Título: Economia piora e Grécia deve pedir revisão de metas do pacote de ajuda
Autor: Moreira , Assis
Fonte: Valor Econômico, 20/08/2012, Especial, p. A18

A economia da Grécia piorou e parece ser só questão de tempo até o país mergulhar mais na crise e causar novas turbulências nos mercados, acreditam analistas. O governo grego quer obter prazo adicional para fazer o ajuste fiscal acertado, mas o foco pode terminar na necessidade de nova reestruturação da dívida - dentro ou fora da zona do euro.

O risco de calote diminuiu pelo momento. O governo vendeu € 4,1 bilhões de títulos da divida na semana passada, obtendo dinheiro para pagar os bônus de € 3,1 bilhões em mãos do Banco Central Europeu (BCE) que vencem hoje.

Mas a depressão grega parece não ter fim. O PIB no segundo trimestre caiu 6,2%, em base anual, no pior desempenho em nove anos. A economia grega encolheu 18% desde 2007.

Além disso, a projeção embutida no segundo programa de socorro financeiro para Atenas, de contração econômica de 4,8% este ano, é considerada otimista demais. A estimativa do mercado é de queda de 6,5% na atividade econômica, pela combinação de austeridade e deterioração econômica internacional.

Ao mesmo tempo, a troika de credores - FMI, Comissão Europeia e Banco Central Europeu - pretende exigir corte de € 14 bilhões em despesas nos próximos dois anos, € 2,5 bilhões a mais do que originalmente previsto, segundo a revista alemã "Der Spiegel". Só assim Atenas poderia receber a próxima parcela de € 31,5 bilhões do segundo pacote de socorro e evitar calote depois de outubro.

Até agora, o governo grego concordou em enxugar mais o setor público, com corte adicional de 40 mil cargos, somando 150 mil, ou 20% do setor. Mas sabe que a medida de austeridade adicional importante é uma bomba politica, que amplifica o ressentimento popular, ainda mais quando a taxa de desempregados é de 23,1% e pode subir para 29% até o fim do ano, contra 11,2% na média na zona do euro.

Nesse cenário, o primeiro-ministro, Antonis Samaras, terá esta semana encontros bilaterais "cruciais" com a premiê alemã, Angela Merkel, e com o presidente francês, François Hollande, para discutir sua demanda de extensão do plano de ajuste fiscal de dois para quatro anos. Mais tempo significa também a necessidade de mais dinheiro.

A Alemanha e alguns governos insistem que não haverá mais fundos se Atenas não respeitar os termos do pacote de socorro. Outros, como a França, parecem mais abertos à ideia de desacelerar o ritmo de redução do déficit. Para Gavan Nolan, da consultoria Markit, nos dois casos a incerteza deverá causar volatilidade nos mercados nas próximas semanas.

Para o analista Ben May, é possível que as autoridades da zona do euro concordem com algumas das mudanças propostas pela Grécia, mas que isso apenas ganhará um pouco de tempo na crise atual.

Cresce o consenso de que, com deterioração econômica maior que a prevista, as contas públicas na Grécia não retornarão tão cedo a níveis sustentáveis. No mercado financeiro, circula a versão de que o FMI estaria agora querendo um pacote de socorro que assegure a Atenas uma dívida abaixo de 100% do PIB até 2020, ao invés do objetivo de 120% fixado há um ano.

Para certos analistas, dar flexibilidade no plano de ajuste grego, sem novos recursos, pode implicar nova reestruturação da dívida, que incluiria quase certamente o setor oficial.

Assim, a maior parte de funding necessário para a Grécia poderia vir do refinanciamento da divida de € 60 bilhões que vencerá nos próximos trimestres e é detida pelo Banco Central Europeu (€ 38 bilhões), FMI (€ 9 bilhões) e por bancos gregos.

"Não está claro se isso é aceitável para o FMI ou assessores europeus, mas é o que oferece a flexibilidade maior sem prejudicar as perspectivas de crescimento no médio prazo"", afirma Huw Worthington, do banco Barclays. Mais pessimista, Ben May aposta no colapso do programa de socorro e acha que a saída grega da zona do euro é questão de alguns meses.