Título: Rio Grande do Sul deve renegociar dívida, diz Genro
Autor: Lyra, Paulo de Tarso
Fonte: Valor Econômico, 10/10/2006, Política, p. A6

O ministro das Relações Institucionais, Tarso Genro, disse ontem que num eventual segundo mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva o governo federal irá renegociar a dívida de "quatro ou cinco" Estados em situação financeira mais delicada. Entre eles estão o Rio Grande do Sul, que consome cerca de 17% da receita líquida com juros e amortizações, e o Piauí, onde esta proporção chega a 22%.

Tarso e a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, já haviam tentado solucionar o problema da dívida do Rio Grande do Sul com a União, mas esbarraram na resistência do ex-ministro da Fazenda, Antonio Palocci: "Mas agora não há mais este impedimento e o presidente determinou que a renegociação seja feita".

Conforme Genro, Palocci impediu a renegociação da dívida dos Estados porque estava "muito preocupado só com São Paulo" e convencia o governo de que a operação não era possível em função da "confiança" que desfrutava do próprio presidente. "Isto não quer dizer que ele não tenha feito um trabalho bom no primeiro ano; ele cumpriu seu papel e tomara que não volte", afirmou.

O ministro disse ainda que a renegociação ocorrerá independente de quem seja o próximo governador, mas mandou um recado para a candidata do PSDB, Yeda Crusius, que disputa o segundo turno da eleição no Estado com o petista Olívio Dutra. "Este governador tem que ter um canal com o governo federal como tinha o (Germano) Rigotto (PMDB, que está encerrando o mandato), que sempre foi oposição mas manteve uma relação civilizada".

Genro conversou ontem sobre o assunto em Porto Alegre com o próprio Rigotto, mas disse que não pediu apoio do governador para o candidato do PT. De acordo com ele, a conversa foi de caráter "institucional" e os dois trataram apenas secundariamente da eleição.

Na opinião do ministro, o debate de domingo entre Lula e Alckmin serviu para o presidente responder às críticas ao fato de desconhecer os desvios de conduta de seus assessores, como nos casos do mensalão e do dossiê, porque os tucanos que o acusam não fizeram nada para impedir o crescimento da facção criminosa PCC nos presídios paulistas durante os 12 anos de governo do PSDB no Estado.

"Enquanto Alckmin não explicar se sabia ou não sabia da maior organização criminosa de São Paulo sob seu governo, não tem direito de perguntar para o candidato Lula a respeito dos fatos que vêm sendo mencionados", comentou. De acordo com ele, o PT pretende discutir programa de governo durante o segundo turno, mas o presidente Lula não vai fugir do debate ético.

Para Genro, o dossiê é "frio" porque não apresenta novidades em relação ao que já foi apurado pela CPI das Sanguessugas. Ele acredita que a oferta do material a um grupo de petistas "estabanados" que cometeram "amoralidades e ilegalidades" foi uma "armação" para beneficiar a candidatura de Alckmin.

"Não estou dizendo com isto, porque não tenho o grau de leviandade do Alckmin, que ele ou o PSDB estejam envolvidos", comentou Genro, lançando a desconfiança sobre "alguém do lado de lá" que agiu independente de ordem do partido ou do candidato tucano. Segundo Genro, o presidente Lula não teria interesse em divulgar um dossiê que ataca o governador eleito de São Paulo, José Serra (PSDB), porque a questão é circunscrita ao Estado e porque o então candidato não é um "inimigo" do governo nem "subjugado ao PFL" como Alckmin.