Título: Nações Unidas vão reunir indústrias e governos para definir acordo global
Autor: Sobral, Eliane
Fonte: Valor Econômico, 09/10/2006, Empresas, p. B4

As Nações Unidas vão submeter às indústrias e governos um acordo global para reciclagem de telefone celular, em reunião internacional no próximo dia 27 de novembro em Nairobi (Quênia).

A negociação pode expandir globalmente acordos já existentes na Europa, América do Norte e Japão sobre a responsabilidade dos fabricantes na produção, coleta e reciclagem do aparelho, visando proteção do meio-ambiente e do consumidor.

A rápida demanda por novas tecnologias e designs leva os celulares a serem modificados ou descartados a cada 18 meses em média. Só na Europa, 125 milhões de aparelhos são jogados fora anualmente.

Isso resulta em um problema ambiental, já que um número crescente de aparelhos é misturado ao lixo comum ou negociado internacionalmente para a extração de metais e componentes de maior valor.

Telefones celulares contêm metais preciosos, como platina, cobre, alumínio e magnésio. Mas também o perigo das baterias recarregáveis, na maior parte das vezes, fabricadas com metais pesados como cadmium.

A cooperação com o setor de telefones celulares foi a primeira iniciativa desenvolvida entre governos e fabricantes no âmbito da Convenção de Basiléia, que regulamenta o fluxo de lixo tóxico globalmente.

A Agência das Nações Unidas para o Meio-Ambiente (Unep) iniciou discussões com fabricantes, ampliadas mais tarde para operadores como France Telecom e Vodafone, companhias de reciclagem como a Norenda do Canadá, renovadores de celulares como a Rcelular da Grã-Bretanha, além de organizações ecológicas.

Pierre Portas, diretor-executivo adjunto da Unep, disse ao Valor que a cooperação visa o financiamento misto do fabricante ou operador com municípios para montar sistemas de coleta e depois de reciclagem e recuperação de telefone portátil.

Já há alguns projetos pilotos em andamento. No Senegal, o teste é patrocinado por France Telecom e Orange. Também há projetos no Egito e Eslováquia.

O Brasil pode se candidatar, se tiver interesse, a acolher um projeto-piloto. Pierre Portas disse que a entidade quer examinar demandas para a América Latina.

A cooperação envolvendo celular pode se estender mais tarde para boa parte do lixo eletrônico e informático. Entre 20 e 50 milhões de toneladas de lixo eletrônico são produzidas cada ano na Europa, e uma parte acaba em países em desenvolvimento. Segundo a União Européia, o lixo eletrônico tem o crescimento mais rápido da categoria de detritos.

Recentemente, companhias anunciaram expansão de seus programas de reciclagem. Desde julho, a Dell, um dos maiores produtores globais de computadores, oferece ao cliente o recolhimento gratuito de qualquer computador ou impressora da marca para reciclagem. A Apple anunciou em abril que também reciclaria velhos computadores de clientes que comprassem novos aparelhos. Os que optam por não renovar a compra, porém, devem pagar US$ 30 pelo transporte do equipamento.

Estima-se que menos de 10% dos computadores descartados são reciclados. Um estudo da organização do Greenpeace mostra que alguns dos melhores laptops estão contaminados com alguns dos piores químicos tóxicos.

Atualmente, a Convenção de Basiléia, das Nações Unidas, já interdita a exportação de detritos tóxicos, como telefone celular defeituoso ou computador, para países em desenvolvimento - a menos que o receptor prove que pode tratá-los corretamente. Apenas os Estados Unidos, Haiti e Afeganistão não ratificaram a convenção. (AM)