Título: Na TV, presidente regionaliza campanha e Alckmin cobra apuração de denúncias
Autor: Lyra, Paulo de Tarso e Ulhôa, Raquel
Fonte: Valor Econômico, 09/10/2006, Política, p. A12

Enquanto a campanha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva deve aprofundar o enfoque regional nos programas do horário eleitoral, que recomeçam na quarta-feira, o candidato Geraldo Alckmin pretende insistir na cobrança sobre a origem dos R$ 1,7 milhão apreendidos com petistas para a compra de um dossiê contra tucanos. Mas nem o marqueteiro do PT, João Santana, nem o do PSDB, Luiz González, pretendem fazer mudanças radicais na linha que adotaram no primeiro turno.

Além dos programas do horário gratuito, os dois marqueteiros dedicaram atenção especial, durante a semana, aos debates entre os dois candidatos, o primeiro dos quais no domingo, dia 8. Os tucanos também monitoravam a ação do governo para se distanciar do dossiê Vedoin: no fim de semana, por imposição da campanha de Lula, o presidente do PT, Ricardo Berzoini, foi afastado do cargo e o Banco Central anunciou que já rastreara o dinheiro para a aquisição do dossiê. O discurso de Alckmin sobre a questão será ajustado às explicações que o governo der.

Pelo lado de Lula, a idéia é reeditar uma estratégia utilizada com sucesso entre o fim do ano passado e o início de 2006 para recuperar sua popularidade, desgastada após o escândalo do mensalão. Até a proibição da veiculação da propaganda institucional, o governo fez campanhas regionais massivas, ressaltando as obras de Lula nos Estados. O mesmo recurso deve ser empregado agora, com os programas mostrando, detalhadamente, as ações do governo federal em cada Estado.

O formato do programa está sendo guardado a sete chaves, mas a intenção é deixar claro para o eleitor as diferenças entre o governo Lula e os oito anos de administração de Fernando Henrique Cardoso. "Nos dez minutos de programas teremos condições de aprofundar os avanços que o governo Lula trouxe para o país", diz um integrante do conselho político da campanha do presidente da República.

Nos discursos da semana passada, Lula já vinha dando sinais dessa estratégia, ao lembrar, por exemplo, que em São Paulo foram aplicados R$ 2 bilhões em programas assistenciais como o Bolsa Família. Na quinta-feira, durante encontro no Alvorada com o candidato do PMDB ao governo do Rio, Sérgio Cabral Filho, o presidente afirmou que "99% dos programas sociais dos Estados são patrocinados pelo governo federal, mas ninguém fala isso".

Na campanha de Alckmin, há convicção de que não se deve mudar tudo no programa eleitoral. A explicação é simples: 40 milhões de eleitores votaram em Geraldo Alckmin por conta do que viram e de como viram o candidato. Não muda a estratégia geral, portanto. A história do candidato, o que ele fez, quais foram as posições públicas que assumiu devem continuar no script, apesar das críticas de aliados como o prefeito do Rio, César Maia. A campanha tucana acredita que com isso, além de apresentar o candidato, dá credibilidade às suas falas no programa. Seria uma espécie de alicerce, de pista de decolagem, a alavancar as falas de Alckmin.

No segundo turno, a campanha de Alckmin vai insistir na pergunta - "de onde veio o dinheiro?" -, que continuará martelando enquanto o governo do presidente Lula não apresentar uma resposta. Os apoios só devem ser registrados na reta final da campanha, a exemplo do que já ocorreu no primeiro turno.