Título: Oposição difícil para Roriz
Autor: Campos, Ana Maria
Fonte: Correio Braziliense, 07/11/2010, Politica no DF, p. 29

TRANSIÇÃO Barrado pela Ficha Limpa das disputas eleitorais até 2026, o ex-governador terá pela frente o desafio de tentar se manter vivo na política candanga. Dependerá, porém, de aliados e do desempenho das filhas no Legislativo

Para se manter como uma referência política viva, o ex-governador Joaquim Roriz (PSC), banido de mandatos eletivos pelos próximos 16 anos em decorrência da Lei da Ficha Limpa, precisa provar que o rorizismo não se extingue com a sua distância do poder. Apesar de ter transferido para a mulher, Weslian Roriz, na disputa ao segundo turno, 440 mil votos, correspondente a 25% do eleitorado do Distrito Federal, o ex-governador tem um desafio pela frente: sobreviver na oposição em meio a um cenário totalmente adverso. Seus históricos aliados políticos lhe viraram as costas ou estão sem mandato. O principal adversário a combater, o PT, ganhou força redobrada, ao conquistar o Palácio do Buriti e a Presidência da República.

A sobrevivência do rorizismo como perspectiva de poder depende do sucesso das duas herdeiras políticas do ex-governador ¿ Jaqueline (PMN) e Liliane Roriz (PRTB). As duas filhas se elegeram, respectivamente, deputada federal e distrital, e travam uma luta familiar pela chance de concorrer no futuro a um mandato majoritário como sucessora do pai. As duas terão dificuldades. Na Câmara Legislativa, Liliane, num partido pequeno e sem expressão, terá de trabalhar com uma bancada de oposição sem identidade. Na base de Roriz, nove candidatos se elegeram, mas pelo menos quatro ¿ Eliana Pedrosa (DEM), Raad Massouh (DEM), Benedito Domingos (PP) e Wellington Luís (PSC) ¿ não devem travar com o governo embates ferrenhos.

Os cinco demais, cada um de um partido diferente, têm interesses dispersos. Liliane terá como parceira na oposição a deputada eleita Celina Leão (PMN), aliada de Jaqueline na disputa familiar pelo espólio de Roriz. As duas neófitas terão de estrear na política já com a tarefa de incomodar o governo com discursos no plenário e mobilização da sociedade contra medidas impopulares a serem adotadas pela gestão de Agnelo. Para isso, precisarão montar uma equipe experiente, principalmente no acompanhamento do sistema de liberação de recursos orçamentários, mas sem condições, a princípio, de indicar cargos na estrutura do Executivo. Será um feito inédito.

Mesmo com toda a disputa entre Roriz e o ex-governador José Roberto Arruda, Jaqueline teve cargos no governo até meados de 2009, quando, no início do embate eleitoral, anunciou rompimento. Indicou o administrador de Samambaia e Roriz manteve influência na Companhia de Saneamento Ambiental (Caesb). Na Câmara dos Deputados, Jaqueline terá pouca margem para fazer oposição. Dilma Rousseff assumirá o governo com uma maioria no Congresso que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva nunca teve. Já de partida, ela terá em sua base 370 dos 517 deputados e 60 dos 81 senadores.

Ampla aliança Agnelo Queiroz, por sua vez, tem tudo para construir uma ampla aliança em torno de seu governo. A coligação que o elegeu é composta por 11 partidos (PT, PMDB, PSB, PCdoB, PPS, PTC, PRB, PDT, PRP, PHS e PTB). Já na fase de campanha, mais duas legendas foram agregadas, PV e PSL. Além disso, o petista conta com uma relação próxima com Lula, que ficou clara no domingo passado. Ele foi o último a sair do Palácio da Alvorada, onde esteve para celebrar a sua vitória e a de Dilma. Na segunda administração petista da história do DF, Agnelo conta com vantagens que Cristovam Buarque, governador entre 1995 e 1998, não teve. Ele comandou o Palácio do Buriti com um adversário no Palácio do Planalto, Fernando Henrique Cardoso (PSDB).

Quando deixou o governo em 1994, Roriz se afastou da cena política. Passou meses nos Estados Unidos ou em sua fazenda Palma, em Luziânia (GO). Amigos contam que o ex-governador teve momentos de depressão no ostracismo político, até dar a volta por cima, retornar à política e derrotar Cristovam em 1998, então candidato à reeleição com altos índices de aprovação. O caminho para o retorno de Roriz foi pavimentado pela oposição dura que Luiz Estevão e Filippelli fizeram na Câmara Legislativa. Os dois, no entanto, agora estão fora do combate rorizista. Filippelli é o vice de Agnelo e Estevão está, também por força da cassação do mandato do Senado em 2000 e da Lei da Ficha Limpa, afastado, como Roriz, de cargos públicos.

Longe da política, Roriz precisa ainda se preocupar com os processos e as investigações do Ministério Público do Distrito Federal. Um caso que ainda precisa ser esclarecido é o famoso episódio conhecido como a ¿bezerra de ouro¿, que resultou na renúncia ao mandato do Senado, inelegibilidade e a aposentadoria política.

Diferença Na época ainda não havia o Fundo Constitucional do Distrito Federal, que garante a manutenção das áreas de saúde, segurança e educação, e Cristovam tinha de negociar a transferência de recursos com o então líder do governo no Senado, José Roberto Arruda, um parlamentar que trabalhava com interesse na sucessão do petista. Na Câmara Legislativa, Cristovam tinha uma oposição ferrenha conduzida por Luiz Estevão e Tadeu Filippelli, do PMDB, com ampla bancada. ¿O governo de Agnelo será muito mais tranquilo e ele mesmo diz isso¿, analisa Cristovam, senador eleito pelo PDT.