Título: 'Pior de tudo foi ter de voltar para trás'
Autor: Zanatta, Mauro
Fonte: Valor Econômico, 10/10/2006, Agronegócios, p. B12

Apesar das restrições às exportações de carne bovina brasileira por causa do ressurgimento da febre aftosa há um ano, as vendas externas vêm apresentando desempenho positivo. Mas poderiam ser melhores. Os volumes embarcados estão praticamente estáveis em relação a 2005, enquanto as receitas cresceram, resultado também do próprio embargo à carne brasileira que reduziu a oferta do produto no mercado externo.

"A pergunta é quanto deixamos de ganhar", resume Antônio Camardelli, diretor-executivo da Associação Brasileira da Indústria Exportadora de Carne (Abiec). Segundo ele, a previsão inicial da Abiec era um incremento entre 10% e 15% na quantidade e na receita com as vendas em 2006 sobre o ano passado, quando somaram 2,390 milhões de toneladas (equivalente-carcaça) e US$ 3,148 bilhões, respectivamente.

Entre janeiro e setembro deste ano, os embarques de carne bovina (in natura, industrializada e miúdos) alcançaram 1,745 milhão de toneladas (equivalente-carcaça), 3,57% mais do que no mesmo período de 2005. A receita somou US$ 2,793 bilhões no período, uma alta de 17,58%, segundo dados divulgados ontem (dia 10) pela Abiec.

Na visão de Camardelli, o "maior prejuízo foi ter de voltar para trás" em negociações que estavam em curso, como a da exportação de carne bovina in natura para o mercado americano. Quando a aftosa ressurgiu o processo de análise de risco do produto brasileiro foi interrompido.

Paulo Molinari, analista da Safras&Mercado, acredita que se não fosse o embargo ao produto nacional, as exportações de carne bovina poderiam alcançar 2,6 milhões de toneladas este ano.

Um verdadeira "campanha" negativa contra a carne brasileira após a aftosa na Europa, capitaneada pela Irlanda também atrapalhou as exportações do Brasil, avalia Jerry O'Callaghan, da Coimex.

Além dos volumes exportados abaixo do esperado, outro efeito dos embargos foi a valorização dos preços da carne, já que a oferta brasileira ficou mais restrita. Fabiano Tito Rosa, da Scot, observa que a tendência de valorização já existia mesmo antes da aftosa e dos bloqueios, mas se acentuou.

O preço médio da carne in natura na exportação, por exemplo, ficou em US$ 2.503,78 por tonelada entre janeiro e setembro deste ano, alta de 13,60%. Considerando apenas o mês de setembro, a cotação média ficou em US$ 2.766,43, alta de 23,77%.

De acordo com Camardelli, essa valorização pode ser explicada pela diminuição da oferta brasileira e também de outras origens, como Argentina e Austrália.

De uma maneira geral, os frigoríficos exportadores conseguiram driblar os embargos redirecionando a produção para outras unidades. Isso reduziu o impacto do bloqueio.

Mesma sorte não tiveram os exportadores de carne suína. As vendas externas entre janeiro e setembro caíram 21,60%, para 371.291 toneladas e as receitas recuaram 18,31%, para US$ 725,625 milhões. "O problema do suíno é ter um único comprador", disse Molinari, referindo-se à Rússia, que mantém proibidas as compras de carne suína de São Paulo, Santa Catarina, Minas Gerais, Goiás, Paraná e Mato Grosso do Sul. (AAR)