Título: Movimentos entram na campanha de Lula
Autor: Nassif, Maria Inês e Agostine, Cristiane
Fonte: Valor Econômico, 09/10/2006, Política, p. A12

Os movimentos sociais, que ganharam uma enorme autonomia do PT nesses quase quatro anos de governo Lula e assumiram um discurso crítico em relação às suas políticas, abstiveram-se de uma participação efetiva na campanha presidencial do primeiro turno, mas voltam com força no segundo turno. "É uma questão de vida ou de morte", afirmou Frei Betto. "Não podemos deixar o governo voltar para os tucanos". Segundo Frei Betto, as pastorais ligadas à igreja progressista - que têm mais capilaridade que qualquer partido no país - estão "muito envolvidas". "É um movimento descentralizado e capilarizado", afirmou. Frei Betto fez parte do governo e saiu, denunciando seu afastamento dos compromissos sociais.

Da mesma forma, o MST, que antes do primeiro turno havia se eximido de participar das eleições - embora reconheça que boa parte de sua base votou em Lula - tende a apoiar de maneira mais efetiva o PT, na reta final da disputa presidencial. Em entrevista à Agência Carta Maior, o líder dos sem-terra João Pedro Stédile, manteve as críticas ao que considera conservadorismo do governo petista, mas afirmou que a opção por Lula é a opção por "derrotar a direita, derrotar a candidatura Alckmin", pois "Alckmin representa a retomada do poder pelas classes dominantes, para implementar de forma hegemônica o capital financeiro".

A Consulta Popular, que se intitula um "movimento político" - é uma espécie de fórum de movimentos sociais de esquerda que recusa a institucionalidade, como a opção de se transformar num partido político - também tende a aderir à candidatura Lula. Em julho, uma plenária deliberou que a Consulta não assumiria oficialmente candidaturas, mas aproveitaria o momento eleitoral para "denunciar os limites políticos que impedem a execução de um projeto popular", segundo um de seus coordenadores, o advogado Ricardo Gebrin. Agora, afirmou Gebrin, a coordenação nacional está consultando as regionais sobre a mudança de rumo. "Embora sabendo que o governo Lula não representa nenhum perigo ao grande capital, avaliamos que uma vitória de Alckmin traria três grandes problemas: a retomada do projeto da Alca, a criminalização dos movimentos sociais e também, do ponto de vista simbólico, a derrota de um candidato que é produto de um esforço histórico da luta popular".

A volta da militância social dá outro impulso à campanha petista, que assumiu, como estratégia nacional, levar a campanha para as ruas. Os prefeitos fazem parte desse esforço. No Rio Grande do Sul, o comitê estadual recomendou aos 40 prefeitos do partido tirarem férias para se dedicarem exclusivamente à campanha. Em Santa Catarina, a mesma recomendação foi feita a vices e detentores de cargos de confiança. A campanha de rua está sendo articulada no maior número de municípios e a recomendação geral é que se incluam os sindicatos e os movimentos sociais. Em Sergipe, o comitê de campanha realizou, na sexta, uma plenária com cerca de 5 mil pessoas, entre prefeitos, parlamentares e militantes de todos os partidos da coligação PT, PCdoB, PMDB, PL, PTB e PSB, segundo o presidente do diretório estadual, Márcio Macedo. No Rio Grande do Norte, o presidente do diretório estadual, José Geraldo Saraiva, afirma que a mobilização é por municípios e, dentro deles, por regiões. No Ceará, a frente municipal pró-Lula, que congrega 120 dos 184 prefeitos do Estado, é casada com a mobilização social.

Em São Paulo, um dos onze Estados onde o presidente perdeu, a campanha planeja para amanhã um grande ato na capital. A cobrança sobre o desempenho dos prefeitos paulistas aumentou com a nova coordenação da campanha no Estado, encabeçada por Marta Suplicy e, a exemplo do Rio Grande do Sul, alguns prefeitos cogitam licenciar-se temporariamente do cargo para dedicar-se em tempo integral à campanha. Os mais visados são os que estão no segundo mandato.

O coordenador da mobilização dos prefeitos no Estado, Elói Pietá, prefeitos de Guarulhos, vai tirar alguns dias de férias para cuidar da campanha de Lula. No primeiro turno, o prefeito também afastou-se temporariamente para trabalhar por Lula e pela candidatura da esposa à Assembléia.

Exemplo de votos usado pela coordenação da campanha paulista em reuniões, o município de Hortolândia conseguiu 67,36% para Lula, contra os 22,31% obtidos por Alckmin. O prefeito Ângelo Perugini diz que não pretende se afastar da função, mas fará se o PT determinar.

A campanha de sua esposa, Ana Perugini, na disputa pela Assembléia Legislativa, ajudou a alavancar votos para o presidente. Mas o fundamental, avalia o prefeito, foram os programas como o Prouni, o Bolsa-Família e o Farmácia Popular. "Em Hortolândia, 85% da população ganham menos do que cinco salários mínimos. Os programas federais penetraram bem. Aqui é bem mais parecido com o Nordeste do que com o Estado de São Paulo", comentou.

Nas cidades onde o presidente não foi bem, a cobrança foi pesada, como no caso de São Carlos, governada por Newton Lima Neto. A derrota de Lula para Alckmin foi significativa no primeiro turno (67,36% contra 22,31% do petista). A meta agora é no mínimo conseguir 35% dos votos, a partir de dois discursos. Para os prefeitos, será ressaltada a relação respeitosa de Lula com os prefeitos. Para o povo, serão destacadas as deficiências na educação, na saúde e na segurança pública paulista.

Na Grande São Paulo, a votação não foi boa para Lula. Perdeu até em Guarulhos. Em Osasco, uma das poucas cidades da região onde conseguiu votação superior a de Alckmin, o prefeito avalia a possibilidade de afastar-se do cargo para se dedicar à campanha.