Título: Ministério fica fora da negociação
Autor: Lyra, Paulo
Fonte: Valor Econômico, 09/01/2007, Política, p. A6

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva não dará um ministério como prêmio de consolação para o candidato derrotado na eleição para presidente da Câmara. Quem desejar disputar uma vaga na Esplanada terá que abrir mão da candidatura antes que o embate chegue ao plenário. Lula não quer premiar o aliado que insistir em esticar a corda até o fim, desgastando o governo e colocando em risco a incipiente coalizão governamental.

Antes de viajar de férias, o presidente deu um ultimato ao coordenador político, Tarso Genro: expressou o desejo de que o impasse entre Aldo Rebelo (PCdoB-SP) e Arlindo Chinaglia (PT-SP) estivesse resolvido até o dia 20, antevéspera da data marcada para o anúncio do Pacote de Aceleração do Crescimento (PAC). Lula classificou a disputa para a presidência da Câmara como o primeiro grande teste para medir a coesão da aliança governista.

Nos últimos dias, começaram a correr boatos de que o candidato derrotado na eleição para a Câmara poderia ser incluído na reforma ministerial. Ontem, o próprio líder do PT na Câmara, Henrique Fontana (RS), reiterou essa tese. No Planalto, seguem os elogios aos dois candidatos, mas um ministro próximo ao presidente foi taxativo: "Seria injusto premiar quem expôs o governo a um desgaste".

Aldo já foi ministro de Lula. Assumiu o cargo de coordenação política em 2004, pouco antes de estourar o caso Waldomiro Diniz. Passou mais de um ano no cargo até que, em setembro de 2005, retornou ao Congresso para ser eleito presidente da Câmara, substituindo Severino Cavalcanti (PP-PE), que renunciou ao cargo acusado de cobrar um "mensalinho" do dono de um restaurante que funcionava no Legislativo.

O atual líder do governo na Casa, Arlindo Chinaglia, teve seu nome cogitado em 2002 para assumir o Ministério da Saúde. Médico formado pela Universidade de Brasília, o petista só não compôs a primeira equipe ministerial para não provocar um desequilíbrio regional ainda maior: um governo repleto de paulistas sem um representante pernambucano. Lula se viu obrigado a repassar a vaga para o petista Humberto Costa - mais tarde, esse desequilíbrio desfavorável a Pernambuco foi compensado ainda mais com a entrada de Eduardo Campos (PSB) no governo.

"Os dois são ministeriáveis. Mas eram antes dessa disputa começar", afirmou um ministro. Em busca de um acordo, o ministro da coordenação política, Tarso Genro, iniciou ontem as conversas com os presidentes dos partidos aliados. O primeiro chamado ao Planalto foi o presidente do PCdoB, Renato Rabelo. Saiu sem dar declarações. Mas o partido marcha junto com o PSB, a oposição e uma parte do baixo clero, capitaneados por Ciro Nogueira (PP-PI) e Inocêncio Oliveira (PR-PE) ao lado de Aldo.

O presidente do PSB, Roberto Amaral, levará a Genro a avaliação de que Aldo agrega mais do que Arlindo, por ter melhor trânsito na oposição. Mas sabe que a negociação será intensa. "Nós definimos que, entre nós da coalizão governamental, nenhum assunto será decidido no voto. Tudo terá que ser consensuado. Vamos ter que sentar, discutir e chegar a um acordo".

Ex-líder do PP na Câmara, o deputado Sandro Mabel (GO) está em campo oposto de Amaral. Para ele, Chinaglia é mais forte na base e deve ser escolhido como candidato à presidência da Casa. "Se o Arlindo fosse candidato só do PT, eu próprio teria restrições. Mas ele é um homem que cumpre os acordos firmados e é respeitado na base aliada", confirmou Mabel.