Título: Fabricantes de autopeças ampliam importações
Autor: Gómez, Natalia
Fonte: Valor Econômico, 09/10/2006, Empresas & Tecnologia, p. B1

Quando assinou um contrato de exportação com a Ford nos Estados Unidos, no final de 2004, a a fabricante de autopeças Cofap tinha tudo para comemorar. No entanto, a valorização do real reduziu a rentabilidade do negócio de tal forma que a empresa iniciou este ano uma batalha para reduzir seus custos. Para isso, está procurando novos fornecedores na China e na Argentina, que devem suprir até 70% das compras da unidade de camisas de cilindros da empresa no ano que vem. A estratégia já foi adotada por outras fabricantes de autopeças, como a Mangels e a Cummins.

"É natural as empresas tentarem aproveitar o barateamento do material importado. Até as fabricantes que não perderam nas exportações adotarão a medida", diz o sócio da PricewaterhouseCoopers, Marcelo Cioffi. Em comparação com segundo semestre de 2004, quando foi cotado a R$ 2,88 em média, o dólar teve uma queda de quase 25%.

A Mangels, fabricante de rodas e relaminados de aço, costumava importar da Ásia produtos intermediários como rolamentos para suas máquinas, mas desde 2005 passou a comprar no exterior parafusos e peças para o acabamento das rodas de alumínio e aço, produzidas em Três Corações (MG).

Segundo o diretor de relações com investidores da companhia, Adelmo Felizati, o volume de importações ainda é inferior a 2% das compras, o equivalente a R$ 8 milhões. No entanto, deve ser ampliado em 30% nos próximos meses. Felizati destaca que o aumento dos preços do aço no Brasil - causado pelo aumento da demanda mundial - contribuíram para o aumento das importações.

A fabricante de motores Cummins está utilizando o escritório de compras do grupo na China para ampliar suas compras no país e na Índia. "A diferença de preço chega a 50% devido ao custo menor e ao dólar barato", diz Antônio Marcos Zanardo, gerente da cadeia de suprimentos da Cummins do Brasil. A empresa, que exporta 15% da produção, começou a comprar nestes países camisas de cilindros, carcaças de volantes de alumínio e resfriadores de óleo e água. As importações chegam a US$ 80 milhões ao ano, 30% do total. A China, que antes não vendia para a empresa, hoje representa US$ 3 milhões das compras.

Apesar da mudança de alguns fornecedores, o executivo destaca que o Brasil continua a ser um importante fornecedor de fundidos para a Cummins nos Estados Unidos, onde fica a sede da empresa. De acordo com David Wong, especialista do setor automotivo da Kaiser Associates, os componentes metálicos são os mais competitivos da indústria de autopeças brasileira. "As áreas mais frágeis são ligadas aos itens eletrônicos", diz.

Outro entrave para o aumento das importações, segundo Wong, é a necessidade de certificar todas as novas peças junto às montadoras. De acordo com o produto, a aprovação pode levar três meses, em peças mais simples, a um ano e meio, para itens de segurança.

Em casos com o da Cofap, que está buscando fornecedores de ferro-ligas e ferramentais para máquinas, não há necessidade de aprovação desde que as compras sigam as especificações da montadora. "A compra de matérias-primas é menos complicada do que produtos acabados", diz Wong.

Integrante do grupo italiano Magneti Marelli, que pertence à Fiat, a Cofap pretende economizar até 30%. As importações devem chegar a US$ 15 milhões em 2007, segundo Lourival Abrão, diretor da unidade de camisas de cilindro, de São Bernardo do Campo (SP). Segundo ele, a empresa tem hoje menos competitividade em novas concorrências e mais dificuldades para fechar novos projetos. Enquanto representam 89% das vendas em volume, as exportações equivalem a 65% do faturamento.

Apesar de intensa, a busca da indústria por novos fornecedores no exterior ainda não aumentou as importações de autopeças. Até agosto, foram importadas 1,7 bilhão de peças, enquanto em 2005 o número foi de 1,77 bilhão no mesmo período, segundo Tereza Fernandez, diretora da MB Associados.

Questões logísticas podem inibir o aumento de compras no exterior, segundo Wong. Isso porque manter estoques de componentes cria a necessidade de maior capital de giro. "Quando se compra no mercado nacional, não é preciso ter estoques para se prevenir de atrasos nas entregas e dificuldades logísticas", afirma. Segundo ele, as empresas podem estar iniciando estratégias piloto de importação para avaliar melhor os riscos e alinhar seus projetos de substituição.