Título: Exploração de denúncias contra Lula marca debate
Autor: Fernandes, Maria Cristina e Junqueira, Caio
Fonte: Valor Econômico, 09/10/2006, Política, p. A6

A pancadaria começou no primeiro minuto como prenunciava o breve e frio aperto de mãos cinco minutos antes do início do debate de ontem na Rede Bandeirantes. "O presidente da República é o comandante das Forças Armadas, da Abin e da Polícia Federal. É um dos homens mais informados do país. De onde veio o dinheiro para comprar o dossiê fajuto, candidato?", disparou o candidato do PSDB à Presidência da República Geraldo Alckmin.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que ao contrário de Alckmin, não fez os cumprimentos de praxe aos telespectadores ao falar pela primeira vez, disse que a candidatura dele tinha sido a única prejudicada pelo dossiê, e recorreu ao dossiê Cayman, que me 1998, preferiu denunciar a usá-lo na campanha. Referia-se a Alckmin como governador quando era chamado de candidato pelo tucano.

"Veja telespectador, ele não sabe. Um trabalhador que ganha salário mínimo viveria 416 anos com aquele R$ 1,7 milhão. Não teve coragem de perguntar ao seu churrasqueiro nem ao diretor do Banco do Brasil.", disse Alckmin. "Não sou policial, sou presidente da República. Talvez meu adversário tenha saudades do tempo da ditadura quando em meia hora já se sabia de tudo. Não vou culpar inocentes. Quando a Polícia Federal tiver a resposta serei o primeiro a ter interesse em divulga-la", respondeu Lula.

Em seguida o presidente perguntou se Alckmin sabia que Barjas Negri, que assumiu a secretaria de Habitação do Estado, a o deixar o ministério da Saúde, tinha envolvimento com a máfia dos sanguessugas. Alckmin respondeu que Lula não tinha moral para falar de ética. Lula retrucou dizendo que nunca impediu o Congresso de fazer uma única CPI, e disse que Barjas Negri foi presidente da CDHU, autarquia do governo de São Paulo que tem um dos mais altos orçamento do Estados e que uma CPI proposta para investigá-la foi barrada.

"Quanta mentira", retrucou Alckmin, mantendo o tom inciso com que iniciou e terminou o debate. O candidato tucano citou questões regimentais para o não funcionamento das CPIs paulistas e disse que a CPI dos Correios só saiu por força de Roberto Jefferson.

No bloco seguinte as CPIs da Assembléia Legislativa de São Paulo voltaram à cena e a responder Alckmin disse que Lula não precisaria torturar ninguém para saber a origem do dinheiro, bastaria perguntar aos amigos do presidente, "seus amigos do PT".

Lula perguntou sobre as diferenças entre as políticas sociais entre os governos federal e paulista. " A primeira diferença é de caráter, citou o dizia Mário Covas". O candidato do PSDB citou cinco ministros denunciados. " O estranho não é ter ministro envolvido, é não ter investigação. O Valeiroduto começou no PSDB de Minas Gerais." E retrucou a referência a Covas. Disse que era um home de tanto caráter que não deixou que o PSDB apoiasse Fernando Collor e entrasse no seu governo. " O governador esqueceu onde começou a compra de votos nesse país, na aprovação da emenda da reeleição."

Lula seguidamente bateu na política de privatizações do PSDB e tentou caracterizar a sua gestão como a que tinha vendido patrimônio das estatais brasileiras. Alckmin disse que as privatizações dos governos do PSDB foram feitas em leilões públicos e que nada tem a ver com os escândalos do dólar na cueca. "É a única coisa que vocês sabem fazer" retrucou Lula.

Alckmin citou as palmas para Kofi Anan, secretário-geral da ONU, como se fossem para Lula no horário eleitoral gratuito. O presidente pediu direito de resposta. Alckmin reagiu. A produção do programa do programa não concedeu.

Mais nervoso do que Alckmin no início do debate, Lula só começo a ficar mais à vontade quando entrarão as questões mais temáticas. Guerrearam números, estatísticas e acusaram-se reciprocamente por obras inacabadas.

De um de outro lado, todos saíram do debate proclamando a vitória de seu candidato.

À platéia, do lado direito, estavam os ministros Márcio Thomás Bastos (Justiça), Dilma Rousseff, (Casa Civil), Luís Marinho (Trabalho), Luiz Dulci (Secretaria Geral da Presidência), Tarso Genro (Coordenação Política), Silas Rondeau (Energia), Celso Amorim, Itamaraty, Patrus Ananias (Desenvolvimento Social), além de Sérgio Gabriele, (presidente da Petrobras), Aldo Rebelo (PCdoB-SP), Marta Suplicy (ex-prefeita de Paulo) e os candidato derrotado ao governo de São Paulo Aloisio Mercadante.

À esquerda a bancada de Geraldo Alckmin, era composta pelos governador eleito de São Paulo , José Serra que chegou poucos minutos antes do início da transmissão, ao lado da mulher Mônica Serra, o presidente do PSDB, senador Tasso Jereissati (CE), além dos senadores Artur Virgílio (PSDB-AM) e Heráclito Fortes (PFL-PI) e do prefeito da capital Gilbert Kassab (PFL).