Título: ONU estuda sanções à Coréia do Norte após teste nuclear
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Fonte: Valor Econômico, 10/10/2006, Internacional, p. A8

A anunciada explosão de uma bomba atômica pela Coréia do Norte na manhã de ontem recebeu ampla condenação internacional. As principais potenciais mundiais sinalizaram com a imposição de sanções mais duras ao país, que já estão sendo discutidas no Conselho de Segurança (CS) da ONU.

O teste nuclear norte-coreano agrega um fator de insegurança na Ásia, região com a economia mais dinâmica do planeta, mas também marcada por fortes tensões políticas e militares. Por isso, a notícia derrubou os mercados asiáticos. Mas o impacto econômico deve ficar restrito a uma oscilação breve de bolsas e câmbio (e iene japonês e o won coreano caíram), caso não haja uma escalada militar.

O presidente americano, George Bush, disse que as ações norte-coreanas são "inaceitáveis" e só vão elevar a tensão mundial e isolar ainda mais o país, tratado pelos EUA como "hostil" e membro de um "eixo do mal". A comunista Coréia do Norte é um dos países mais fechados e pobres do mundo. Apesar de não haver estatísticas confiáveis, seu PIB é estimado em US$ 40 bilhões pela CIA, contra US$ 800 bilhões da Coréia do Sul.

Bush pediu ao CS da ONU uma resposta rápida e dura. A principal preocupação americana é que a Coréia do Norte possa exportar sua tecnologia ou artefatos nucleares. Por isso, Washington deve pedir medidas que levem ao isolamento do país, o que poderia até implicar um bloqueio aéreo e naval. Na noite de ontem, os EUA fizeram circular um esboço de uma resolução que condena o teste, exige que Pyongyang volte à mesa de negociações e que seja alvo de sanções.

A chave para a definição da reação internacional é a posição de Rússia e China, dois dos cinco membros permanentes do CS e que têm relações amigáveis com o regime do ditador norte-coreano Kim Jong Il. Bush falou por telefone com os presidentes russo, Vladimir Putin, e chinês, Hu Jintao, aos quais pediu uma reação articulada da comunidade internacional. Tanto Putin com Hu criticaram pessoalmente o teste nuclear.

A Rússia chamou seu embaixador em Pyongyang. Apesar da proximidade entre os países, Moscou tem mostrado pouca capacidade de influenciar o regime norte-coreano. "Um enorme prejuízo foi causado ao processo de não-proliferação de armas de destruição em massa no mundo", disse Putin, segundo a agência Interfax. O governo alertou para o risco de uma corrida armamentista na Ásia. A emergência de uma nova potência nuclear não só eleva a ameaça ao território russo como reduz o poder relativo de Moscou na região.

Na China, principal aliado de Kim Jong Il, o teste nuclear foi chamado de "imprudente", um tom duro na sóbria retórica diplomática chinesa, e expôs o fracasso da estratégia de Pequim de conter o perigoso vizinho por meio de diplomacia e concessões econômicas. O presidente Hu advertiu a Coréia do Norte "a não tomar nenhuma outra atitude que possa piorar a situação" e pediu a Bush para "evitar ações que possam levar a uma escalada ou à perda de controle da situação". Não está claro se o líder chinês de referia às sanções ou à uma possível militar americana contra a Coréia do Norte.

França e Reino Unido, outros membros permanentes do CS, apoiaram sanções mais duras. O capítulo 7 da Carta da ONU permite ao CS impor sanções e até aprovar a guerra contra um país.

O objetivo das sanções deve ser impedir que o país exporte tecnologia ou artefatos nucleares, além de forçar o regime a negociar o desmantelamento de seu programa nuclear militar. Para isso, as sanções devem incluir alguma forma de restrição severa ao transporte de e para a Coréia do Norte.

Por terra, o país só faz fronteira com a China e com a inimiga Coréia do Sul (a fronteira mais militarizada e controlada do planeta).

Em relação ao transporte aéreo e terrestre, as sanções poderiam impor controle e inspeção de todo navio ou avião que entrasse ou saísse da Coréia do Norte ou até mesmo proibir qualquer contato com o país.

Não estão claros os motivos que levaram o país a fazer o teste. Pode ser para ganhar poder na negociação para que suspenda o programa nuclear em troca de ajuda econômica e tecnológica. Mas a via diplomática pode agora ser suspensa. Pode ter sido um modo de mostrar a eventuais compradores que a bomba coreana funciona. Para diplomatas, se a reação da ONU for dura, o teste se mostrará um grande erro de cálculo.