Título: Política econômica tem de criar empregos, diz Pinheiro Guimarães
Autor: Góes, Francisco e Neumann, Denise
Fonte: Valor Econômico, 10/10/2006, Brasil, p. A4

O secretário-geral do Itamaraty, Samuel Pinheiro Guimarães, disse ontem que a política econômica deve ter como meta a criação de empregos e a ampliação do investimento e da capacidade produtiva. Em palestra no encerramento do seminário que debateu os 70 anos da "Teoria Geral" de John Maynard Keynes, Guimarães avaliou que a questão do emprego é complexa no Brasil porque as tecnologias das fábricas fazem com que o número de pessoas empregadas seja rígido.

E exemplificou: "Em uma refinaria não é porque o salário dos operários diminuiu que a empresa vai empregar mais pessoas. A redução do salário não leva necessariamente a um maior emprego. É um profundo engano pensar que a redução dos salários ou dos custos de trabalho vai aumentar o emprego em escala adequada. Mas necessariamente aumentarão os lucros", disse Guimarães. Ele expressou opiniões pessoais, as quais definiu como "heterodoxas".

Na sua visão, a tecnologia criada nos países desenvolvidos poupa mão-de-obra por causa das características demográficas desses países, onde as taxas de crescimento populacional são muito baixas, com exceção dos Estados Unidos. "Todo o desenvolvimento tecnológico e científico na área de informática tende a poupar mão-de-obra", disse Guimarães.

Ele afirmou que no Brasil há grandes contingentes de pessoas que não têm qualificações técnicas para trabalhar em empresas. Esse universo inclui pessoas que vivem abaixo da linha da pobreza, em condições precárias de saúde, educação e habitação. "Como gerar emprego para esta massa de pessoas?", perguntou.

Segundo ele, este é um grande desafio. E insistiu sobre os efeitos das limitações tecnológicas sobre o emprego: "Com a modernização do sistema financeiro e bancário, o número de empregados no sistema diminuiu. É um desafio que torna necessário políticas explícitas de emprego por parte do Estado."

De acordo com ele, a tecnologia pode ampliar a capacidade instalada em unidades de produção e, ao mesmo tempo, não criar número suficiente de empregos para absorver as pessoas que chegam ao mercado de trabalho e que, de uma forma ou de outra, vão procurar obter uma receita monetária nos centros urbanos. "Isto leva a questão social importante relacionada com a criminalidade e a violência urbana."

Guimarães disse que na época de Keynes a questão essencial era o emprego, assim como ocorre hoje. "As situações são diferentes, mas o objetivo de política econômica deve ser ter metas de emprego, de investimento. Ou seja, metas de ampliação da capacidade produtiva."

Pinheiro Guimarães não foi o único a defender mudanças na política econômica. Críticas ao atual modelo cambial foram feitas pelo assessor da diretoria do BNDES e professor da UFRJ, Francisco Eduardo Pires de Souza, em painel do mesmo evento. Para ele, o governo deveria adotar uma taxa de câmbio competitiva como uma meta (sem abandonar a meta de inflação).

No Brasil, diz ele, há uma fragmentação da política econômica, na qual o BC faz uma política ultra-conservadora sozinho, a Casa Civil tentar compensar com mecanismos mitigatórios e o Ministério do Desenvolvimento tenta proteger setores penalizados. "Isso tudo leva a um mix que ao Brasil não serve. Falta coordenação", disse.

O professor Fernando Ferrari, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) também defendeu uma mudança na política cambial. Para ele, o país precisa administrar sua taxa de câmbio e adotar controle de capitais. "O atual regime monetário e cambial tem oito anos e resultados ruins", argumentou.

Segundo sua estimativa, nestes oito anos (1999-2006), em quatro deles a meta de inflação não foi cumprida e na média ficou em 7,56% ao ano. Além disso, no mesmo período, o superávit primário passou de 3,2% ao ano para 4,25% sem levar a uma redução consistente na dívida pública, que cresceu em relação ao PIB, passando de 46% para 50,5% deste.