Título: Brasil lança títulos em reais no exterior e obtém US$ 300 mi
Autor: Lucchesi, Cristiane Perini e Galvão, Arnaldo
Fonte: Valor Econômico, 06/10/2006, Finanças, p. C10

Em pleno período eleitoral, o Brasil conseguiu demanda de US$ 850 milhões por títulos denominados em reais no mercado externo. O valor foi informado por Augusto Urmeneta, da Merrill Lynch, um dos bancos que liderou a captação de US$ 300 milhões, o equivalente a R$ 650 milhões, fechada ontem.

Segundo ele, o Tesouro brasileiro pretendia lançar inicialmente apenas US$ 250 milhões, para ampliar para US$ 1 bilhão o total dos papéis de US$ 750 milhões em reais (R$ 1,6 bilhão), de vencimento em 5 de janeiro de 2022, emitidos no dia 6 de setembro último. Mas, decidiu lançar US$ 300 milhões, tamanha a procura. "O Tesouro resolveu deixar demanda não-atendida, para o título ter boa performance no mercado secundário", disse.

O rendimento caiu para 12,466% ao ano, com relação aos 12,875% ao ano dos papéis lançados em setembro. O cupom é de 12,5% ao ano. Ou seja, ontem, na reabertura da operação, os títulos foram vendidos no mercado primário a 100,25% do valor de face, com relação aos 97,563% do valor de face pagos em setembro. Metade de demanda veio dos Estados Unidos e a outra metade, da Europa.

Essa foi a terceira emissão de papéis denominados em reais. Segundo as informações do governo, a operação foi liderada pelos bancos Merrill Lynch e UBS. Itaú e Pactual foram "co-gerentes". Os recursos devem entrar nas reservas internacionais do país, o caixa em moeda forte, no dia 13 de outubro. Os cupons serão pagos nos dias 5 de janeiro e 5 de julho de cada ano, até o vencimento em janeiro de 2022.

Até agora, o Tesouro já captou os recursos necessários para atender aos vencimentos deste ano. Não há mais uma meta de emissões. Para os vencimentos do biênio 2007/2008, serão comprados os dólares no mercado interno pelo próprio Tesouro ou serão obtidos por meio do Banco Central. Segundo o governo, as emissões vão ter como objetivo principal melhorar a qualidade da dívida externa brasileira. A vantagem de lançar papéis denominados na moeda brasileira é que, nesse caso, o risco cambial fica com o investidor.

A primeira captação com títulos denominados em reais foi realizada em 19 de setembro de 2005 e chegou a R$ 3,4 bilhões (US$ 1,5 bilhão) com títulos que vencem em 2016. Naquela época, os preços caíram logo depois e o mercado secundário emperrou, por falta de padronização das corretoras, deixando investidores descontentes e dificultando novas emissões em reais que seriam realizadas depois, inclusive de empresas e bancos. Agora, a demanda por títulos em reais está de volta.