Título: Sul e Centro-Oeste terão as eleições menos competitivas do país
Autor: Klein , Cristian
Fonte: Valor Econômico, 20/08/2012, Política, p. A8

Mais da metade dos 5.565 municípios brasileiros (51,1%) terão apenas dois candidatos disputando a prefeitura nas eleições de outubro. É o que mostra um estudo feito pela Confederação Nacional de Municípios (CNM) baseado em dados divulgados pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). A população nestes 2.850 municípios é de aproximadamente 35 milhões de pessoas, ou 18,5% do total do país. Estarão em disputa os votos de 27,1 milhões de eleitores.

O Nordeste é a região onde haverá o maior número absoluto de confrontos (934) com apenas dois concorrentes. Proporcionalmente, no entanto, de acordo com levantamento do Valor, o ranking é liderado por Sul (65%) e Centro-Oeste (54%). Todos os seis Estados destas regiões estão no topo das dez unidades da Federação com maior taxa de eleições polarizadas entre dois candidatos. Em Santa Catarina, nada menos que 213 dos 293 municípios, ou seja, 72,7%, oferecerão apenas duas opções para prefeito a seus eleitores.

O pouco número de candidatos é geralmente associado à baixa competitividade e a um ambiente de oligarquização política. O resultado, porém, contrasta com a noção de que Norte e Nordeste seriam as regiões mais oligarquizadas. O Nordeste fica em terceiro lugar, pouco acima na média nacional, com 52% de seus municípios com disputas entre só dois candidatos. A região Norte é a que tem menos, 37%, taxa inferior à do Sudeste, com 44%.

O quadro é semelhante quando se observam os municípios onde haverá apenas um candidato - situação de ainda menos competitividade. Neste ranking, a maioria dos Estados do Sul e do Centro-Oeste permanece concentrada na parte superior da tabela - os líderes são Mato Grosso do Sul (5,1%), Paraná (4,5%) e Rio Grande do Sul (4%). A maioria dos Estados do Norte ocupa a parte inferior, o que indicaria uma menor oligarquização.

Uma explicação comum para a baixa competitividade política vem da teoria socioeconômica. Eleições em áreas com indicadores de renda e escolaridade mais altos tenderiam a apresentar um ambiente mais plural, com mais concorrência e candidatos - o que não ocorre, de acordo com o levantamento. O Sul é a região que tem o melhor Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do país e o Centro-Oeste apresenta o segundo maior PIB per capita.

O cientista político Wanderley Guilherme dos Santos, um dos maiores especialistas no assunto, se diz surpreso.

"São dados importantes, que não merecem uma resposta rápida. Mas as explicações socioeconômicas costumam esquecer outras variáveis intervenientes. Uma área mais rica e avançada, por exemplo, pode ser monocultora e ter interesses homogêneos", destaca.

Santos cita algumas pistas que poderiam explicar a baixa competitividade, como o número de candidatos à reeleição (o que inibiria a concorrência) e o número de partidos organizados nos municípios. O cientista político sugere ainda "descer mais" ao nível das cidades, o que poderia revelar similaridades entre municípios de regiões diferentes.

Para Gelson Merisio, deputado estadual e presidente regional do PSD em Santa Catarina, Estado que lidera o número de disputas com apenas dois candidatos, a explicação está no tamanho do eleitorado.

"Os municípios são muito pequenos. É o caso destes 72% que têm só duas candidaturas. Uma cidade de médio porte aqui tem 10 mil eleitores. A média está entre 7 mil e 8 mil eleitores. E nestes municípios, ou se é contra ou a favor, oposição ou governo", afirma Merisio.

O político rechaça a ideia de que a disputa com poucos candidatos implique oligarquização. "Não é porque haja alienação. A disputa é muito politizada e parelha. E quanto mais politizada, há mais informação. Por aqui são feitas muitas pesquisas, talvez mais que em outras regiões, e uma candidatura que não é viável, não se constrói. O processo eleitoral se dá mais antes do que depois das convenções", diz.

O pequeno tamanho do eleitorado, de fato, pode ter influência para a escassez de candidaturas. Entre os dez Estados que lideram no ranking de cidades com apenas dois concorrentes à prefeitura, oito também estão na lista dos que têm maior proporção de municípios com até 10 mil eleitores.

Além disso, nenhum dos 83 municípios brasileiros com mais de 200 mil eleitores - onde pode ocorrer segundo turno - consta na lista. Terão apenas dois candidatos a prefeito 14 cidades com mais de 100 mil habitantes, sendo a maior delas Cachoeiro do Itapemirim, no Espírito Santo, com 191.041 moradores. No município, a disputa é governista, entre PT e PR. O atual prefeito Carlos Casteglione (PT) busca a reeleição amparado por uma coligação com outros dez partidos (PRB, PDT, PTB, PSL, PTN, PHS, PV, PRP, PSDB e PTdoB), mas está nas pesquisas de intenção de voto atrás do candidato do PR, o deputado estadual Glauber Coelho, cuja coligação agrega outros 12 partidos (PP, PMDB, PSC, PPS, DEM, PRTB, PMN, PSB, PSD, PCdoB, PSDC e PTC).

Duelos como este, protagonizados por partidos da base do governo federal, predominam entre os 2.850 municípios com disputas bipolares. Em quase metade dos confrontos (45,3%) a competição será entre legendas que dão sustentação à presidente Dilma Rousseff.

O confronto mais comum entre partidos governistas é PMDB contra PP, o que acontecerá em 180 cidades. Os pemedebistas - que detêm a liderança no número de candidaturas a prefeito - protagonizam cinco dos seis maiores duelos.

Tradicionais adversários na disputa nacional, PT e PSDB se enfrentam sem outras siglas no páreo em 105 municípios, no quinto maior duelo.

Legendas da base do governo disputarão o comando municipal com partidos de oposição em 794 dessas cidades (27,9%).

O terceiro maior grupo (17,7%), em relação ao alinhamento ao Executivo federal, é de duelos entre partidos que apoiam o governo e legendas independentes, como o PV. O quarto maior (6%) terá oposição contra independentes. Em apenas 2,2% dos casos, haverá um briga entre partidos da oposição.

Criado apenas em 2011, o PSD será o adversário do PMDB - partido que mais lançou candidatos a prefeitura - em 149 cidades. Destes confrontos diretos, 57 ocorrerão na região Sul, e destes, 49 serão em Santa Catarina.

Na eleição de 2008, houve disputas entre somente dois partidos em 2.553 (45%) das cidades, ocorrendo um aumento no número de duelos nesta eleição, o que pode indicar uma maior polarização política no Brasil, avalia o relatório da CNM.