Título: "Pensei que estivesse à frente de um delegado"
Autor: Lyra, Paulo de Tarso
Fonte: Valor Econômico, 10/10/2006, Política, p. A6

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva comentou ontem o debate de domingo durante discurso no Palácio da Alvorada, onde recebeu cantores gospel e um grande grupo de evangélicos. O candidato à reeleição assumiu, como também seus principais colaboradores, a estratégia de transformar-se em vítima de seu adversário, Geraldo Alckmin. "Ontem, pensei que não estava na frente de um candidato. Estava na frente de um delegado de polícia", disse, queixando-se que vivera um dos dias mais tristes de sua vida.

O senador Marcelo Crivella (PRB-RJ), que levou os cantores, afirmou, na mesma solenidade, que uma passagem bíblica aponta que "o escândalo é necessário, mas ai daquele que provocá-lo". Segundo ele, a diferença entre o atual governo e o anterior é que o governo Lula amarra uma pedra no pescoço do escandaloso e joga-o ao mar. "Os nossos adversários amarram a pedra no escândalo e o atiram para longe", afirmou. A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, que também é evangélica, disse que o presidente "ensinou como mostrar a outra face". Antes de passar a palavra a Lula, Crivella afirmou. "O Bispo Edir Macedo dizia: quem faz pelos pobres, pensa como Deus. Vou passar agora a palavra para um presidente que faz pelos pobres", afirmou o senador fluminense, sem completar a frase.

Tanto o presidente quanto ministros e assessores passaram o dia criticando Alckmin por abordar a questão da corrupção no PT durante o debate. "O nosso adversário era a velha sanfona quebrada que só faz uma nota só. A mesma sanfona, a mesma nota, a mesma arrogância", criticou o presidente.

De acordo com o presidente, o debate resumiu um pouco da história da elite política brasileira. "Ela é implacável. Foi implacável com Juscelino, com João Goulart, com Getúlio. São implacáveis. É como se dissessem: não façam coisas pelos pobres".

Lula, que participou na TV Bandeirantes de seu primeiro debate nesta campanha, afirmou esperar que haja mais debates "para que a população possa escolher o candidato pelo projeto que ele tem, não pelas bravatas e pelas frases de efeito".

Lula também tocou no tema corrupção e repetiu que "possivelmente seja o único brasileiro que governou esse país nos últimos anos que tenha autoridade moral para falar em corrupção". Para o presidente, é muito fácil evitar que apareçam denúncias de corrupção nos jornais. "É só jogar a corrupção para debaixo do tapete, para debaixo do sofá".

O discurso de Alckmin no debate foi taxado de "bravata", "agressivo", e "samba de uma nota só", tanto pelo presidente quanto pelos petistas que falaram sobre o assunto ontem, ao longo do dia.

O prefeito de Osasco, Emídio de Souza, um dos coordenadores da campanha de Lula em São Paulo, viu o debate "entre um estadista e um franco-atirador". O auxiliar defendeu o confronto das propostas, a retomada das críticas às privatizações realizadas durante o governo de Fernando Henrique e o ataque à proposta tucana de "choque de gestão". O site da candidatura Lula reproduziu, ontem, entrevista de Yoshiaki Nakano, ex-secretário de Fazenda de São Paulo, à Reuters, em que o aliado de Alckmin afirma que cortará 3% do PIB no gasto público. O valor do corte seria de R$ 60 bilhões. (PTL)