Título: Operadoras bloqueiam acesso ao YouTube
Autor: Borges, André
Fonte: Valor Econômico, 09/01/2007, Empresas, p. B3

As operadoras de telecomunicações começaram a cumprir a ordem judicial para tirar do ar o YouTube, site de troca de vídeos do Google. No fim de semana, a Brasil Telecom (BrT) bloqueou o acesso à página e a Telefônica informou, na noite de ontem, que faria o mesmo.

As empresas acataram decisão do desembargador Ênio Zuliani, do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP), segundo a qual o acesso ao site deve ser banido no Brasil. O que motivou a determinação foi a permanência, no YouTube, de cópias do vídeo com cenas quentes protagonizadas pela modelo Daniella Cicarelli e seu namorado, Renato Malzoni Filho, numa praia da Espanha em setembro.

O ofício emitido pelo TJ determinou o bloqueio do tráfego internacional de dados que permite o acesso ao vídeo. No entanto, para as operadoras é tecnicamente muito difícil barrar somente as páginas referentes a ele. Na prática, a solução é impedir acesso a todas as páginas geradas pelo YouTube.

O perito em tecnologia Paulo Cesar Breim, que preparou o laudo no qual o desembargador respaldou a decisão, afirma que o YouTube tinha condições de retirar só os arquivos do vídeo, mas não o fez por interesse na audiência gerada pelo material. "Se alguém tentar colocar um vídeo de pedofilia, por exemplo, será automaticamente bloqueado", diz.

Por isso, segundo Breim, a saída foi determinar que todo o conteúdo fosse barrado. "O pedido inicial era para que o vídeo fosse banido. Como isso não aconteceu, o site terá que sair do ar."

Procurado pelo Valor, o Google Brasil não havia concedido entrevista até o fechamento desta edição. Diariamente, 65 mil vídeos novos são enviados para o YouTube, segundo a sua assessoria de comunicação. A medida vale para as empresas que têm backbone (parte central de uma rede de telecomunicações) interligando o Brasil e os Estados Unidos, sede do YouTube. Além da BrT e da Telefônica, esse é o caso de outras três operadoras: a Embratel, a americana Global Crossing e a LA Nautilus (do grupo Telecom Italia).

Procuradas pelo Valor, a Embratel e a Global Crossing informaram que estavam analisando a decisão dos pontos de vista técnico e jurídico. A Telecom Italia afirmou ter esclarecido ao TJ que o backbone é da Nautilus , portanto, o ofício deveria ser redirecionado a ela. Representantes da LA Nautilus não foram localizados para comentar o assunto.

Por conta disso, o YouTube ainda estava acessível em boa parte do país até ontem à noite.

Cumprir a ordem judicial implica prejuízos às teles, que têm no tráfego de internet uma fonte de receita. Porém, é difícil estimar o tamanho da perda. O que torna a situação mais delicada é o fato de o YouTube ser um site de popularidade crescente no país - quanto mais gente entra no site, mais tráfego é gerado.

Fontes ligadas às operadoras afirmam que elas estudam a possibilidade de recorrer da medida, caso não seja alterada.

Em sites de discussão na internet, o assunto vem sendo encarado como tentativa de censura. Mas segundo o advogado Rubens Decoussau Tilkia, contratado por Malzoni, a medida é constitucional porque há prejuízos a terceiros.

A decisão da Justiça alarmou o presidente da Abranet (associação dos provedores de acesso), António Tavares, para quem o caso é "um ato de censura lamentável" que pode levar o Brasil a "se tornar uma China", onde o governo controla a internet, e revela "profunda ignorância". Segundo a assessoria de imprensa do TJ, Zuliani saiu de férias e, portanto, não estava disponível para comentar o assunto. (*Do Valor Online)