Título: Chile cresce escorado no mercado interno
Autor: Murakawa, Fabio
Fonte: Valor Econômico, 21/08/2012, Internacional, p. A15

A economia do Chile acelerou no segundo trimestre, graças principalmente ao vigor de seu mercado interno, que vem ajudando a reduzir o impacto negativo da crise global sobre a exportação de minérios. Segundo dados divulgados ontem pelo Banco Central, o PIB (Produto Interno Bruto) chileno cresceu 5,5% entre abril e junho deste ano, em relação ao mesmo período de 2011, após alta de 4,6% no primeiro trimestre.

De acordo com os dados, a alta de 7,1% da demanda interna ajudou a compensar o fraco desempenho das exportações do maior produtor de cobre do mundo, fenômeno similar ao que ocorre com a economia do também exportador de minérios Peru. Afetadas pela desaceleração chinesa e a crise do euro, as vendas externas chilenas cresceram 1,2% no segundo trimestre, depois de terem subido 5,6% entre janeiro e março.

Segundo Joseph Ramos, professor titular da Faculdade de Economia da Universidade do Chile, o país colhe os frutos de uma retomada do setor de construção, do aumento da renda e da melhora do emprego no país. Afetada pela escassez de financiamento provocada pela crise financeira global de 2009, a construção civil chilena ganhou impulso após o violento terremoto de 2010 e teve fôlego renovado com o aumento da renda das famílias. O resultado, foi um crescimento acima de 8% no primeiro semestre, afirma Ramos. Em 2011, quando o país cresceu mais de 6%, a alta no PIB do setor foi de 10%. "Isso mais do que compensou a deterioração das vendas externas", diz.

O Chile também se beneficia da queda do desemprego - o índice é hoje de 6,5%, bem abaixo dos 10% registrados após o colapso do Lehman Brothers, em 2008. Além disso, há o efeito da melhora da qualidade do emprego, afirma Ramos. Nos últimos 12 meses, o Chile criou, em termos líquidos, 150 mil postos de trabalho. Mas, de acordo com o professor, esse número resulta da abertura de 250 mil empregos formais no período e do fechamento de 100 mil vagas informais. "A qualidade do emprego está melhorando, as pessoas têm mais renda e consomem mais."

Segundo dados do BC, o consumo privado subiu 5,3% no segundo trimestre, contra 4,2% do consumo do governo. As importações, refletindo a alta do aumento da renda, subiram 5,2%.

Ramos afirma que, apesar do fraco desempenho recente do setor de mineração, responsável por 15% do PIB, "as empresas mineradoras estão em um processo franco e robusto de investimento" no país. "O investimento cresceu 8% no Chile [no segundo trimestre]", disse ele. "As mineradoras investem pensando nos próximos quatro, cinco anos, quando os projetos sairão do papel. Até lá, a crise já deverá ter sido superada."

Analistas preveem uma desaceleração da economia em relação a 2011, e a estimativa é que o PIB suba 5,5% em 2012. Ontem, o ministro da Fazenda, Felipe Larraín, comemorou os números do PIB, mas disse que o país "não pode baixar a guarda" diante da crise. "É importante que não cantemos vitória antes do tempo", disse.