego de junho e o IBC-Br (uma espécie de prévia do Banco Central para o PIB) de julho provocaram um importante ajuste das taxas de juros futuros, mas não mudaram a visão dos economistas, inclusive dos que acreditam que a Selic poderá cair abaixo de 7,50% e permanecer em níveis baixos por muitos meses. A razão é que seguem no horizonte as incertezas sobre a consistência da retomada e também indícios de piora da atividade no exterior, especialmente da China.

Dos 35 economistas ouvidos pelo Valor Data que esperam unanimemente um corte de 0,5 ponto da Selic na reunião do Copom da próxima semana, de 8% para 7,5% ao ano, 18 acreditam que será o fim do ciclo de alívio monetário. Outros 17 aguardam mais algum corte em outubro, sendo que para 10 a próxima dose será de 0,50 ponto e, para 7, de 0,25 ponto. Quando se olha para 2013, entretanto, 23 analistas preveem alta da Selic. Onze esperam manutenção até o fim do ano, e um preferiu não revelar sua estimativa.

Os dados conhecidos nestes dias realmente reforçaram expectativas de analistas - até então pouco explícitas - de que há espaço para alguma recuperação da atividade nos últimos meses do ano. Mas isso não foi capaz de mudar as previsões para o rumo da Selic.

Tatiana Pinheiro, economista do Santander, explica que, na realidade, todo mundo sempre teve na conta a possibilidade de reação no segundo semestre, perspectiva que acabou sendo tratada pelo governo como bandeira de frente. "E essa expectativa se explica, inclusive, porque o primeiro semestre foi pior que o esperado, mas todos sabem que os efeitos das medidas de políticas monetária e fiscal ocorrem com defasagem."

Tatiana está com a maioria e vê a redução da Selic para 7,5% na semana que vem. E vê espaço para manutenção do juro em 7,5% em 2013 inteiro, muito em função do cenário externo, uma vez que a atividade mundial provavelmente continuará fraca, devendo justificar mais afrouxamento monetário tanto por parte do Banco Central Europeu (BCE) quanto pelo Federal Reserve, o banco central americano. Sem contar que está cada vez mais forte a sinalização dada pela China de que existe, sim, a possibilidade de ocorrer mais corte de juro e redução de compulsórios.

O cenário externo aponta para juros muito baixos e, internamente, a atividade tem espaço para crescer com folga porque a economia vem se expandindo muito abaixo do PIB potencial. "O hiato do produto está negativo em cerca de 1,5%. Portanto, a economia tem uma margem importante para alcançar o potencial - o que ainda não traz tensões inflacionárias", diz Tatiana. "E vemos a economia avançando acima do potencial apenas no segundo semestre de 2013. Isso mostra um cenário relativamente confortável para o BC manter o juro onde está. E mais adiante, devemos lembrar, o BC não precisará recorrer necessariamente à elevação do juro para conter as pressões inflacionárias. As medidas macroprudenciais poderão ser aplicadas, especialmente no mercado de crédito."

Inês Filipa, economista responsável da Icap Brasil, também vê a Selic a 7,5% na semana que vem, mas não descarta totalmente a possibilidade de a taxa ser reduzida em mais 0,25 ponto na reunião do Copom em outubro. Mas corte do juro básico para 7% está fora do radar na sua avaliação por considerar que o juro real brasileiro já está bem baixo e seria desnecessário cair ainda mais para estimular a economia. "Os cortes da Selic até 7,5% acumulados no último ano ainda serão absorvidos até o início de 2013", entende a economista que não atribui a estabilidade [mais prolongada da taxa] à preocupação do BC com a convergência da inflação para o centro da meta.

A economista da Icap pondera que o BC já deixou claro que a convergência existe, embora não seja linear, e a inflação deve rondar algo entre 5% e 5,5%. A questão é a persistência da inflação para 2014 e 2015. Diante disso, e da perspectiva de que no pós-eleições municipais poderemos ter reajustes de preços administrados, o BC tende a agir no ano que vem.

Em 2013, portanto, a Selic poderá sofrer algum ajuste em maio ou julho, de 0,25 ponto percentual por reunião até atingir 8,5%. Para Inês Filipa, ajuste maior parece desnecessário, uma vez que a recuperação econômica não deve ser muito forte. Ao contrário, tende a demorar mais do que o governo e o mercado preveem. "Considerando as defasagens dos impactos das medidas monetárias e fiscais na atividade, dependemos de informações de mais dois ou três meses para ver o que acontecerá com a economia nos próximos trimestres."

A recente recuperação das vendas no varejo, que avançaram 1,5% em junho ante maio, não dá ainda segurança de que a trajetória de retomada é duradoura, já que foi promovida por setores que receberam estímulo do governo, na visão da economista-chefe da Link Investimentos, Marianna Costa. Por isso, sua expectativa é de que o BC corte mais 0,5 ponto da Selic em agosto, mas não fechará a porta para mais algum alívio em outubro. "O Banco Central vai esperar mais sinais de que a atividade está em recuperação para decidir se dará outro corte de 0,25 ponto ou não", afirma. "No momento, há algum sinal de melhora, mas não está descartado um corte adicional." Para ela, os números externos, especialmente os da China, é que nublam o cenário de retomada e, por isso, ela vê o risco "mais para o negativo do que para o positivo". "O cenário externo ainda é desinflacionário", diz.

O economista-chefe do Banco Pine, Marco Maciel, está entre os que esperam o encerramento do ciclo de alívio monetário já na reunião de agosto. Mas, para ele, não há pela frente perspectiva de volta da alta dos juros. Maciel acredita que a Selic ficará estável em 7,50% até o fim do ano que vem porque a recuperação da atividade ocorrerá de forma gradual, e porque os fatores de pressão sobre a inflação virão de questões menos sensíveis às mudanças de juros, como serviços. Com isso, o juro real neste ano deve ficar em 2,30%, levando-se em conta a projeção para o IPCA de 5,1%, e, em 2,1% em 2013, com o IPCA em 5,3%.