Título: Bancada quer discurso para Sul agrícola
Autor: Lyra, Paulo de Tarso
Fonte: Valor Econômico, 10/10/2006, Política, p. A6

A bancada do PT na Câmara vai entrar de vez na campanha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à reeleição. Em reunião realizada ontem, em Brasília, 25 deputados do partido analisaram o momento atual da disputa, trocaram observações sobre o debate de domingo entre o petista e o tucano Geraldo Alckmin e decidiram levar sugestões de mudança ao comando-geral da campanha de Lula. "Vamos fazer o que o presidente pediu: não deixaremos um só metro quadrado do país sem receber uma visita", resumiu o líder da bancada, deputado Henrique Fontana (RS).

Além de colocar os deputados na rua, a reunião serviu também para a bancada definir três pontos principais que precisam ser melhor tratados pela campanha. A primeira sugestão é melhorar e tornar mais claro o contraponto entre as admininstrações de Fernando Henrique Cardoso e de Lula. "Precisamos demarcar as diferenças entre os governos do PSDB e do presidente Lula", disse o líder.

O petista apontou esse como um dos pontos mais falhos no discurso do presidente durante o debate de domingo, realizado pela TV Bandeirantes. "O candidato Alckmin precisa responder pelo governo do PSDB", completou Fontana.

Nesse contexto, entram as questões da política externa, da educação e, sobretudo, da agricultura. Um dos pontos mais debatidos no encontro da bancada foi a má avaliação do governo pelos produtores rurais. Lula perdeu votos preciosos nos Estados onde o agronegócio é mais forte. Os produtores estão irritados com a administração petista.

"Temos que mostrar, no programa eleitoral, tudo o que o governo fez pela agricultura, com a renegociação das dívidas, o Pronaf, o seguro agrícola. Precisamos mostrar, didaticamente, que o presidente Lula não tem interferência no preço da soja, que é definido na Bolsa de Chicago", explicou Fontana. "Precisamos reconhecer que os adversários ganharam esse debate e precisamos equilibrá-lo", completou.

A terceira sugestão a ser levada pelos deputados do PT à campanha é a ampliação do debate sobre ética e corrupção. "Precisamos mostrar que a corrupção tem uma longa história e estamos desmontando todas essas quadrilhas no nosso governo", afirmou Fontana.

A deputada Maria do Carmo (PT-MG) deu a medida da disposição dos deputados. "Vamos dividir os Estados em regiões e visitar todas as cidades. Normalmente, já somos militantes. Agora, temos que trabalhar em dobro", afirmou. Para a petista, Minas Gerais, Espírito Santo e Rio de Janeiro precisam compensar a supremacia de Alckmin em São Paulo.

Os ataques ao governo Lula também acenderam a luz amarela na bancada. "Com esses ataques, vamos colocar cada deputado para colher informações e confrontar os temas levantados pelos tucanos", explicou a deputada Maria do Rosário (PT-RS). Ela demonstrou que os deputados sentiram os golpes do ex-governador de São Paulo: "A agressividade exige de nós uma presença muito forte nas áreas que conhecemos bem para equilibrar o debate".

Na avaliação dos petistas, Alckmin foi desrespeitoso com Lula. "O presidente tentou trazer o debate para o campo dos programas de governo e das propostas. Mas Alckmin não deixou", afirmou Fontana. Para o líder do governo, Arlindo Chinaglia (PT-SP), é hora de se preparar para uma campanha dura e a ordem deve ser responder aos ataques. "Se depender de mim, devemos abrir a caixa de ferramentas", disse. Nessa linha, Fontana acredita que é preciso mostrar que programas como o Bolsa Família e o ProUni correm o risco de serem extintos com a vitória de Alckmin. Ele já mandou sua assessoria colher frases de tucanos e pefelistas contra o Bolsa Família.

O governador eleito da Bahia, Jaques Wagner, que está também na coordenação da campanha da reeleição, reconheceu que o presidente Lula surpreendeu-se com o estilo adotado pelo candidato do PSDB durante o debate na TV Bandeirantes. Para Wagner, no entanto, o mantra adotado pelo tucano "de onde veio o dinheiro, de onde veio o dinheiro, de onde veio o dinheiro " , demonstra o "desespero" do candidato da oposição. "As pessoas esclarecidas sabem que debates servem para aprofundar os temas administrativos", disse o petista baiano. Wagner afirmou, no entanto, que se Alckmin insistir na estratégia, terá a resposta que merece. Ele não quis admitir se Lula estava despreparado para o confronto, mas disse que o "elemento surpresa do primeiro encontro já passou".

O vice-presidente da República, José Alencar, acha que Alckmin "marcou um gol contra". Disse que o candidato tucano à Presidência foi extremamente agressivo e até deseducado com o presidente Lula.