Título: Divergência entre aliados emperra campanha de Alckmin em 6 Estados
Autor: Ulhôa, Raquel
Fonte: Valor Econômico, 09/10/2006, Política, p. A10

A aliança entre a senadora Roseana Sarney (PFL-MA), candidata ao governo do Maranhão, e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva neste segundo turno das eleições é considerada pelo senador José Jorge (PFL-PE), candidato a vice-presidente na chapa do tucano Geraldo Alckmin, "uma atitude de alta traição" ao PFL. A Comissão Executiva Nacional do partido deve se reunir antes do segundo turno para discutir eventuais punições à senadora.

"Eu, particularmente, fico muito atingido por essa decisão da Roseana. Quando ela foi vítima do chamado 'caso Lunus' (episódio que derrubou a candidatura de Roseana a presidente, em 2001, depois que a Polícia Federal invadiu empresa da família e encontrou R$ 1,34 milhão em dinheiro), eu era ministro de Minas e Energia e pedi demissão em solidariedade a ela", afirmou o vice de Alckmin.

O Maranhão é um dos seis estados geradores de crise para a campanha de Alckmin na primeira semana após o primeiro turno das eleições. A sucessão de problemas na coligação PSDB-PFL expõe a fragilidade da articulação política da candidatura tucana, que no primeiro turno deixou acumular divergências nos estados. "Agora, são tantos os conflitos que seria preciso uma super cabeça pensante para resolvê-los", definiu um integrante do comando político.

Além do Maranhão, a candidatura Alckmin encontra dificuldades em sua base aliada principalmente no Rio de Janeiro, na Bahia, no Rio Grande do Norte, no Distrito Federal e em Goiás neste segundo turno. Faltaram, na avaliação de integrantes da campanha, estratégia política e credibilidade à candidatura.

O caso do Maranhão é típico. No primeiro turno, o PSDB negou apoio a Roseana e lançou candidato próprio. A senadora recebeu a visita de Alckmin e disse que ficaria neutra na disputa presidencial. Mas, nos últimos comícios, ela chegou a ensinar o eleitor a votar em Lula. Agora disputando o governo com Jackson Lago (PDT), Roseana explicitou o apoio ao presidente, que retribuiu publicamente.

Alckmin conduz as articulações para driblar crises. Tentou convencer o ex-senador Geraldo Melo (PSDB) a levar o PSDB do Rio Grande do Norte a apoiar o senador Garibaldi Alves (PMDB) ao governo estadual, que disputa com Wilma de Faria (PSB). Melo, que teve sua candidatura do Senado preterida pela coligação do PMDB, vem resistindo. Para dirigentes pefelistas, faltou ao PSDB firmeza para cobrar dos diretórios um critério de relacionamento com aliados.

No Rio, o deputado federal Eduardo Paes (PSDB) se lançou ao governo, interrompendo negociação de Alckmin com o pemedebista Sérgio Cabral e irritando o prefeito César Maia (PFL), que lançou a deputada Denise Frossard (PPS). O apoio do casal Garotinho, num encontro com Alckmin em São Paulo, provocou rompimento de Maia e Frossard. Depois de muita conversa, houve recuo. Desde o início, o prefeito faz críticas à condução da campanha.

Na Bahia, a divergência histórica entre PSDB e PFL provocou vários constrangimentos desde que o diretório estadual tucano precisou restringir às pressas evento programado para receber Alckmin, por causa de veto do senador Antonio Carlos Magalhães (PFL). Na semana passada, nova saia justa. ACM marcou reunião de Alckmin com pefelistas, em Salvador, e o PSDB, às pressas, programou seu próprio evento. No discurso, o deputado Jutahy Júnior, presidente do PSDB local, cobrou apoio de Alckmin à gestão do petista Jaques Wagner, se for eleito presidente. Wagner derrotou o governador Paulo Souto (PFL).

Goiás e Distrito Federal também estão dando trabalho à coordenação da campanha e ao próprio Alckmin. Em Goiás, o senador Demóstenes Torres (PFL), derrotado na disputa para governador, se nega a apoiar Alcides Rodrigues (PP), candidato do ex-governador Marconi Perillo (PSDB). No Distrito Federal, a governadora tucana Maria de Lurdes Abadia se recusa a subir no palanque de Alckmin ao lado do governador eleito, José Roberto Arruda (PFL), que a derrotou.

No início da campanha, as críticas entre tucanos e pefelistas levaram à criação de um conselho político, integrado pelos presidentes dos dois partidos, senadores Tasso Jereissati (PSDB) e Jorge Bornhausen (PFL), os coordenadores do PSDB e do PFL - respectivamente senadores Sérgio Guerra e Heráclito Fortes -, e líderes na Câmara e no Senado. A senadora Lúcia Vânia (PSDB-GO) tem a missão de mapear divergências locais. O conselho foi ampliado para receber os presidentes do PPS e do PMDB, deputados Roberto Freire (PE) e Michel Temer (SP). O pemedebista Moreira Franco (RJ) também passou a integrar. Temer e Moreira foram os articuladores do apoio de Garotinho a Alckmin, com Tasso.