Título: Kassab preocupa mais a campanha de Serra do que Russomano
Autor: Lima, Vandson
Fonte: Valor Econômico, 21/08/2012, Política, p. A8

No grupo que coordena a campanha de José Serra (PSDB) a prefeito de São Paulo, o empate na liderança das intenções de voto com Celso Russomanno (PRB) é ainda visto como um problema menor. Preocupa sobremaneira os tucanos o que tem sido chamado de "efeito Kassab". A relação direta feita pelo eleitor entre a gestão do atual prefeito Gilberto Kassab (PSD), considerada ruim ou péssima por 43% do eleitorado - segundo pesquisa do Ibope - e a candidatura de Serra tem segurado os índices em um patamar abaixo do que a campanha esperava às vésperas da propaganda televisiva.

Segundo um dos integrantes da campanha, o eleitor sequer recorda que Kassab venceu a eleição de 2008. "Para a maioria, foi o Serra que deixou o mandato em 2006 e botou o Kassab na cadeira de prefeito. As pessoas nem lembram que ele venceu uma eleição por conta própria. Logo, atribuem a administração mal avaliada ao Serra", conta.

A fala do tucano coaduna com a sondagem do Ibope. Entre os 18% de eleitores que aprovam Kassab, Serra obtém 42% das intenções de voto. Já entre os 43% que a desaprovam, apenas 15% pretendem votar no tucano.

Para outro integrante da campanha, que considera a rejeição à gestão Kassab desproporcional às suas realizações, Serra tem sido leal ao prefeito ao não renegar que o governo atual é uma extensão daquele iniciado em 2005. Em entrevistas, Serra de fato avalia que três modelos de gestão passaram pela cidade: o de Paulo Maluf (PP) e Celso Pitta, a administração "petista" - com Luiza Erundina (PSB) em 1989 e Marta Suplicy (PT) em 2000 - e a tucana, com Serra e Kassab. E considera este último o melhor período para a cidade.

Para destravar a possível subida de Serra nas sondagens, foi marcado para a noite de ontem um jantar na casa do presidente municipal do PSDB, Júlio Semeghini. A previsão era de que além de deputados federais, estaduais e vereadores do partido, estariam presentes Kassab e o governador Geraldo Alckmin (PSDB), aprovado por 41% dos paulistanos de acordo com a mesma pesquisa e visto como cabo eleitoral crucial para as pretensões de Serra.

Além de traçar a estratégia junto aos parlamentares para uma participação mais vistosa na campanha, o convescote mirava dissipar a resistência do secretário estadual de Energia, José Aníbal, derrotado na prévia partidária, em registrar apoio ao candidato tucano. Esperado para o jantar, Aníbal é influente junto à base do partido, que tem se mostrado em alguns casos arredia. Na quinta-feira, o presidente do diretório do PSDB no Jabaquara (zona sul da capital), Milton Kamiya, e seu vice, Romualdo Moraes, anunciaram adesão à candidatura do concorrente Gabriel Chalita (PMDB).

Em relação a Russomanno, ainda impera a leitura de que ele é desprovido de apoios do Executivo e de tempo de propaganda na TV, portanto perderá fôlego. O eleitor que hoje lhe dá bons índices, acreditam tucanos, migrará para Fernando Haddad (PT), que irá ao segundo turno com Serra.

Integrantes de PSDB e PSD ouvidos pelo Valor concordam, inclusive, na data para se ter uma sondagem mais realista do cenário paulistano: início de setembro, quando a propaganda televisiva entrará em sua terceira semana.

Um tucano prevenido ressalva: "Agora, se bater o feriado [sete de setembro, um mês antes da eleição] e o Russomanno continuar lá em cima, fura toda a estratégia".