Título: Brasil é um dos países mais desiguais da AL, aponta ONU
Autor: Serodio , Guilherme
Fonte: Valor Econômico, 22/08/2012, Brasil, p. A4

O Brasil é o quarto mais desigual entre os 26 países da América Latina e do Caribe, revela estudo apresentado no Rio pelo programa das Nações Unidas para habitação, o ONU-Habitat. O país só fica atrás de Guatemala, Honduras e Colômbia. Todos os quatro têm nota superior a 0,56 no Índice de Gini, aponta o estudo "Estado das Cidades da América Latina e Caribe". Na escala de 0 a 1, quanto maior a nota, mais desigual é o país.

No ranking das cidades com maior desigualdade, as brasileiras ocupam a liderança. Goiânia é considerada a mais desigual em toda a região, com índice Gini de 0,65. A segunda cidade com o pior resultado é Fortaleza, com índice superior a 0,60. Os países menos desiguais da região, segundo o levantamento, são Venezuela, Uruguai, Peru e El Salvador.

Para Erik Vittrup, principal autoridade sobre assentamentos humanos do ONU-Habitat, a desigualdade é o principal desafio na região. Atualmente, cerca de 124 milhões de habitantes das cidades da região vivem na pobreza, o equivalente a um quarto da população urbana da América Latina e do Caribe.

O relatório aponta os desafios para o crescimento das cidades na região, que já é a mais urbanizada do mundo, com quase 80% das pessoas vivendo nas cidades. De acordo com a ONU, em 2050, 89% da população da América Latina viverá nas cidades. Nos países do Cone Sul, o percentual chegará a 90% em 2020. Nos últimos 50 anos, o número de cidades aumentou seis vezes na região. As cidades são responsáveis por quase dois terços do PIB regional. Nesses países, as economias das 40 maiores cidades movimentam US$ 842 bilhões.

Desde 1970, a renda per capita da América Latina e do Caribe quase triplicou, mas o meio urbano ainda enfrenta grandes desafios, aponta o estudo. As condições de habitação se agravaram nas duas últimas décadas. Entre a população urbana, 111 milhões de pessoas vivem em habitações precárias, semelhantes a favelas, nos países latino-americanos e caribenhos, número superior ao verificado 20 anos atrás.

"A favelização na América Latina não é mais rápida que a média mundial, mas é suficientemente rápida para ser preocupante", diz Vittrup. Segundo a ONU, a oferta de habitações nas cidades da região ainda é inferior à demanda.

Ao todo, 74 milhões de pessoas não possuem acesso a saneamento adequado. Já os avanços no abastecimento de água são mais significativos. Com 92% da população urbana servida por água encanada, a região já alcançou as metas fixadas pelos Objetivos do Milênio.

A região vive um momento "extremamente interessante", que permite enfrentar os desafios das grandes cidades, aponta o representante das Nações Unidas. Vittrup destaca o desenvolvimento econômico e a solidificação da democracia como pontos positivos no continente. Para ele, o Brasil tem exemplos a serem seguidos na gestão das cidades, como o modelo de transporte de Curitiba, o projeto de inclusão social nas favelas do Rio e o orçamento participativo, criado em Porto Alegre.