Título: Para cúpula, queda reflete desgaste de 20 anos no poder
Autor: Di Cunto, Raphael
Fonte: Valor Econômico, 31/08/2012, Política, p. A10

A maior parte da direção nacional do PSDB atribui ao desgaste de quase 20 anos no poder a queda de cinco pontos de José Serra, na pesquisa Datafolha a prefeito de São Paulo, depois da primeira semana de horário eleitoral gratuito no rádio e na televisão. Os militantes tucanos preferem culpar o marqueteiro Luiz González, mas entre os líderes tucanos o que entrou em jogo foi a disputa pelo controle do PSDB, com vistas a 2014.

Apesar do pessimismo, nem sempre manifestado com pesar pelos tucanos, uma parte da cúpula do PSDB avalia que o jogo está apenas no começo. O passado recente, no entanto, não deixa margem para que muitos acreditem que Serra fará correções de curso na campanha. Em 2010, na presidencial, o marqueteiro ignorou solenemente os conselhos dos políticos tucanos e aliados.

A avaliação no PSDB, à época, é que isso foi um erro. Não se esperava que Serra o repetisse, mas o que ocorre agora na campanha municipal é como se fosse um filme antigo. Segundo apurou o Valor, González tem ainda mais poderes no comitê de Serra do que tinha na eleição presidencial de 2010. E não pretende mudar uma linha no roteiro que elaborou para a campanha.

Há críticas severas à maneira como González apresentou Serra ao eleitorado, mais voltado ao passado que para o futuro. O jingle, inspirado na música "Eu Quero Tchu, Eu Quero Tcha", também tem sido criticado, supostamente, por não traduzir corretamente a formalidade da figura de Serra, ex-deputado, ex-senador, ex-ministro que por duas vezes foi ao segundo turno da eleição presidencial.

Serra mantém a confiança no marqueteiro que o elegeu prefeito em 2004 e governador em 2006. A derrota do tucano, nas eleições de outubro, será um baque sobretudo no PSDB de São Paulo, hegemônico desde a criação do partido nos anos 80.

O PSDB conquistou o Palácio dos Bandeirantes em 1995, com Mário Covas. Mas antes disso, em 1982, elegeu Franco Montoro, que mais tarde viria a ser um dos fundadores tucanos. Uma derrota de Serra, sobretudo nos contornos desenhados pela primeira pesquisa, também deixará vulneráveis os flancos do Palácio dos Bandeirantes às investidas da oposição. Especialmente se o vencedor for o PT de Haddad.

Os ressentimentos da campanha de 2010 (e das de 2006 e 2002) permanecem latentes no PSDB. Estava oculto porque Serra tinha o primeiro lugar nas pesquisas, mas bastou a queda de cinco pontos, na primeira pesquisa Datafolha realizada após o início do horário eleitoral, para que voltasse à tona. O problema, segundo apontam tucanos mais afastados da disputa São Paulo - Minas, é que o partido também corre riscos.

Em Belo Horizonte, por exemplo, os tucanos aplaudem a liderança do prefeito Marcio Lacerda nas pesquisas, por sua estreita ligação com o senador Aécio Neves, o que é um fato. Mas a entrada de Patrus Ananias no jogo eleitoral, depois da implosão da aliança PT, PSDB e PSB também tornou duvidosa "a fácil reeleição de Lacerda".

A entrada de Patrus Ananias, um ex-prefeito bem avaliado na cidade, levou até o próprio Aécio a mudar de estratégia: ele pretendia se expor menos no embate, preservando todas as forças para a disputa de 2014.

No Recife, os tucanos já acreditam na possibilidade de ir para o segundo turno com o candidato de Eduardo Campos, devido à velocidade da queda do candidato petista Humberto Costa. O nome do PSDB é de um tradicional conglomerado político de Pernambuco, os Coelhos, mas se Geraldo Júlio, o candidato de Eduardo Campos, mantiver a velocidade com que entrou na corrida, dificilmente deixa de ganhar no primeiro turno.

Assim com em Belo Horizonte e no Recife, PT e PSB romperam as alianças que fizeram em 2004 também em Fortaleza. Os aecistas do PSDB também acham que uma eventual vitória de Roberto Cláudio, o candidato do PSB, não significará apoio automático ao governador de Pernambuco e presidente do PSB, Eduardo Campos, numa eventual disputa com Aécio Neves já em 2014. Isso pelo fato de o PSDB do Ceará ser controlado não por Eduardo, mas pelos irmãos Ciro e Cid Gomes - o próprio Ciro já foi candidato a presidente duas vezes.

É cedo para que as pesquisas tracem o perfil dos vencedores de outubro, mas a movimentação dos candidatos mostra que a eleição municipal tem muito mais influência sobre o quadro nacional do que gostam de admitir os candidatos, prevenindo-se de eventuais derrotas, e os cientistas políticos. A aposta em Serra é de alto risco, em São Paulo; mas colocar todas as fichas em Aécio Neves (PSDB) ou Eduardo Campos (PSB) é, no mínimo, precipitado. Sem falar que o candidato de Dilma Rousseff, Fernando Haddad, deu sinais de vida em São Paulo.