Título: Mortes por dengue crescem 89,7%
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Fonte: Correio Braziliense, 12/11/2010, Brasil, p. 11

Enquanto não há vacina para prevenir a dengue, cresce o número de mortes pela doença no Brasil. Entre o início de janeiro e 16 de outubro deste ano, a quantidade de óbitos aumentou 89,7% em relação a todo o ano passado. Segundo dados da avaliação nacional do Ministério da Saúde divulgados ontem, 592 pessoas não resistiram ao contrair a infecção e 936 mil casos foram notificados. No ano passado, o número de mortes chegou a 312 e o de infecções, a 489 mil. Além disso, 15 municípios estão em situação de risco de surto da doença, incluindo as capitais Rio Branco e Porto Velho.

Segundo o coordenador do Programa Nacional de Controle da Dengue, Giovanini Coelho, a recirculação do sorotipo 1, que havia predominado no país na década de 1990, está entre os fatores que contribuíram para o aumento dos casos da dengue. ¿Em estados como São Paulo (que tem o maior número de óbitos) e Minas Gerais, e nas cidades de Campo Grande e Porto Velho, as pessoas estavam sem imunidade a esse sorotipo¿, disse. Além disso, o ministro da Saúde, José Gomes Temporão, disse que a falta de infraestrutura das cidades também impede a redução dos índices de infecção pelo mosquito Aedes aegypti. ¿A relação entre a doença é direta com a limpeza das cidades, o grau de educação da população e a oferta de água.¿

De acordo com o ministro, a única solução para combater a dengue é a vacina. Temporão afirmou que um protótipo está sendo testado na Universidade do Espírito Santo, mas que vai demorar entre três a cinco anos para ser finalizado. ¿Enquanto isso, os governos devem redobrar o trabalho para não acontecer o mesmo do passado, quando seis estados em alerta pioraram, foram para a situação de risco¿, alertou. Ele disse que é necessário reduzir a proliferação do mosquito transmissor da doença, pois, sem ele, a infecção não acontece. Ele ressaltou ainda que é importante preparar a rede de saúde para receber os casos que surgirem.

A divulgação dos dados foi simultânea ao lançamento da Campanha Nacional de Combate à Dengue, que pretende aumentar o tom de alerta sobre a doença. O Risco Dengue aponta 10 estados brasileiros com risco muito alto de epidemia no verão de 2011: Amazonas, Amapá, Maranhão, Ceará, Piauí, Paraíba, Pernambuco, Sergipe, Bahia e Rio de Janeiro. Na próxima semana, Temporão vai visitar os locais para mobilizar os gestores.

Locais em risco Do levantamento feito com informações enviadas por 300 cidades brasileiras ¿ outras 188 ainda não finalizaram a contabilização dos seus dados ¿, 15 estão em situação de risco. São elas: Afogados da Ingazeira (PE), Ceará-Mirim (RN), Bezerros (PE), São Miguel (RN), Serra Talhada (PE), Rio Branco (AC), Ilhéus (BA), Floresta (PE), Simões Filho (BA), Mossoró (RN), Porto Velho (RO), Caicó (RN), Tamaragibe (PE), Caetanópolis (MG) e Epitaciolândia (AC). O Nordeste concentra o maior número de municípios, 11, seguido pela Região Norte do país, com três cidades nessa situação. O ministro Temporão afirmou que, nesses locais, o mosquito se prolifera predominantemente a partir do armazenamento de água em depósitos.

Cento e vinte e três cidades estão em situação de alerta, o que representa 41% dos municípios analisados. Dessas, 11 são capitais: Salvador, Palmas, Rio de Janeiro, Maceió, Recife, Goiânia, Aracaju, Manaus, Boa Vista, Fortaleza e Vitória. Treze locais apresentam índice satisfatório, entre elas as capitais Brasília e Campo Grande.

Segundo o ministro, a questão da saúde brasileira tem dois componentes essenciais para que ocorra uma melhora efetiva no sistema. A primeira refere-se à gestão. ¿Temos que melhorar a qualidade do gasto, implementar mudanças estruturais¿, defendeu Temporão. ¿O segundo ponto é que é absolutamente necessário resolver de uma vez por todas a fragilidade econômica do setor, isso é consenso entre todos os especialistas.¿ Para ele, o grande debate é sobre de qual local vão sair os recursos. Questionado se a verba poderia vir de mais impostos, como a volta da CPMF, Temporão defendeu a destinação de mais R$ 50 bilhões para a pasta, independentemente da fonte.