Título: Sem pressão dos produtos agropecuários, IGP-M vai subir menos, prevê FGV
Autor: Exman, Fernando; Martins, Daniela
Fonte: Valor Econômico, 31/08/2012, Brasil, p. A4

O impacto mais forte do aumento dos grãos sobre a inflação medida pelo Índice Geral de Preços-Mercado (IGP-M) ocorreu neste mês, quando o indicador registrou alta de 1,43%, a maior verificada desde novembro de 2010. A avaliação é de Salomão Quadros, coordenador de análises econômicas da Fundação Getulio Vargas (FGV).

"O maior choque dos produtos agropecuários sobre a inflação já foi absorvido. A tendência é de taxas mais suaves no IGP-M nos próximos meses", afirma Quadros. Neste mês, os produtos agropecuários ficaram 6,07% mais caros no atacado, após avanço de 3,91% em julho.

O resultado do IGP-M de agosto veio em linha com a média de 1,43%, apurada pelo Valor Data junto a 11 instituições. O intervalo das projeções ficou entre 1,35% e 1,50%. O indicador acumula alta de 6,07% no ano e de 7,72% em 12 meses. Entre os componentes do IGP-M, o Índice de Preços ao Produtor (IPA) - que responde por 60% do indicador geral - atingiu 1,99%, após 1,81% de alta em julho.

O fato de a pressão nos alimentos estar concentrada nos grãos e, por consequência, em algumas carnes (como as de aves), ressalta Quadros, deve fazer com que o período de choque seja menor neste ano do que foi no fim de 2010 e início de 2011. Naquela ocasião, os produtos agropecuários chegaram a acumular quase 30% de alta em 12 meses.

Atualmente, os produtos agropecuários contabilizam alta de 16,74% em 12 meses. "Acho que os preços ainda vão subir mais um pouco, mas não vão ultrapassar a alta de dois anos atrás."

Quadros explica que, naquela época, os aumentos eram mais espalhados, e atingiam também carnes bovinas, que são um item importante da alimentação dos brasileiros. Dessa vez, ressalta ele, com a demanda externa enfraquecida, as carnes bovinas limitarão o reajuste nos preços de aves e suínos.

Na avaliação de Quadros, o câmbio já não se mostra relevante para a inflação no Brasil. Ele lembra que há mais de dois meses o dólar permanece estável, não influenciando, portanto, a variação de preços no país. Segundo a FGV, em junho, a moeda americana era cotada a R$ 2,04, nível que foi mantido em julho. Em agosto, o dólar foi avaliado em R$ 2,03.

O Índice de Preços ao Consumidor (IPC), que tem peso de 30% no IGP-M, subiu de 0,25% em julho para 0,33% em agosto. A principal influência partiu do grupo habitação, cuja variação passou de 0,18% para 0,29%.

Dentro dessa classe de despesa, a FGV destacou o comportamento do item móveis para residência, que passou de deflação de 0,37% em julho para alta de 0,53% em agosto. O setor de móveis conta com Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) reduzido desde março e, ontem, teve o benefício prorrogado pelo governo até 31 de dezembro.