Título: Cúpula fadada ao fracasso
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Fonte: Correio Braziliense, 07/11/2010, Economia, p. 19

CRISE CAMBIAL Apesar de sinal de trégua entre EUA e China, encontro do G-20, em Seul, tende a acirrar as posições contra a emissão de dólares pelos americanos Mais atingidos pela crise cambial exatamente em razão de seu gigantismo, Estados Unidos e China ensaiaram ontem uma trégua nas críticas trocadas contra a política monetária praticada por ambos. Mas não deve durar. Aliás, não deve chegar ao fim da semana, quando os chefes de Estado das nações mais ricas do planeta se reunirão na Cúpula do G-20 em Seul, a fim de discutir o problema que tira o sono de governos e de empresários. Pequim deixou claro que ainda tem cautela com a recente medida de Washington de imprimir mais dinheiro. O encontro da Coreia do Sul deve reforçar a desconfiança mundial contra os EUA, especialmente após anunciarem a injeção de US$ 600 bilhões na economia.

Com o objetivo de reanimar o país, o Federal Reserve (Fed, o Banco Central americano) anunciou, na semana passada, o novo pacote bilionário. A autoridade monetária do país decidiu aumentar a liquidez por meio da compra de títulos emitidos pelo Tesouro dos EUA. A medida provocou protestos dos países emergentes, com destaque o Brasil.

Brasil no ataque O ministro da Fazenda, Guido Mantega, desdenhou a decisão dos EUA de jogarem ¿dinheiro de helicóptero¿ para reativar a economia. Insatisfeito, ele avisou que reforçará a comitiva liderada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva e pela presidente eleita, Dilma Rousseff, que vai a Seul reclamar dos EUA. Ontem, o tom menos tenso adotado emergiu após um encontro de dois dias entre ministros de Finanças da Ásia e do Pacífico, em Kioto, no Japão. O encontro ocorreu em meio a críticas de países, especialmente China e Alemanha, contra a política monetária dos americanos e suas propostas para resolver desequilíbrios econômicos.

Os líderes apoiaram o acordo feito no mês passado pelo G-20 de evitar desvalorizações cambiais visando ganhos de competitividade, além de uma vigilância permanente do sobe e desce dos mercados de câmbio. O vice-ministro de Finanças chinês, Wang Jun, expressou ¿algum apoio¿ à política monetária dos americanos. ¿Impulsionar a economia norte-americana terá um importante papel na recuperação econômica global¿, afirmou Wangs. Mas alertou logo em seguida: ¿Ao mesmo tempo, essa política já causou preocupação em nações emergentes, e continuaremos prestando atenção à sua implementação¿.

Em um comunicado oficial do Foro da Coperação Econômica Ásia-Pacífico (Apec), os 21 ministros de Finanças reunidos no Japão comprometeram-se com a redução dos desequilíbrios excessivos e em evitar as desvalorizações competitivas das divisas. Os países fizeram um alerta contra os riscos de um fluxo de capitais para países emergentes da Ásia e advertiram que, além disso, persistem as incertezas sobre a recuperação econômica mundial. O secretário do Tesouro americano, Timothy Geithner, defendeu um amplo consenso para conter os atuais desequilíbrios de contas-correntes entre países, o que coloca em perigo a recuperação econômica mundial.