Título: Presidente do BC insiste no controle da inflação
Autor: Moreira, Assis
Fonte: Valor Econômico, 09/01/2007, Finanças, p. C8

Henrique Meirelles não cessa de combater dentro e fora do governo a tese de certos setores de que, se o BC quisesse, o Brasil poderia logo crescer como a China, com taxa de 10% ao ano. Ele insiste a interlocutores que isso significaria baixar juro feito doido, a inflação subir e crescer aceleradamente. E que em todo caso é responsável no BC para manter a inflação na meta - ou seja, muita coisa para elevar o crescimento está fora de sua área.

Em Basiléia, nos debates no Banco de Compensações Internacionais (BIS), as conclusões de estudos, sem surpresa e que confortam sua posição, são de que inflação não gera crescimento, pelo menos não por muito tempo. E que só estabilidade de preços e de balanço de pagamentos também não provoca um crescimento chinês, mas melhora a expansão econômica.

Meirelles costuma repetir que o país pulou da média histórica de 1,7% do PIB no passado para 3,8% a 4% que prevê para este ano. Ele nota que a Europa ocidental está crescendo pouco, mas ninguém fala em aumentar a inflação para acelerar a expansão econômica. O BIS tem previsão de crescimento para o Brasil de 3,4% para este ano.

Mas, durante o encontro com outras autoridades monetárias, Henrique Meirelles fez uma apresentação repetindo que a economia do Brasil está em nova fase, que as empresas e famílias podem planejar e investir, há aumento gradual de tomada de crédito e tudo isso faz com que a a taxa média de crescimento da oferta no Brasil também esteja crescendo em comparação com os últimos anos e décadas.

Outro dado que, segundo Meirelles, viabiliza o aumento gradativo da produção em 2007 é a ausência da perspectiva de crises e, em conseqüência, a estabilidade. Ele repetiu que o BC tem "sintonia fina" com governo e que "está acertando na sintonia fina".

No domingo, ao desembarcar na Suíça, Meirelles respondeu a uma pergunta sobre sua confirmação no comando do Banco Central como a questão "de um milhão de dólares", aparentemente sem saber seu destino. Ontem, ele visivelmente falava como alguém que ficará no posto.

Indagado sobre mudanças na diretoria do banco, Meirelles retrucou que "o procedimento normal vai ser que, a partir do momento em que o presidente definir a composição do Ministério, vamos sentar com cada diretor do banco, ver projetos pessoais e meu plano de trabalho para chegar a uma definição''.

Ontem, em entrevista, ele descartou sugestão do economista Delfim Neto para que o BC passe a divulgar publicamente quem vota o que nas reuniões do Copom, estimando que todos os sistemas têm méritos e defeitos, mas que o brasileiro - que não anuncia os nomes, mas o placar e o porquê cada um votou de uma forma - funciona bem e prefere não mudá-lo.

Em relação ao futuro, o presidente do BC deixou claro que quer acelerar a implementação de medidas no setor financeiro para aumentar a concorrência. Menciona a conta salário. O BC está aprovando mais cooperativas de crédito com acesso livre. E acha que os próximos desafios serão na "portabilidade do crédito e no cadastro positivo". (AM)