Título: Dilma dá a largada oficial na transição
Autor: Rothenburg, Denise
Fonte: Correio Braziliense, 08/11/2010, Política, p. 2

Às 11h, a presidente eleita inicia as negociações com os partidos para a escolha dos ministros. Orçamento e dosagem de medidas econômicas preocupam a equipe que começa trabalho no CCBB

Duas frentes preocupam a equipe de transição que começa a trabalhar hoje, às 11h, no Centro Cultural Banco do Brasil. Na área política, a distribuição dos ministérios proporcionalmente ao peso de cada partido. Na seara econômica, os preços e o caixa da União. Na distribuição dos cargos, começa a prevalecer dentro da equipe a ideia de que o melhor mesmo é manter o número de vagas que cada um tem hoje no primeiro escalão, conforme propôs o vice-presidente eleito, Michel Temer, coordenador-geral da transição em parceria com o presidente nacional do PT, José Eduardo Dutra.

Se serão os mesmos cargos, entretanto, ninguém avança o sinal para dizer sim ou não, até porque a presidente eleita, Dilma Rousseff, ainda não tratou abertamente desse tema com os partidos. A prioridade de Dilma nesta largada, entretanto, é a economia ¿ a outra face da transição, considerada e a mais carregada, na avaliação de integrantes do governo e da equipe de Dilma.

À exceção de Temer, que estreia numa equipe de transição petista, os demais cargos-chaves estão quase todos nas mãos de pessoas que trabalharam na transição de Fernando Henrique Cardoso para Lula, em 2002. A parte econômico-administrativa será comandada pelo ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci. Braço direito de Dilma durante toda a campanha, é considerado nome certo para a Casa Civil, que continuará com perfil técnico. É com ele que estará o centro nervoso das ações de governo na transição.

Já nesta semana, enquanto a presidente eleita estiver em viagem ao exterior com o presidente Lula, a turma de Palocci vai trabalhar no sentido de listar as promessas de campanha e estudar o Orçamento de cada setor e o cenário econômico. Além do câmbio, dos juros e dos preços ao consumidor ¿ como o da carne que não para de subir ¿ há a preocupação com o reajuste do salário mínimo e a remuneração da caderneta de poupança. E, de quebra, as pressões salariais de setores, como, por exemplo, o Judiciário. Tudo isso ficará sob a coordenação de Palocci.

Dilma já colocou a parte de saúde e de segurança como prioridades de governo. Embora ainda não tenha escolhido quem cuidará da saúde, o senador eleito de Pernambuco, Humberto Costa, está escalado para dar uma ajuda ao grupo que cuidará dessa seara na passagem de um governo para outro. Costa, por sinal, foi um dos coordenadores dessa área em 2002.

A parte de segurança pública nestes 50 dias até a posse deverá ficar a cargo do deputado José Eduardo Cardozo (PT-SP), um dos nomes cotados inclusive para o Ministério da Justiça. A assessora Clara Ant, que tem na memória todas as audiências do presidente Lula e saiu do governo para ajudar na campanha, embora discretíssima, terá papel importante na transição, dada a sua proximidade com a presidente eleita.

Voo Embora Palocci seja considerado um nome próximo à presidente eleita na área econômica, ela viajará para Seul na terça-feira ao lado do ministro da Fazenda, Guido Mantega, em voo de carreira, aproveitando para se inteirar melhor do quadro da reunião do G-20 ¿ grupo que reúne as 20 maiores economias do mundo. Ontem à noite, depois de passar na Granja do Torto com a primeira-dama, Marisa Letícia, para conhecer as instalações de sua futura casa nesse período de transição, Dilma foi ao Alvorada conversar com o presidente Lula sobre a agenda na Coreia do Sul. Lá estavam ainda Gilberto Carvalho, chefe de gabinete de Lula, e os ministros da Secretaria de Comunicação da Presidência da República, Franklin Martins, e o da Educação, Fernando Haddad, que foi falar sobre o Enem (leia detalhes nas páginas 7 e 8).

A presença de Dilma ma viagem a Seul é para reforçar com os outros 19 países que as palavras do presidente Lula contra a guerra cambial entre as maiores potências contam com total apoio da sua sucessora. Assim como a transição terá, a princípio, muitas figuras que estavam por lá em 2002, a política externa também não terá mudanças. Afinal, como dizem os petistas, é praticamente uma transição deles para eles mesmos.

Vice O vice-presidente eleito e atual comandante da Câmara dos Deputados, Michel Temer, viaja quarta-feira para um encontro de parlamentares na Argentina. Na comitiva incluiu o líder do governo, Cândido Vaccarezza (PT-SP) e o do PMDB, Henrique Eduardo Alves. A ideia é alinhavar o acordo entre os dois para a Presidência da Câmara

Câmbio e juros Esse binômio está a cargo do Banco Central, comandado por Henrique Meirelles, que deseja permanecer no cargo. A presidente eleita, entretanto, gostaria de deslocá-lo, mas dentro da quota do PMDB. O problema é que o partido não aceita incluir Meirelles entre os seus. Ele perdeu a vaga de vice na chapa porque não era considerado um legítimo representante do partido. Agora, se depender do PMDB, perderá a vaga no governo.

Viagem O presidente Lula viaja hoje às 8h da manhã para Moçambique. Ele permanece em Maputo por dois dias, depois segue para a Coreia do Sul, onde desembarca na quinta-feira, 13h (hora local). Dilma acompanhará toda a agenda do presidente Lula no Oriente, inclusive os encontros bilaterais. É a largada do governo Dilma na área externa.

Residência A Granja serviu de moradia do presidente Lula durante a transição, em 2002. Também voltou a ser a residência oficial quando da reforma do Alvorada, há dois anos. Ontem, Dilma e dona Marisa Letícia permaneceram três horas lá, visitando todos os cômodos. D. Dilma Jane, a mãe da futura presidente, que está em Minas, disse recentemente em entrevista aos Diários Associados que deseja acompanhar a filha a Brasília para que ela não fique tão sozinha.