Título: Juro na Europa é o maior em quatro anos
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Fonte: Valor Econômico, 06/10/2006, Finanças, p. C3

O Banco Central Europeu (BCE) elevou ontem a taxa de juro para o maior nível em quase quatro anos e sinalizou que outros aumentos são prováveis. O BCE aumentou sua taxa básica de juro em 0,25 ponto percentual, para 3,25% ao ano, a quinta elevação desde dezembro do ano passado, embora a inflação na zona do euro tenha desacelerado com a queda nos preços do petróleo.

O presidente do BCE, Jean-Claude Trichet, afirmou que um novo aumento nos preços de petróleo não deve ser descartado e que o banco central espera um avanço na inflação até o final do ano. "A diretoria irá, portanto, continuar monitorando com muita atenção todos os avanços para que então possamos assegurar a estabilidade dos preços sobre o médio e longo prazo", afirmou Trichet.

"Nossa política monetária... se mantém expansionista. Se nossas hipóteses e cenários básicos se confirmarem, vamos nos manter em alerta para uma eventual retirada da política expansionista". Segundo Trichet, "o mercado espera novos reajustes e eu ainda não farei nenhuma recomendação para corrigir essa expectativa".

A elevação do juro era amplamente esperada pelo mercado. Analistas apostam que o BCE promova mais um aumento em dezembro. Trichet disse que a diretoria do BCE foi predominantemente a favor do aumento de 0,25 ponto percentual, e não considerou apropriado um aumento maior, de 0,5 ponto.

O BCE está preocupado com a possibilidade de que a aceleração do crescimento da economia, observada desde 2000, venha a estimular reivindicações por aumentos salariais, apesar do fato de a inflação de setembro ter recuado para um patamar inferior ao teto de 2% fixado pelo BCE pela primeira vez nos últimos 20 meses. O aumento da demanda por crédito também eleva o receio de que os reajustes dos preços ao consumidor se acelerarão novamente no ano que vem.

"O tom dos comentários de Trichet na entrevista coletiva do BCE se mantém enérgico", disse David Brown, economista-chefe para a Europa do Bear Stearns International em Londres. "A sugestão de um recuo progressivo adicional na acomodação da política monetária sugere que o BCE provavelmente pretende ampliar seu ciclo de arrocho para além de dezembro, alcançando o ano que vem."

A maioria dos investidores, porém, prevê que o BCE elevará sua taxa básica pelo menos mais uma vez este ano, em dezembro, e que o banco a manterá nesse patamar durante o ano que vem, segundo sugerem as negociações de contratos futuros. Hoje a taxa sugerida no contrato futuro Euribor de três meses para entrega em dezembro era de 3,68%, aproximadamente o mesmo percentual observado antes da entrevista coletiva de Trichet.

A decisão "reflete os riscos de alta que afetam a estabilidade dos preços no médio prazo e que identificamos por meio de nossas análises econômica e monetária", disse Trichet. Segundo o BCE informou em 31 de agosto passado, a inflação da zona do euro ficará em cerca de 2,4% este ano e em 2007, percentual que superará pelo 8º ano consecutivo o teto de 2% fixado pelo BCE. Embora a inflação tenha desacelerado para 1,8% no mês passado, após o recuo dos preços do petróleo - que atingiram o recorde de US$ 78,40 o barril em julho -, a aceleração do crescimento da economia e a queda da taxa de desemprego estão estimulando os sindicatos de trabalhadores a ampliar as reivindicações por reajustes salariais. A taxa de desemprego da zona do euro estava em 7,9% em agosto, comparativamente aos 8,5% do mesmo período de 2005.