Título: Petrobras começa a trabalhar em seu megaprojeto de TI
Autor: Magalhães, Heloisa e Borges, André
Fonte: Valor Econômico, 09/10/2006, Empresas, p. B3

A Petrobras começou a definir os primeiros passos daquele que será um dos maiores projetos de tecnologia da informação (TI) já realizados pela empresa. Com investimentos da ordem de R$ 300 milhões reservados para obras físicas e infra-estrutura de informática, a companhia está finalizando o desenho de um novo data center de quatro mil metros quadrados, projeto que conta com a colaboração de especialistas da IBM para definição dos últimos detalhes.

Localizado na Ilha do Fundão, junto ao prédio do Centro de Pesquisas da Petrobras (Cenpes), o novo Centro Integrado de Processamento de Dados será o maior no gênero na América Latina. Segundo o gerente executivo de TI da estatal, Washington Luiz Faria Salles, o centro será "um dos cem maiores do mundo em processamento paralelo", técnica que permite "quebrar" ocorrências complexas de informática em pequenas unidades e distribui-las entre diversos computadores.

Com as novas instalações, que devem ser concluídas até 2008, a companhia petrolífera irá desativar seus dois atuais centros de processamento do Rio, transferindo os equipamentos. Seu parque tecnológico, que hoje conta com 2 mil computadores de grande porte atuando em processamento paralelo, deverá chegar a 4 mil máquinas, segundo o gerente de tecnologia de informação para as áreas de engenharia e pesquisa corporativa da estatal, Roberto Murilo Carvalho de Souza.

A envergadura do projeto fez com que a área de TI parasse para pensar em detalhes muitas vezes ignorados por empreendimentos de informática. O nível de detalhe chega, por exemplo, às técnicas previstas para refrigerar a parafernália tecnológica. "Tivemos a preocupação com o impacto no meio ambiente", afirma Salles. "No resfriamento vamos usar desde a água da chuva e do mar, até as de descarte interno que possam ser tratadas."

A atenção dada pela Petrobras ao megaprojeto encontra respaldo nas ambições que a estatal tem alimentado com a sua área de TI, as quais vão muito além do simples papel operacional que o setor de informática costuma ter em qualquer empresa. E não teria como ser diferente. Nas mãos do gerente executivo de TI, Washington Salles, está a destinação de um orçamento que, neste ano, atinge cerca de R$ 850 milhões.

Por isso, também figura na lista de prioridades desse executivo a estruturação - dentro do data center - de uma área voltada para tecnologias de realidade virtual, com recursos baseados em imagens de três dimensões (3D). Hoje, dois setores da Petrobras já utilizam essa tecnologia. Um deles está ligado a projetos de plataformas de petróleo e avaliação de manutenção. Com sistemas 3D, pesquisadores e engenheiros podem "caminhar" por essas unidades.

Outra área é a de exploração e produção, onde o recurso permite a realização de estudos avançados a partir da visualização de reservatórios de petróleo. Esses sistemas, diz Souza, já são usados atualmente. Mas a proposta é que, a partir do novo espaço, a companhia passe a contar com aplicações ainda mais avançadas. "A Petrobras tem as mais variadas aplicações de TI. Do centro de pesquisa voltado à exploração e produção intensiva de petróleo, até o processamento sísmico", comenta Souza.

Com um pé nas estratégias e outro em questões operacionais, o pessoal de informática divide-se para manter em funcionamento um arsenal tecnológico que, apenas no quesito computadores, soma hoje mais de 50 mil máquinas. Na retaguarda dessa infra-estrutura, diz Washington Salles, executivo de tecnologia, estão 1,4 mil profissionais de TI espalhados por unidades em todo o país. Mas essa mão-de-obra está longe de ser o suficiente. Para lidar com demandas de negócios e ao mesmo tempo gerenciar atividades que envolvem 85 mil usuários, a companhia petrolífera tem buscado, cada vez mais, meios de passar operações para as mãos de empresas especializadas.

Nessa rota rumo à terceirização, a Petrobras acaba de fechar um contrato de US$ 37 milhões com a Sonda, companhia chilena especializada em serviços TI. Ao lado da brasileira CTIS Informática, que já presta serviços de suporte à estatal, a Sonda irá montar uma central de apoio técnico. Serão 340 posições de atendimento, com 420 profissionais distribuídos em turnos de 24 horas, sete dias por semana. O volume estimado de chamados para a central, segundo projeções das empresas, chega a 120 mil por mês, sendo 80 mil ligados a operações rotineiras de escritório; e os demais 40 mil para suporte a usuários do sistema de gestão empresarial da fabricante SAP. "Não se trata apenas de uma central de atendimento", diz o gerente para a área de apoio ao usuário da Petrobras, Leonardo Bottino. "O pessoal dessa área está ali para atender e resolver o problema imediatamente."

Entre operações como a renovação anual de uma base de 10 mil computadores e o auxílio em projetos de perfuração de solo, o setor de TI procura se aproximar da área acadêmica. Neste momento, a Petrobras trabalha em ambientes de pesquisas e desenvolvimento com a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Os projetos concentram-se em estruturas de plataformas de petróleo e instalações marítimas em geral. Já com a Pontifícia Universidade do Rio de Janeiro (PUC-RJ) a companhia tem desenvolvido sistemas para a área de computação gráfica.

Cercada de informações e tecnologia de ponta, a Petrobras pôde anunciar na última semana a descoberta de uma jazida de petróleo leve e gás no litoral carioca, material que vinha adormecido sob uma camada de 2 quilômetros de sal. Comemorado pelo setor, o fato foi considerado um marco histórico para a exploração brasileira. À frente da área de TI, Salles também festejou, mas com uma boa dose de bom senso: "Para tudo o que a empresa faz, somos apenas um suporte, só mais uma ferramenta de apoio".