Título: Crise desequilibrou economia chinesa, diz economista
Autor: Pedroso , Rodrigo
Fonte: Valor Econômico, 17/08/2012, Brasil, p. A5

Dois dos três motores que alavancaram o crescimento anual médio chinês acima de dois dígitos na última década foram seriamente atingidos com a crise de 2008 nos Estados Unidos e na Europa. Segundo o professor de economia do Insper, Roberto Dumas, para sustentar o nível de aumento do Produto Interno Bruto (PIB), a China desequilibrou a economia nos últimos anos.

Desde de 1992, Pequim optou por tirar parte dos ganhos de produtividade de fatores como salário, terra, energia e ambiente para passar à produção, que ganhou competitividade.

"Incentivou-se muito a indústria para exportar e sustentar todo esse crescimento", disse durante palestra realizada em São Paulo pela Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB).

Com a retração dos grandes mercados consumidores chineses, o governo foi obrigado a "virar" a economia na direção do investimento. "Em termos absolutos eles cresceram em tudo. Em relativos, de 2008 a 2010, os investimentos pularam de 44% para 49% do PIB, enquanto o consumo caiu de 36% para 34%", afirmou.

A diminuição de mercados externos para a produção e a menor participação do consumo foram dois dos três motores que desequilibraram a economia, na visão de Dumas. O consumo, ao perder espaço relativo em favor da produtividade, também contribuiu para diminuir a disponibilidade de renda das famílias chinesas para alavancar o PIB, agora que a demanda externa arrefeceu. "Eles consomem muito, mas produzem ao quadrado. Pós-crise, só sobrou o motor do investimento, que também não se sustenta [sozinho] no longo prazo", afirmou.

O governo chinês anunciou a diminuição nas metas de crescimento para os próximos anos e a mudança da economia de um perfil exportador para o de consumo interno. "Mas para aumentar o consumo será necessário tirar ganho de produtividade e passar para a população. Ou seja, vão ter que encarecer a produção, o que vai gerar perda de competitividade e mercado internacional."