Título: BNDES libera financiamento de R$ 2,1 bilhões para Brasil Telecom
Autor: Rittner, Daniel
Fonte: Valor Econômico, 09/10/2006, Empresas, p. B3

A Brasil Telecom deverá receber até o fim de novembro a primeira parcela do financiamento de R$ 2,1 bilhões aprovado na sexta-feira pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), valor recorde para o setor de telecomunicações e um dos cinco maiores empréstimos já concedidos pela instituição.

Os recursos serão destinados à expansão da infra-estrutura de rede (dados, voz e imagem) e à área de tecnologia de informação da empresa (com foco em IPTV e no Único, que combina um telefone fixo e um móvel no mesmo aparelho).

O dinheiro também ajudará a operadora a cumprir as metas de universalização e de qualidade definidas pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), nos contratos de concessão renovados em 2005.

O financiamento deverá impulsionar o plano de investimentos da BrT para o triênio 2006-2008. Só neste ano será aplicado R$ 1,8 bilhão - a empresa não divulgou o valor dos anos seguintes.

A maior parte do empréstimo (62%) será liberada diretamente pelo BNDES. Uma parcela menor, equivalente a 38%, ocorrerá por meio de um consórcio de sete agentes financeiros, liderado pelo Banco do Brasil.

O prazo do financiamento é de sete anos e meio (90 meses), com dois anos e meio (30 meses) de carência e custo de TJLP mais 4,3% ao ano.

Dos R$ 2,1 bilhões de financiamento total liberado, R$ 100 milhões terão de ser aplicados em equipamentos de tecnologia nacional, tendo, em contrapartida, um custo de TJLP mais 2,3% ao ano.

O diretor de operações financeiras da BrT, Samuel Saldanha, disse que a aprovação do empréstimo é um "gesto de confiança do BNDES na companhia e na sua nova gestão".

Os novos administradores estão completando um ano à frente da operadora, após a destituição do Opportunity e a retomada do controle pelos fundos de pensão e pelo Citigroup.

Saldanha ressaltou ainda que o financiamento do BNDES é mais atrativo do que eventuais emissões de debêntures, além de ter os melhores juros do mercado interno.

"No mercado externo pode-se até conseguir prazos maiores, mas com o risco de desvalorização cambial", explicou.

Alan Fischler, chefe do departamento de telecomunicações do BNDES, afirmou que a companhia entrou com a carta-consulta no banco em abril deste ano. Segundo ele, o empréstimo cobrirá parte dos investimentos da operadora até 2008, na área de telefonia fixa.

O financiamento não incluiu, porém, a área de telefonia móvel da BrT, que enfrenta uma prova de fogo no próximo dia 28, quando expira o prazo dado pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) para eliminar a sobreposição de licenças entre BrT e TIM.

O prazo foi fixado há quase 18 meses pelo órgão regulador, quando a TIM voltou ao bloco de controle acionário da operadora. A legislação do setor proíbe que uma companhia controle duas operadoras que prestam o mesmo serviço em uma mesma área geográfica.

Segundo comunicado do BNDES na sexta-feira, o financiamento prevê aportes "significativos" de recursos em regiões pouco desenvolvidas, onde a BrT investirá em rede de telefonia pública em localidades a partir de 100 habitantes, e em telefonia individual em localidades a partir de 300 habitantes.

O banco estatal destacou também a aplicação de recursos em aquisição de equipamentos com tecnologia nacional, estimulando a indústria brasileira.

Nos últimos dois anos, o BNDES aprovou R$ 3,7 bilhões em financiamentos para empresas de telecomunicações, que representaram investimentos totais de R$ 9,4 bilhões, voltados para expansão da rede de telefonia e transmissão de dados.

A operadora é controlada pela Brasil Telecom Participações (BrTP), detentora de 65,6% do capital total da BrT e 99% das ações ordinárias. A acionista controladora da BrTP é a Solpart Participações (Telecom Italia e fundos de pensão), com 51% das ações ordinárias.

A operadora possui cerca de 9,5 milhões de linhas fixas em serviço, além de três milhões de assinantes na área de telefonia celular. (Colaborou Francisco Góes, do Rio)