Título: Cresce otimismo nos EUA apesar de retomada instável
Autor: Dougherty , Conor
Fonte: Valor Econômico, 20/08/2012, Internacional, p. A12

Os americanos estão ganhando confiança na economia do país, indicou um novo relatório, mas continuam preocupados com as ameaças que poderiam acabar com o progresso modesto alcançado durante três anos de uma recuperação instável.

Uma série de dados encorajadores divulgados nas últimas semanas - que se seguiram a um tímido começo de segundo semestre - aliviaram os temores de uma recessão e, ao mesmo tempo, ressaltaram o ritmo irregular e lento da recuperação.

O índice de confiança do consumidor publicado pela Universidade de Michigan subiu de 72,3, em julho, para 73,6 na leitura preliminar de agosto, o melhor resultado desde maio. O aumento do emprego ganhou força em julho, e as demissões diminuíram depois de um pico no segundo trimestre. As exportações - um fator de peso na recuperação americana até aqui - vêm se mostrando surpreendentemente resistentes apesar da recessão na Europa e da redução do crescimento na Ásia. E os consumidores passaram a gastar mais em quase tudo, de carros a restaurantes.

O crescimento da economia continua caminhando a passos de tartaruga. A produção aumentou um mero 1,5% no segundo trimestre, e a maioria dos economistas espera um desempenho só um pouco melhor no segundo semestre. O perfil ondulante da recuperação se refletiu no relatório da confiança do consumidor, divulgado na sexta-feira, que mostrou que os consumidores estão mais animados com as condições presentes, mas mais pessimistas sobre o futuro.

Os sinais recentes de melhora do cenário poderiam complicar uma decisão que o Federal Reserve está prestes a tomar. As autoridades do banco central dos Estados Unidos vêm há meses manifestando preocupação com o fato de a economia estar crescendo devagar demais para diminuir o desemprego. Elas indicaram no começo do mês que estavam inclinadas a tomar novas medidas para estimular o crescimento.

Mas, com a economia dando sinais de estar ganhando impulso por conta própria, alguns membros do Fed poderiam mudar de ideia, embora os dados provavelmente não tenham melhorado o suficiente, e nem por um tempo longo o bastante, para alterar drasticamente a visão que maioria das autoridades tem do cenário econômico.

Se o Fed resolver esperar, esses dados econômicos melhores podem vir a ser uma faca de dois gumes para investidores que vêm torcendo por uma nova rodada de estímulos do banco central.

Até agora, os mercados financeiros fizeram eco à pequena melhora da economia. O mercado de ações está se aproximando do seu nível mais alto em quatro anos. A média industrial Dow Jones subiu por seis semanas seguidas, a sequência de altas mais longa desde janeiro de 2011. Desde o início de junho, a Dow Jones já subiu 9,7%. O índice ganhou 25,09 pontos na sexta-feira, fechando em 13.275,20.

"Essa disparada que vimos desde junho está ligada à estabilização e a algumas melhoras no quadro econômico", disse Jim McDonald, estrategista-chefe de investimento da Northern Trust Corp. em Chicago, que administra US$ 704 bilhões em ativos.

Os dados recentes assinalam uma nítida melhora em relação a uns dois meses atrás, quando o crescimento estagnado do emprego e o declínio nos gastos dos consumidores levaram muitos economistas a sugerir que os EUA estavam caindo de volta numa recessão. Alguns economistas argumentaram que isso de fato já aconteceu. Mas, entre os extremos de recessão e expansão, está a dolorosa realidade que vem assolando a recuperação desde o início: a economia dos EUA está presa a um ritmo de crescimento lento e inconstante.

Desde que a recessão acabou, mais de três anos atrás, a economia dos EUA várias vezes pareceu estar a ponto de decolar, apenas para perder força em seguida. Por outro lado, apesar dos repetidos alarmes, ela nunca voltou a parar de vez. Nos últimos três anos, o crescimento e o emprego subiram nos primeiros meses, mas esmoreceram notavelmente em meados do ano.

"O cenário geral é de uma recuperação anêmica", disse Joshua Shapiro, economista da MFR. "É um processo muito longo de recuperação depois do estouro das bolhas de crédito e ativos, e nós ainda não chegamos ao fim."

Hank Sybesma experimentou em primeira mão as paradas e arrancadas da recuperação. Sua empresa de eletrônicos e consertos em Michigan, a Sybesma"s Electronics, acostumou-se bastante aos clientes que faziam pedidos e os cancelavam ao constatar que as vendas deles estavam aquém do esperado.

"Temos uma empresa que chega e diz: "Precisamos fazer isso", e eu penso "Oba!". E então, de repente, eles voltam com más notícias e o serviço desaparece", disse Sybesma. "Esse é o lado ruim da economia neste momento: ela está impossível de se prever."

Um crescimento acelerado vem se mostrando difícil de se materializar em grande parte porque, apesar dos pontos fortes, o motor da economia nunca pôde movimentar todos os seus cilindros. O mercado imobiliário e as novas construções - motores críticos de toda recuperação americana no pós-guerra - permanecem em níveis raquíticos. As empresas vêm aproveitando os juros baixos para investir em novos equipamentos, mas o setor público se mantém acorrentado a orçamentos apertados. Embora os preços continuem baixos e as finanças das famílias comecem a se equilibrar, a combinação de desemprego alto e crescimento lento dos salários diminui a capacidade ou a disposição do consumidor de gastar.

Essa fraqueza ampla e persistente deixou a economia americana mais vulnerável aos choques externos. Há um ano, foram as interrupções na cadeia de suprimento causadas pelo terremoto no Japão e a disparada nos preços no petróleo deflagrada pelas agitações no Oriente Médio. Hoje, as ameaças incluem o lento crescimento no exterior, a possibilidade de que a crise financeira europeia abale os mercados dos EUA e a perspectiva de o Congresso americano não ser capaz de resolver o iminente "abismo fiscal": os bilhões de dólares em aumento de impostos e cortes de gastos do governo marcados para 2013. (Colaboraram Jon Hilsenrath e Jonathan Cheng)