Título: Oposição domina primeiro encontro de "terceira via" para a Câmara
Autor: Felício, Cesar
Fonte: Valor Econômico, 09/01/2007, Política, p. A6

Apenas o PSDB, entre os grandes partidos, demonstra tendência em apoiar uma candidatura à presidência da Câmara alternativa às do atual presidente, Aldo Rebelo (PCdoB-SP), e do líder do governo na Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP). Na primeira reunião do grupo coordenado pelos deputados Raul Jungmann (PPS-PE) e Fernando Gabeira (PV-RJ) que articula um terceiro nome, oito dos dezesseis integrantes eram tucanos. Do restante, dois eram do PPS, enquanto PV, PSB, P-SOL, PTB, PMDB e PFL tinham um representante cada.

A movimentação dos tucanos não conta ainda com o aval da cúpula do partido: a bancada do PSDB só está convocada para examinar o tema na reunião que fará dia 31, quando escolher seu novo líder. Caso não apareça um terceiro nome, a tendência do partido será apoiar Aldo Rebelo.

A esperança do grupo reunido ontem é que o PMDB divida-se na reunião de bancada que fará hoje, possibilitando o lançamento de um pemedebista como candidato avulso. O relator da CPI dos Correios, Osmar Serraglio (PMDB-PR), é o nome com maior aceitação. O paranaense teria que se comprometer com a plataforma definida pelo grupo: imagem de probidade, prioridade à reforma política, autonomia diante do Executivo, revisão do regimento interno, austeridade nos gastos da Câmara e voto aberto no Congresso.

Caso o PMDB apóie oficialmente Aldo ou Chinaglia, o grupo deve realizar uma nova reunião na próxima semana, em Brasília, para mapear as chances de ter uma votação expressiva com um candidato alternativo. Sem crescimento, o bloco pode desistir do projeto de nome próprio. "Não está definido que haverá um terceira via", disse o deputado Júlio Semeghini (PSDB-SP). A idéia de lançar um nome simbólico, apenas para provocar impacto na opinião pública, está descartada.

"Estarei colaborando para uma candidatura que possa efetivamente vencer e eu não sou muito popular hoje no Congresso, em alguns setores", disse Gabeira, que era o mais cotado para o papel de anti-candidato.

O interesse do grupo é ganhar densidade suficiente para levar a disputa na Câmara a um segundo turno. "Queremos interferir no jogo", disse a deputada Luiza Erundina (PSB-SP). Por esta razão, os tucanos poderão dar suporte ao movimento, mas não encabeçá-lo. " Não é o nosso caminho termos um candidato apenas para marcar posição, por isto o PSDB não vai pleitear", afirmou a deputada Raquel Teixeira (PSDB-GO).

Entre os dois atuais postulantes, o alvo preferencial do grupo reunido ontem foi Arlindo Chinaglia. Jungmann comentou que a vitória do petista representaria "o lado negro da força" e que a eleição do parlamentar abriria caminho para a anistia ao deputado cassado José Dirceu. Chegou a prever a volta de episódios como o mensalão e ameaçar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva com o impeachment.

As críticas a Aldo Rebelo foram comparativamente mais suaves. O comunista foi definido como um mero auxiliar do presidente e um congressista de boa biografia que se rendeu a interesses corporativos e fisiológicos da Casa. As semelhanças entre Chinaglia e Rebelo também foram destacadas. "Nenhum dos dois apresenta uma proposta de reforma do poder", disse Chico Alencar (P-SOL-RJ).