Título: CPI apura origem ilegal do dinheiro do dossiê
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 10/10/2006, Política, p. A7

A equipe da Polícia Federal em Cuiabá responsável pela investigação da compra de dossiê contra candidatos do PSDB relatou ontem a membros da CPI dos Sanguessugas que as notas de Real apreendidas com petistas em um hotel em São Paulo indicam que o dinheiro tenha vindo de fontes suspeitas.

"É um valor muito grande de dinheiro em notas pequenas, o que pode indicar algumas fontes específicas, que lidam com grande montante de dinheiro, como casas lotéricas, casas de bingo ou pontos de jogo do bicho", comentou o deputado Paulo Rubem Santiago (PT-PE).

Segundo eles, alguns maços de dinheiro estavam enrolados de forma parecida com a usada por bicheiros. Nesses maços, há notas de R$ 5, R$ 10 e R$ 20, todas usadas. De acordo com os parlamentares, em pelo menos dois maços há uma cinta de máquina de calcular prendendo notas de R$ 100 com os carimbos "Caxias 118" e "Campo Grande 199". Anteriormente, chegou-se a suspeitar que os carimbos fizessem referência a agências de banco, mas agora a PF acredita que podem se tratar de bancas de bicho no Rio.

De acordo com o deputado, a equipe da PF em São Paulo deveria entregar ainda ontem à coordenação das investigações em Cuiabá um relatório sobre a identificação da origem dos US$ 248 mil que também foram apreendidos com Gedimar Passos e Valdebran Padilha.

A soma total em dólares e reais chegava a R$ 1,75 milhão. O dinheiro seria usado para pagar Luiz Antonio Vedoin, dono da Planan, empresa envolvida na máfia dos sanguessugas, pela entrega de um dossiê contra o candidato ao governo do Estado de São Paulo, José Serra (PSDB).

O deputado Paulo Rubem ressaltou que a PF conseguiu avançar na investigação das relações entre Vedoin e o empresário Abel Pereira, que teria ligações com o prefeito de Piracicaba, Barjas Negri, ex-ministro da Saúde do governo Fernando Henrique Cardoso.

De acordo com o relato dado aos deputados pelos investigadores, teriam sido encontrados depósitos em cheques da Klass, empresa do grupo Vedoin, em contas de empresas indicadas por Pereira. "A CPI agora terá indício documental de um provável envolvimento com os interesses do Abel Pereira no mesmo período em que Barjas Negri estava à frente do Ministério da Saúde", comentou Paulo Rubem.

Irônico, o deputado disse ainda que estas provas permitem ver "indícios de porque o Vedoin demonstrou tanta euforia sobre os negócios da Planam na gestão Serra (no Ministério da Saúde)". Barjas Negri foi secretário-executivo de Serra antes de assumir a pasta. Em entrevistas, Vedoin disse que a fase áurea do esquema de superfaturamento de ambulâncias teria ocorrido ainda no governo FHC.

Dentro de um ou dois dias, a Justiça Federal no Mato Grosso deve liberar o envio à CPI da documentação relacionada às investigações do dossiê e das novas provas no caso da máfia dos sanguessugas.

Além de Paulo Rubem, estiveram em Cuiabá para acompanhar o andamento das investigações os deputados Carlos Sampaio (PSDB-SP), Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM) e Júlio Delgado (PSB-MG). (Com agências noticiosas)