Título: Mercado interno blinda a economia do Peru da crise
Autor: Murakawa , Fabio
Fonte: Valor Econômico, 17/08/2012, Internacional, p. A11

Impulsionado pelos setores construção, comércio e serviços, o Peru resiste à crise internacional e dá sinais de aceleração na economia. Anteontem, o Banco Central divulgou que o PIB (Produto Interno Bruto) cresceu 7,07% em junho sobre o mesmo mês do ano anterior, o maior nível em dez meses.

Ainda que o BC não tenha divulgado o dado trimestral consolidado - indicador mais confiável da expansão da economia - os números de julho dão mostras de que a demanda interna ainda tem força para sustentar o crescimento da economia do país, em meio às dificuldades internacionais. O PIB peruano é o que mais cresce na América do Sul e o segunda na América Latina, atrás apenas do Panamá.

"O Peru é um país que, apesar da crise, tem números muito sólidos. Em termos fiscais, monetários e cambiais, parece estar protegido no curto prazo ante a qualquer problema internacional", diz Claudia Cooper, pesquisadora do Centro de Investigação da Universidade do Pacífico, de Lima. "Uma fatia enorme do crescimento do PIB é baseado em empresas pequenas, que não são tão sensíveis ao tema internacional e estão crescendo."

Em junho, o setor de construção cresceu 20,56% no Peru. O PIB do setor de serviços subiu 7,79%; o do comércio, 6,69%, segundo o Instituto Nacional de Estatística e Informática (Inei). "A evolução positiva da demanda interna se reflete no aumento das vendas de imóveis, de 6,91%, do consumo do governo, de 10,51%, da importação de bens de consumo, de 24,56%, e da venda de carros leves, de 48,88%", disse o instituto em nota. "Além disso, o investimento em construção cresceu 20,56%."

Segundo o banco BBVA, alguns indicadores mostram que a economia peruana continuou acelerando no mês passado, o que deve resultar num número do PIB maior ainda para julho. No período, segundo o banco, a produção de energia elétrica cresceu 6,3%, e as importações subiram 23,8% ante julho de 2011. Em junho, a alta na produção elétrica foi de 5,1%, enquanto as importações caíram 1%.

"Somos um país que começa bem de baixo. Por isso, há muito espaço para crescer", diz Cooper. "Na construção civil, por exemplo, muito do crescimento está no interior. Há muitas obras de infraestrutura também."

Segundo o Inei, o repique da economia reduziu o desemprego em Lima de 7% para 6,2% no trimestre móvel entre maio e julho. O número de desempregados em Lima caiu em 31 mil pessoas, para 298,7 mil, diz o instituto.

Com desemprego baixo e o consumo em alta, a maior preocupação do governo é socorrer as exportações, mais vulneráveis à crise internacional. Desde setembro de 2011, foi liberado US$ 1,7 bilhão para estimular investimentos.

Para Carlos de los Ríos, do Instituto de Estudos Peruanos, os bons dados recentes podem não se sustentar no médio prazo "se o país não resolver problemas como a burocracia e o elevado conflito social". "Esses são elementos que em algum momento pesar", diz De los Ríos. "Daqui a cinco, dez anos, vamos enfrentar os primeiros freios."