Título: Ternium busca posição de liderança na América Latina
Autor: Ribeiro, Ivo
Fonte: Valor Econômico, 09/10/2006, Empresas, p. B7

Criado em 2005 e lançado na bolsa de Nova York em fevereiro deste ano, o grupo siderúrgico Ternium leva avante um programa de expansão para se manter no topo da lista das companhias líderes do setor na América Latina. Com operações em três países - México, Venezuela e Argentina - e sob o comando de Paolo Rocca, dono do grupo Techint, a Ternium disputa a liderança na região com a Arcelor Mittal, agora conduzida pelo estilo agressivo do bilionário indiano Lakshmi Mittal, e com a Gerdau, que nos últimos anos tem feito seguidas aquisições, regida pela mão forte de seu presidente e acionista Jorge Gerdau Johannpeter.

A Ternium, 70% controlada pelo grupo Techint, tem planos de investir US$ 1,4 bilhão nos próximos anos. Ainda estará atenta às oportunidades de compras de ativos, segundo afirmou Daniel Novegil, principal executivo da companhia. Metade desse valor será aplicada até 2009 na Siderar, usina de aços planos que fica a 250 km de Buenos Aires e é a maior siderúrgica do país.

Por trás das obras que começam neste mês em San Nicolás, ao parar um de seus dois fornos para uma reforma de 110 dias, há o suporte da economia argentina em alta e a integração entre as operações dos três país. A TerniumSiderar, como passou a ser chamada a controlada argentina, destina quase 80% do aço produzido ao mercado interno. Metade das vendas vão para o setor da construção. Outros mercados importantes são indústrias automotiva, de eletrodomésticos, tubos e de máquinas agrícolas.

"A demanda de aço na construção civil e na indústria está crescendo de 20% a 25%", disse Martin Berardi, diretor-geral da TerniumSiderar. Com capacidade de 2,8 milhões de toneladas por ano de diversos tipos de aço, está vendendo tudo que pode produzir. Segundo Berardi, a prioridade é o atendimento do mercado local.

O investimento de US$ 680 milhões vai elevar essa produção para 4 milhões de toneladas em três anos. Uma boa parte do volume adicional vai abastecer as linhas de acabamento de material para venda interna, como folhas estanhadas (finas chapas de aço revestidas com estanho) que têm aplicações na fabricação de latas para envase de óleos comestíveis e de alimentos. Atualmente, são 150 mil toneladas desse produto por ano e vão subir mais 35 mil.

O segmento de aços galvanizados, para automóveis e eletrodomésticos, também vai crescer, para mais 645 mil toneladas. A empresa fornece para Ford, Volkswagen, Toyota, General Motors e Peugeot.

Vão ser ampliadas também as unidades de centros de serviços da empresa, para quase 900 mil toneladas, que entregam material cortado para os clientes.

Os dois altos-fornos serão reformados agora e em 2008, ao custo de US$ 95 milhões cada um, ganhando aumento de capacidade. Nova máquina para produção de placas será montada entre as instalações que compõem o parque fabril da Siderar. Com esse equipamento, a empresa terá um volume adicional de oferta de 1,1 milhão de toneladas de placas em 2009.

Dentro da estratégia do grupo, grande parte de volume irá suprir linhas de acabamento da Hylsamex, companhia mexicana que fica às portas do mercado americano e foi adquirida no ano passado pela Techint. Com essa aquisição, foi dado o passo para a criação da Ternium. Segundo Berardi, a Hylsamex tem folga em suas linhas de produtos planos finais.

O grupo não tem a intenção de ser um competidor no mercado mundial de placas, porém buscará ocupar alguns nichos de consumo na América do Norte. Nesse segmento, já atuam a Siderúrgica de Tubarão, que faz parte da Arcelor Brasil; a Cosipa, do grupo Usiminas; vai estrear a CSA, nova fábrica da ThyssenKrupp, no Rio; e o próprio grupo Gerdau, com a Açominas. Há ainda a Arcelor Mittal, que opera a mexicana Imexa, fabricante tradicional desse setor.

O embate nas Américas, cada vez mais, será travado entre gigantescas potências do aço.

Situada às margens do rio Paraná, por onde recebe matérias-primas e escoa parte da produção, a Siderar é resultado da fusão de ativos do grupo Techint com a Somisa, que comprou em leilão de privatização em 1992. Hoje opera sete unidades (incluindo centros de serviços) no país e emprega cinco mil pessoas. Com faturamento anual de US$ 1,5 bilhão, é a principal empresa de San Nicolás, cidade de 150 habitantes próximo de Rosário (com 1,2 milhão). Fica na região úmida dos Pampas argentino, onde chove muito e um hectare de terra chega a valer US$ 20 mil.

A empresa se abastece com minério de ferro da Vale do Rio Doce e carvão importado de Estados Unidos e Austrália. A energia elétrica - um insumo escasso na Argentina - é oriunda de termoelétricas próprias que geram, a partir dos gases recuperados em altos-fornos e fábricas de coque. A usina também usa gás natural.

Com capacidade de 11 milhões de toneladas de aços planos e longos nos três países, a Ternium buscará ser um grupo um grupo consolidador na onda de concentração mundial da siderurgia. No primeiro semestre, obteve receita de US$ 3,23 bilhões, com vendas de mais de 4 milhões de toneladas, e lucrou US$ 483 milhões. Deve produzir em torno de 10 milhões de toneladas este ano. Além da Techint, a brasileira Usiminas é outro sócio importante da empresa, com 14,3% do capital. A Vale do Rio Doce tem 5% da Siderar.

O jornalista viajou a convite do IBS