Título: Brasil vai manter política fiscal
Autor: Moreira, Assis
Fonte: Valor Econômico, 09/01/2007, Finanças, p. C8

O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, transmitiu ontem aos principais bancos centrais industrializados a mensagem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de que o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), a ser anunciado no final do mês, não vai arranhar sua política de estabilidade macroeconômica. Meirelles disse que o objetivo é levar a economia a crescer acima dos 3,8% já previstos sem o PAC para este ano, respeitando três pontos fundamentais: responsabilidade fiscal, inflação na meta e programa social e distribuição de renda.

O diretor-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Rodrigo Rato, fez novas sugestões ontem, depois de já ter recomendado anteontem ao governo quebrar de vez certa rigidez na economia. Desta vez, Rato sugeriu a Meirelles que o governo brasileira "reduza a arrecadação e corte despesas", com ênfase no segundo, a fim de deixar mais recursos para o setor privado fazer investimentos.

O diretor do FMI argumentou que nos países que mais crescem hoje, como o Chile, o total das despesas primárias públicas é de cerca de 20% do Produto Interno Bruto (PIB) e que na China é menos ainda. Já no Brasil essa despesa é de 34% do PIB, ou seja, quase o dobro.

Para o FMI, o tamanho do governo do Brasil é muito grande hoje. E não há outro remédio. Para diminuir a arrecadação, é preciso gastar menos, e para gastar menos é necessário reduzir o tamanho da máquina estatal. Além de reforma tributária, Rato tem recomendado as reformas da Previdência, trabalhista, fiscal, flexibilidade no orçamento, mais concorrência no setor financeiro, martelando algo que não é palatável para boa parte de apoiadores de Lula.

Segundo fonte, a resposta de Meirelles foi de que essas reformas sao uma questão política para a sociedade, tanto mais que será necessário explicar por que o funcionário vai ter que trabalhar mais antes de se aposentar, por exemplo.

A primeira grande reunião do ano do G-10, reunindo os principais bancos centrais, com alguns emergentes importantes desta vez contou com o presidente do Federal Reserve, o BC americano, Ben Bernanke. Raramente o presidente do Fed se desloca para essas reuniões periódicas no Banco de Compensações Internacional (BIS), em Basiléia (Suíça).

Os banqueiros examinaram tentativas passadas de países tentarem crescer fazendo aumentar a inflação. A constatação foi de que, hoje, as nações que mais crescem no mundo têm inflação baixa. Dados do BIS ilustram a tese: a China teve inflação de 1,5% e crescimento de cerca de 10%, a Coréia de 2,5% de inflação e expansão econômica de 5%. Como sempre, há exceção para desmentir a regra: vem justamente da Argentina, com inflação de 12,8% e crescimento de 8,4%, quase três vezes mais que o do Brasil. "Conclui-se que o Brasil está no caminho certo, na medida em que país estabilizou a economia", contou Meirelles. "Com a estabilidade, o Brasil já aumenta o patamar de crescimento. Outras medidas certamente serão necessárias para que Brasil cresça a taxas mais elevadas. Isso é o que está sendo discutido pelo governo no PAC."

Banqueiros fizeram várias indagações sobre medidas para destravar a produção. Meirelles respondeu que isso está sendo objeto de discussão no governo e que não podia anunciá-las.

Mas ele insistiu que o PAC "não significaria irresponsabilidade fiscal ou monetária, pois o Brasil hoje não admite e não contempla desequilíbrios em sua economia, como inflação elevada ou déficit fiscais e comerciais elevados". Esta é a mensagem que Lula levará à elite econômica global, que se reunirá no Fórum Mundial de Economia em Davos (Suíça), dentro de duas semanas.

O porta-voz do G-10, Jean-Claude Trichet, que é o presidente do Banco Central Europeu (BCE), deixou claro que as autoridades monetárias estão bastante otimistas sobre as perspectivas da economia para este ano, uma das "mais encorajadoras que temos observado".

A mensagem em direção das economias emergentes foi de que aproveitem a atual conjuntura benigna da economia global para avançar em reformas estruturais. Disse que estabilidade monetária, solidez fiscal e reformas estruturais compensam.