Título: Para analistas, construção freou alta maior do PIB no 2º tri
Autor: Exman, Fernando; Martins, Daniela
Fonte: Valor Econômico, 31/08/2012, Brasil, p. A4

No segundo trimestre, a construção civil foi um obstáculo para uma retomada mais forte da atividade. Economistas consultados pelo Valor Data projetam que a economia tenha crescido 0,46% no segundo trimestre, em relação ao primeiro, com ajuste sazonal, resultado que será divulgado hoje pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Nas contas desses analistas, o investimento deve ter crescido um pouco menos, 0,4%, em parte em função da queda de 0,6% da produção de insumos típicos da construção civil, que conta como investimento no PIB.

De acordo com Aurélio Bicalho, do Itaú Unibanco, se esse ramo de atividade tivesse ficado estável, a Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) poderia ter registrado uma alta de até 0,3 ponto porcentual superior à expectativa do banco, que é de avanço de 0,9% no segundo trimestre. Para Bicalho, a construção civil acompanhou a desaceleração da economia, com redução de vendas e lançamentos no setor imobiliário. "Foi uma expansão mais lenta, compatível com o primeiro semestre para a economia como um todo", diz.

Do lado do investimento público, o economista vê sinais mistos, com aceleração dos desembolsos para o Minha Casa, Minha Vida, enquanto os aportes do Ministério dos Transportes patinam. Entre janeiro e julho, a pasta investiu 40% menos do que em igual período do ano passado.

Para Amaryllis Romano, economista da Tendências Consultoria, o setor também foi afetado no segundo trimestre por fatores pontuais, como paradas nas obras da usina hidrelétrica de Belo Monte e chuvas mais intensas em São Paulo, o que prejudica as obras de edificação.

Como a produção de insumos típicos da construção civil teve um trimestre mais fraco, a Tendências revisou a projeção de crescimento do indicador de 4,8% em 2012 para um alta mais moderada, de 3%, neste ano.

Em julho, a Sondagem da Construção elaborada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) continuou a mostrar desaceleração do setor. Pelo terceiro mês consecutivo, a atividade na construção civil ficou abaixo do usual, ao marcar 45,5 pontos, nível inferior à linha divisória de 50 pontos. Abaixo desse patamar, a indicação é de desaquecimento.

O Índice de Confiança da Construção Civil, medido pela Fundação Getulio Vargas (FGV), mostrou a mesma trajetória. No trimestre encerrado em julho, a confiança do setor recuou 9,9% em relação a igual período do ano passado. A coordenadora da sondagem, Ana Maria Castelo, ressalta que nos últimos dois meses a deterioração das expectativas com os próximos meses também ficou mais intensa. No trimestre encerrado em junho, a queda foi de 8,6% em relação a igual período do ano anterior. O recuo se aprofundou nos três meses encerrados em julho, para queda de 9,2% ante 2011.

Ana Maria observa que a confiança no segmento de infraestrutura registra queda mais acentuada. Para ela, o pacote de concessões de rodovias e ferrovias anunciado no início deste mês pelo governo ainda não foi capturado pela pesquisa, mas o impacto sobre a atividade tende a ocorrer apenas a partir de meados de 2013. O ânimo dos empresários, no entanto, pode reagir antes, avalia a pesquisadora.

As edificações, diz, parecem passar pelo fim de um ciclo de expansão. "No emprego, percebemos que as contratações concentram-se em funções como acabamento", afirma ela. Em áreas como a preparação de terreno, por exemplo, a expansão é bem mais modesta, sugerindo que as expectativas com novos empreendimentos estão em baixa. "Isso significa ritmo menor de início de obras, e junta-se a isso o fato de que os investimentos das empresas estão em marcha lenta, o que também afeta expectativas."

Recentemente, o Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado de São Paulo (Sinduscon) reduziu a estimativa para o crescimento do setor neste ano, que passou de 5% para "algo acima de 4%", segundo Sergio Watanabe, presidente do sindicato. A revisão da projeção de expansão do setor, segundo a entidade, ocorreu por causa do ritmo menor de atividade econômica do país e também em decorrência da desaceleração da criação de empregos pela construção civil.

Para José Otávio de Carvalho, presidente do Sindicato Nacional das Indústrias de Cimento (Snic), a alta base de comparação e a redução das projeções para o volume de lançamentos por construtoras neste ano leva a crer que o segundo semestre de 2012 não deve ser melhor para o setor do que foi o primeiro. Os dados preliminares do Snic mostram que, entre janeiro e julho, as vendas de cimento no mercado interno por dia útil aumentaram 7,7% em relação a igual período do ano passado, mas a projeção do sindicato é de que o setor encerre o ano com expansão de 6%.

Por causa da redução dos lançamentos, Octávio de Barros, diretor do Departamento de Pesquisa e Análise Econômica do Bradesco, esse ramo de atividade pode ser um obstáculo para crescimento entre 3,5% e 4% no próximo ano, já que tende a afetar a construção residencial de forma mais pronunciada em 2013. Amaryllis, da Tendências, acredita que já no segundo semestre haverá aceleração da produção de insumos típicos da construção, com crescimento de 2,7% no terceiro trimestre e de 2,5% nos últimos três meses do ano, sempre na comparação com o trimestre imediatamente anterior.

A aceleração esperada para o investimento público e o programa de concessões do governo, que devem aumentar o volume de obras de infraestrutura nos próximos anos, são elementos positivos citados por Bicalho, do Itaú, o que tende a aquecer a demanda por insumos a partir do último trimestre deste ano.